Início / Artigos / Por que há tantos pastores ruins?

Por que há tantos pastores ruins?

De uns tempos para cá tenho visto, com uma incredulidade cada vez maior, um fenômeno que me força a fazer esta reflexão. Minha incredulidade se resume a isto: será que há tantos pastores ruins e tão poucos bons pastores neste nosso Brasil, meu Deus?!

Pergunto isso (primeiro a mim mesmo e, em segundo lugar, de modo mais temático) porque na blogsfera-internet-facebook-twitter-cultura (neologismo meu, confesso) o consenso parece ser o de uma condenação generalizada da categoria. Anteontem foi o Dia do Pastor. Mas, será que resta o que celebrar? Pelo que leio por aqui, poderíamos muito bem chamar a data de O Dia do Farsante.

O clero anda em baixíssimo conceito com os internautas. Será que é o caso entre os que não navegam pelos fios óticos e wi-fis deste mundo virtual? Não sei. Sinceramente, não sei. Mas, já que estou aqui na blogsfera, lá vai a minha reflexão para quem compartilha do universo virtual.

Primeiro, quero afirmar que conheço muitos pastores. Muitos dos que conheço são bons pastores. São pessoas movidas por um desejo de servir a Deus (pelo menos é como eles começaram). Há um desnível de preparo e oportunidade entre eles, claro. Mas há uma motivação inicial que me parece uma regra. Cada um se sentiu chamado por Deus para servi-lo e, consequentemente, alimentar as suas ovelhas.

Há maus pastores, confesso. Creio que nem todos têm um pastor em quem podem confiar, a quem recorrer ou de quem sequer têm orgulho de ter como o seu pastor. E, sabendo desse fato, creio ser importante pontuar algumas razões para isso.

Há muitos pastores no Brasil, hoje, que não foram bem preparados para o ministério. Alguns foram criados em situações que sequer exigia um ensino ou treinamento (teológico, bíblico ou ministerial). Bastava “levar jeito” pra esse “negócio” e logo foram promovidos para ocupar lugares para os quais não têm a menor noção do que se trata. Sem preparo teológico, bíblico ou ético, acabaram lançando mão de qualquer maluquice que parece “dar certo”. Fizeram correntes de toda sorte. Suas mensagens não passam de capítulos de livros que leram ou que estão na moda, como: prosperidade, guerra espiritual, conquista de cidades ou coisa parecida.

Vivem de campanha em campanha e querem criar uma “grande obra” para a glória de Deus. Essa “grande obra” (geralmente um prédio ou um programa de TV, rádio ou algo parecido) não passa de uma fonte de enorme despesa que vai sacrificar o povo, que é visto como fonte de muito lucro. Para tanto, precisam de cada vez mais povo. E para que tenham isso, vão ter que lançar mão de mensagens e promessas que atraem esse povo (se chamarem um dos cantores “gospel” ou o coral das crianças for posto para cantar, também funciona).

O balcão de ofertas abre, a birosca fica aberta e o povo vem. Com as músicas da hora, os jovens berram ao microfone, de olhos fechados (claro, porque precisam demonstrar que estão no enlevo), e todos assistem atônitos às versões locais e genéricas dos superastros da música gospel. É quase cómico, se não fosse tão trágico.

Por sua vez o pastor tem que assumir ares de “Grande Servo do Senhor”, chegando a ter que se autodenominar “Apóstolo”, “Profeta”, e só falta alguém se declarar o “Quarto Membro da Santíssima Trindade”. É uma igreja em agonia. Seus gritos e gemidos (que muitos acham serem sinais de “poder”) só denunciam a falta de vida real íntima com Deus, e conhecimento profundo das Escrituras (que é a obrigação de qualquer um que se propõe a ser um obreiro aprovado).

Por outro lado (e agora me remeto ao extremo oposto), há homens extremamente bem preparados nas Sagradas Letras. Mas sua vida ministerial é sujeita a um regime massacrante de comitês, relatórios e avaliações. Se lançaram no serviço do Senhor, mas se acham hoje como serviçais de leigos que nunca deveriam ter o poder sobre eles que têm.

Compaixão é uma das vítimas dessas estruturas. O pastor teme pelo bem-estar da sua família: sua esposa, que é duramente cobrada pelas irmãs da igreja; seus filhos, que são maltratados na escola por serem os filhos do pastor, mas que são cobrados pelos seus pais na igreja (pois, se pisarem fora da linha, o comitê talvez não renove o contrato e aí fazer o quê? Vai botar comida na mesa como?) Mesmo empregados, os pastores são mal, mas muito mal remunerados – pois, afinal, existem tantos “marajás” no ministério, mas “aqui não!”. Entre os oportunistas marajás e os bons servos que são reduzidos ao medo e mendicância para poderem pastorear, não me admiro que haja tão poucos bons pastores. Os poucos que vencem o sistema são os vitoriosos e poderosos, que acabam sentando em comitês denominacionais, envergando um poder político além da sua igreja local, e que acaba redundando num prestígio cada vez maior, para assegurar a sua longevidade no púlpito local. É a morte.

Os sistemas, as estruturas e as políticas eclesiásticas não permitem que haja bons pastores. Não comportam líderes de verdade. Os maus se dão bem em sistemas que não exigem política. Com o seu talento de convencimento, o povo vem, sofre, mas apanha por achar que tem que ser assim. Enquanto há bons pastores que são esmagados por sistemas vítimas da nefasta politicagem eclesiástica.

O povo dessas igrejas fica sem pastor, que de fato está na mão de leigos. Ou o povo fica nas mãos de lobos e anticristos que, com charme, lábia e encenações de “unção” lideram para o seu próprio enriquecimento. E os bons pastores ficam sem púlpito e seus filhos abandonam a igreja (pois viram como ela esmagou os seus pais), deixando pai e mãe de coração partido, pois o eles que mais queriam era ver seu filhos seguindo nos caminhos de Deus.

O coração dói. Os anjos choram. O Corpo de Cristo sangra. Pastores fogem do ministério e vendem seguros ou recorrem a uma capelania. E a blogosfera registra o fel dos que queriam algo mais. Queriam líderes que manifestassem devocionalidade sem afetação, liderança sem abuso, compaixão sem politicagem, ensino das Escrituras sem modismos. E os pastores queriam apenas um lugar onde pudessem alimentar as ovelhas, pois, como Pedro, confessam o seu amor pelo Mestre.

Conheço bons homens assim. Tenho o privilégio de liderar muitos deles. Vejo o povo que pastoreiam feliz, com prazer em se reunir para louvar a Deus, e alimentados pela Bíblia. Mas o coração pesa. Ouço o choro de muitos, o lamento dos desigrejados (os que fugiram para não morrer) e já vi pastores de joelhos aos prantos pelos filhos perdidos no mundo. Não bastasse o dano, vejo que ainda muitos lobos patrulham a blogosfera e os escombros da Igreja de Cristo, tentando abocanhar os que vivem desgarrados do rebanho, com palavras suaves e antigas heresias requentadas e vendidas como algo novo e relevante. Se tão somente tivessem um bom pastor, que desse a sua vida pelo rebanho! Se tão somente os bons pastores achassem um lugar para servir com pureza de coração!

Ah, Senhor da seara, vivifica a Tua Igreja – Noiva do Cordeiro e Corpo de Cristo – “a plenitude daquele que enche todas as coisas, em toda e qualquer circunstância” (Ef 1.23). Tem misericórdia de nós e vivifica-nos, Pai.

Na paz,

+W

Leia também

leia+6

A leitura inspecional Parte 3 | por Gabriel Carvalho

Dando sequência à nossa série de textos “Leia mais e melhor”, finalizaremos neste texto as …

  • Bispo Walter…Passando apenas para dizer-lhe que sua resposta foi compreendida. Confesso ter lido estas linhas com um nó na garganta…

    Paz e bem Bispo Walter. Prossigamos combatendo o bom combate. Guardando a fé em lugar especial.

  • Bem triste ler esse texto. Sou filha de pastor e posso afirmar que esse sofrimento pertence não só aos pastores de boa fé, boa indole, mas também a toda a família desses poucos, raros e grandes homens de Deus. Meu pai já falecido era pouco lembrado nessa data. Os próprios membros da igreja não se lembravam da data em muitos anos, via o olhar triste dele… e olha que já fazem 8 anos de sua morte.
    A desvalorização não vem de hoje. Satanás, com a ajuda dos homens consegue aviltar a imagem de Deus e dos seus servos na face da terra. Uma grande lástima. Eu pessoalmente, no alto dos meus 36 anos, sinto uma grande frustração ao pensar sobre isso. Tens companheiros nessa frustração.
    Que Deus fortaleça suas mãos e coração Pr. Walter. Continue trilhando seu caminho, seu propósito com excelência. Pouco conheço seu trabalho e história, entrei aqui por acaso, através do Twitter.
    Cito uma frase que ouvi hpa poucos dias atrás, do Pr. Ed René Kivitz:
    “Raros são os homens que não têm preço.”
    De fato, raros são esses grandes homens.

  • a pergunte que es vezes faço é: até que ponto existe cura para essa igreja? Sabe, parece aquela história do homem que está tentando vender o carro que só precisa fazer o motor, alinhar, balancear, trocar amortecedor, lanternar. Como e por que fazer o possível comprador se convencer que ele precisa comprar esse carro, se em linhas gerais seu carro atual (vida) é pouco diferente. A diferença é que sem esse carro novo ele não “entra no céu”. O sistema “igreja” como citado no 11° parágrafo se parece com o que se chamava antes de “mundo”. Um sistema de coisas, viciado onde os ruins assim o são por si e pelo sistema inserido e os bons são escravizados e desfigurados pelos ruins. Por que esse ministério tem que continuar entre essas quatro paredes onde não bate sol, onde não cresce? não entendo o porque de “ter que permanecer” nessa formatação, mesmo que se mutilando. Por que então não viver a liberdade encontrada no evangelho? Por que esses homens não optam para ser diferentes? ”veja ali a água, o que me impede de ser batizado?” desculpe, pelo comentário gigante, não tem intenção de parecer uma réplica. É apenas um coração cheio…. um abraço.

  • Ponderações importantes, Bruna. De fato, tenho falado que o sistema atual está falindo. Foi o que falei no meu livro O Fim de Uma Era. Estamos trabalhando. Há muitos repensando tudo. Mas há tantos que simplesmente não questionam e acham que tem que ser assim. Creio que já há um movimento no sentido de rever tudo e fazer algo a respeito. Sei que eu estou.

  • Começo o meu comentário com uma pequena crítica construtiva, o internauta que deu a opinião e Bruno e não Bruna, talvez o bispo teclou a letra errada.
    Mas, vamos a pergunta dos pastores ruins. No meu entendimento, a unção de humana. Hoje se vê muito nas igrejas a seguinte formatação:
    Pastor, ordenado por um amigo.
    Pastora, esposa do pastor.
    Diáconos, ou e irmão do pastor ou parente próximo ou amigo que concorda com o que o pastor prega.
    Líderes, todos concordantes com o pastor, não existe mais líderes que discordem da pregação do pastor “Jesus”, hipócritas, na igreja atual Jesus seria banco.
    Essa igreja e então totalmente humana.
    A igreja primitiva só não ficou totalmente humana, porque Seus mandou escolheram homens que fosse primeiramente espirituais. Naquela ocasião foram escolhidos sete homens, creio até que alguns por política ou aproximação de parentesco, mas, como Seus mandou o povo escolher, veio no pacote da igreja um espiritual, Estêvão, mas, essa mesma igreja o rejeitou e matou essa vontade de Deus, que a igreja deveria, sempre ser principalmente espiritual.
    Dai a igreja dos nossos dias, ter o formato escolhido pelo homem, escolha da política, da amizade, e da proximidade de parentesco, sem espiritualidade, portanto com pouca qualidade divina, essencialmente humana.
    Concluindo assim, muito pastor ruim dirigindo.
    Simples assim? E simples assim.
    Seus nos ajude.

  • Desde a infância convivo no meio evangélico, devo dizer que homens assim não fizeram estrago algum em mim, pois o Senhor já havia me direcionado para um lugar melhor antes que o pior ocorresse. Congrego em uma igreja(ICNV) onde a sua palavra é ensinada e a seriedade de uma vida com Cristo em Santidade pregada.
    É realmente muito triste ver quantos ficam pelo caminho, tristes e decepcionados antes mesmo que possam conhecer o verdadeiro evangelho, quando não apostatam de vez da fé por parar de olhar para o alto de onde vem o nosso socorro.
    Oremos ao Senhor para que Ele tenha misericórdia da sua Igreja. Ele conhece os que lhe pertecem, pois foram dados pelo Pai.

    a Paz!

  • Realmente, o que tenho visto nas igrejas são muitos Gerentes e poucos Pastores.
    Mais preocupados com metas, números de clientes (membros), e o lucro.
    Muitos são consagrados sem avaliar o que está em I Timóteo Cap. 3, e dão mal testemunho.
    Na verdade, não são líderes, não tem empatia pelas ovelhas e só visitam os ricos.

    Fiquem na paz e crendo que existem sim, bons pastores.

  • o senhor nos avisou destas coisas,.não vou julgar,mas quero ver no grande dia parece que os irmão não pensam nisso ou não acredita nesse dia vira como ladrão.