O texto a seguir foi adaptado de um breve bate-papo realizado na reunião do Gospel Coalition em Oklahoma (Oklahoma chapter of The Gospel Coalition) no dia 2 de outubro de 2013. Aqui estão 10 coisas que eu queria ter sabido quando comecei no ministério.
1. Gostaria de ter sabido que pessoas que discordam de mim quanto a doutrinas que prezo frequentemente amam a Deus e perseguem a sua glória com tanto, e em alguns casos até mais, fervor quanto eu. O tipo de orgulho intelectual que alimenta tais ilusões pode ser devastador para o ministério e invariavelmente menosprezará qualquer esforço em prol de uma união cristã abrangente que ultrapassa barreiras denominacionais.
2. Gostaria de ter sabido sobre a frustração inevitável que surge quando você deposita a sua confiança no que você considera serem boas razões para pessoas serem leais ao seu ministério e frequentarem a sua igreja. Eu queria ter sido preparado para enfrentar o sentimento de traição e desilusão que acompanham a saída de pessoas em quem depositei tanto amor, tempo e energia, frequentemente com as justificativas mais incoerentes e desculpas nada convincentes.
3. Gostaria de ter sabido o quão profunda e incessantemente muitas (senão a maioria?) pessoas sofrem. Por ter sido criado numa família verdadeiramente funcional onde todos conheciam a Deus e amavam um ao outro, eu estava em grande parte alheio à dor enfrentada pela maioria das pessoas que nunca conheceram essa bênção. Por mais anos que gostaria eu assumi, ingênuamente, que se eu não estivesse sofrendo, eles também não estariam. Eu queria ter tido a noção de que o púlpito não é um lugar para se esconder dos problemas e da dor da sua congregação; é um lugar para abordar, comiserar e aplicar a Palavra de Deus a eles.
4. Eu queria ter conhecido a verdade revolucionária de Sofonias 3.17 muito antes de Dennis Jernigan me apresentá-la. Sinto-me honrado quando pessoas me agradecem por ter escrito um livro com comentários do tipo “Isso me ajudou muito” ou “Você me capacitou a enxergar esta verdade sob uma nova ótica”, ou semelhante. Mas somente de um único livro, The Singing God (O Deus que canta), pessoas me disseram: “Isso mudou a minha vida”. Esta não é uma tentativa orgulhosa de vender mais livros, e sim um lembrete de que a maioria dos cristãos (até mesmo pastores) estão convencidos de que Deus ou tem raiva ou nojo dele, ou ambos. Eu queria ter sabido mais cedo o quanto Ele se regozija neles (e em mim).
5. Gostaria de ter sabido o quanto as respostas de pessoas a mim afetariam a minha esposa. Por vários anos eu presumi falsamente que a “casca” dela fosse tão grossa como a minha. Independente da personalidade de uma mulher, é raro ela sofrer menos que ele com as críticas dirigidas ao seu marido.
6. Gostaria de ter sabido o quão vital é entender a si mesmo e ser tanto realista quanto humilde em relação ao que descobrirá. Não tenha medo de ser introvertido ou extrovertido (ou até uma mistura dos dois). Esteja disposto a dar passos para compensar suas fraquezas ao se cercar de pessoas diferentes, que suprirão as suas deficiências e que lhe desafiarão de maneira saudável a ser sincero sobre o que você consegue ou não consegue fazer.
7. Gostaria de ter sabido que é possível ser completamente e biblicamente complementarista e incluir as mulheres virtualmente em todas as áreas do ministério local. Nos primeiros anos do ministério, eu era em grande parte governado pelo medo de que permitir que uma mulher participasse de qualquer ministério era infringir um limite imaginário bíblico – apesar de a Bíblia nunca impor tal restrição no seu envolvimento. Eu tinha a tendência de fazer aplicações infundadas ao extrapolar, com base em princípios explícitos, algo que era ou ausente ou desnecessário. À parte de uma autoridade governamental regente na igreja local (o papel de um ancião) e a responsabilidade primária de expor e aplicar as Escrituras, há alguma coisa que a Bíblia diz claramente estar proibida às mulheres? Confie em mim, homens, precisamos delas mais do que sabemos.
8. Gostaria de ter sabido que não tem nada de errado em falar sobre dinheiro. Não tenha medo de falar sobre dinheiro. Apenas lembre-se de ser humilde e bíblico, e não o faça tendo em vista um aumento de salário para si mesmo (a não ser que você verdadeiramente e desesperadamente precise dele). Por muito mais tempo do que deveria, permiti que o meu desdenho pela teologia da prosperidade advogasse contra mim e me silenciasse quanto à importância da mordomia financeira para o crescimento e a maturidade cristã. Não formulei uma estratégia para chamar pessoas a uma generosidade financeira vitalícia sem parecer interesseiro.
9. Gostaria de ter sabido a respeito da ilusão da dita confidencialidade. Tenha pena do homem que deposita sua confiança na confidencialidade. Você pode e deve controlar a informação que chega até você, mas você nunca pode controlar a informação que vem de você. Uma vez que informação é compartilhada e está nas mãos de outros, nunca presuma que ela permanecerá com a pessoa, a despeito de suas mais vigorosas promessas de sigilo. Seja cauteloso e tenha discernimento em relação a quem você confia, sob quais condições (raramente ou quase nunca é incondicional) e referentes a quais assuntos ou pessoas. “Sam, você não parece crer muito na natureza humana, não é?” Não é que eu não confie na natureza humana. Aliás, ela me aterroriza! Creio somente no ensino das Escrituras a respeito da natureza humana.
10. Gostaria de ter sabido a respeito dos efeitos devastadores da insegurança num pastor. Isso é menos por conta de ter lidado com isso pessoalmente e mais devido aos efeitos que já vi em outros. Por que a insegurança é tão prejudicial?
• A insegurança dificulta o reconhecimento e a apreciação dos feitos e realizações de outros da equipe (ou da congregação). Ou seja, o pastor inseguro sobre si mesmo frequentemente é incapaz de oferecer um encorajamento genuíno aos outros. O sucesso deles torna-se uma ameaça a ele, à sua autoridade e ao seu status aos olhos das pessoas. Logo, se você é inseguro, dificilmente orará para que outros cresçam.
• A insegurança levará um pastor a encorajar, apoiar e engrandecer outro pastor somente na medida em que este servir a sua agenda pessoal e não diminuir a sua imagem.
• Um pastor inseguro provavelmente ressentirá o louvor e reconhecimento que outros membros da equipe receberem de pessoas em geral.
• Para o pastor inseguro, a crítica construtiva não é bem recebida, mas percebida como uma ameaça ou rejeição absoluta.
• Pelo fato de o pastor inseguro ser incapaz de reconhecer suas próprias falhas ou falta de conhecimento, ele é frequentemente impossível de ser ensinado. Ele resistirá àqueles que sinceramente queiram lhe ajudar ou trazer informações e percepções que lhe faltam. Seu crescimento espiritual, portanto, é inviável.
• O pastor inseguro geralmente lida com outros de maneira brusca e autoritária
• O pastor inseguro geralmente é controlador e não delega funções.
• O pastor inseguro raramente qualifica ou autoriza outros a assumir tarefas para as quais são especialmente capacitados ou dotados. Ele não liberará outros, mas os reprimirá.
• O pastor inseguro é frequentemente dado a surtos de ira.
• Em seu âmago, a insegurança é fruto do orgulho.
Resumindo, em seu âmago, a insegurança é resultado de uma descrença no Evangelho. O antídoto para o sentimento de insegurança é, portanto, um firme e sólido reconhecimento de que o valor e o mérito de uma pessoa estão nas mãos de Deus, não de outros, e que a nossa identidade expressa quem somos em Cristo. Somente quando nos aprofundamos na apropriação do amor sacrificial de Deus é que encontraremos a confiança libertadora para reconhecer e apoiar outros sem temer seu sucesso ou ameaça.
Nota – Abertos para Reforma: texto traduzido com autorização de The Gospel Coalition, publicado originalmente no dia 03 de janeiro de 2014 aqui.