Quando você pensa na figura do professor, o quem vem à sua mente em primeiro lugar? Para muitos, a imagem de um ser estudando, com a escrivaninha repleta e cercado por estantes de livros, solitário em uma biblioteca imponente; outros ainda imaginam alguém corrigindo provas, ou escrevendo no quadro. O objetivo deste texto é tratar de um aspecto incrivelmente relegado na vocação do magistério: o relacionamento.
O poeta inglês John Donne é conhecido pelos seguintes versos:
Nenhum homem é uma ilha, inteira de si mesma;
todo homem é um pedaço do continente, uma parte do principal;
se um torrão for lavado pelo mar, a Europa é a menos,
assim como se um promontório fosse,
assim como se uma mansão de tua amiga ou de tua era;
a morte de qualquer homem me diminui,
porque estou envolvido com a humanidade e, portanto,
nunca mando saber quem é o sino do sino;
isso te mata.
Nenhum professor é uma ilha. O momento recluso, o chamado “tempo de biblioteca” sem dúvida é indispensável na vida e formação do mestre, mas é preciso reconhecer que boa parte relevante de seu trabalho e vocação tem a ver com a relação com os demais atores envolvidos no processo de ensino/aprendizagem. A própria essência do magistério ficaria prejudicada se não houvesse o aspecto relacional.
Em primeiro lugar, o professor se relaciona com seus superiores. Seja na igreja, com o líder do ministério e os pastores, ou mesmo na profissão, com diretores e coordenadores acadêmicos. Um bom relacionamento nesse âmbito facilita o trabalho dentro de sala. É extremamente necessário haver uma sintonia entre ambas as partes, para que o currículo, suas ênfases e conteúdo estejam bem alinhados, e não haja falha de comunicação no que a liderança do processo está pensando e o que os mestres estão executando junto aos alunos.
Ainda, o professor se relaciona com seus colegas de vocação. Ninguém consegue ensinar tudo, com toda a qualidade, durante todo o tempo. Ser um bom mestre é reconhecer que necessita de outros mestres, que conhecem mais que você em outras áreas específicas. Além disso, a diversidade de mentes, e consequente variação na didática, abordagem, experiências de vida, torna a experiência do aprendizado algo muito mais rico. Precisamos dos nossos colegas professores, para que juntos proporcionemos o melhor do ensino a nossos alunos.
Por último, e talvez o mais importante, está a relação do professor com seus alunos. Quando se inicia uma relação dessa natureza, não há outra opção para os alunos senão comprar o “pacote completo”: eles não recebem apenas um emissor de informações aleatório e impassível, mas junto da transmissão do conhecimento vem, de brinde, a própria pessoa do professor, sua personalidade, suas características, peculiaridades. Ensinar parte, dentre outras coisas, de um bom relacionamento entre as partes envolvidas.
Quantos de nós não temos exemplos de professores inesquecíveis, que por vezes até lecionavam assuntos difíceis e intragáveis, mas a sua forma de tratar com os alunos tornava a aula mais leve e prazeroso. Isso é o que o relacionamento faz: aproxima os alunos do conteúdo a ser ensinado ao serem aproximados a você.
Você é um meio importantíssimo para que a finalidade seja alcançada.
Não menospreze a influência do relacionamento no processo de ensino. Isso exige de nós algo por vezes incômodo: exposição, envolvimento, se importar além do tempo de sala de aula. Mas é certo que tal esforço vale a pena, uma vez que a vocação do magistério faz com que nos entreguemos integralmente, seja nas horas solitárias de biblioteca e leitura, seja nos relacionamentos. Deus abençoe a sua vida!