Em certa medida, a palavra “milagre” é usada de maneira indiscriminada para descrever todo tipo de coisa, desde curar um paralítico até encontrar uma vaga de estacionamento no shopping center na véspera de Natal. Qual seria uma boa definição prática e bíblica de milagre? Max Turner, professor de Novo Testamento no London Bible College, usa o termo no sentido semitécnico de um evento que reúne as seguintes características:
- É um evento observável extraordinário ou surpreendente;
- Não pode ser explicado de modo racional em termos de capacidades humanas ou outras forças conhecidas no mundo;
- É percebido como um ato direto de Deus; e
- É habitualmente entendido como tendo valor simbólico ou sinalizador (por exemplo, aponta para Deus como redentor e juiz).
Parte do problema é que muitos cristãos imaginam Deus como alguém que está distante do mundo — afastado de qualquer envolvimento direto e diário em suas vidas. Contudo, inúmeros textos afirmam o envolvimento imediato de Deus em tudo, desde o crescimento de uma folha de grama (ver Sl 104) até a sustentação da nossa própria vida (ver At 17; Cl 1.17). Por esse motivo, precisamos rejeitar a definição de milagre como uma intervenção direta de Deus no mundo. A frase “intervenção… em” implica que Deus está fora do mundo e só se intromete em seus assuntos ocasionalmente.
Alguns definem um milagre como o ato de Deus trabalhar no mundo independentemente de meios ou instrumentos que produzam o resultado desejado. Muitas vezes, porém, Deus usa instrumentos para a realização de coisas milagrosas, como no caso de Jesus alimentando cinco mil pessoas por meio da multiplicação do almoço de um menino.
Outros definem um milagre como Deus agindo de modo contrário à lei natural. Mas isso implica afirmar que existem forças (leis naturais) que operam independentemente de Deus — forças ou leis que Deus precisa violar ou transpor para realizar um milagre. Mas Deus é o autor e o Senhor providencial de todos os processos naturais.
Wayne Grudem propôs uma definição que previne contra o vírus do deísmo ao mesmo tempo em que procura manter-se fiel às Escrituras: “Um milagre”, diz Grudem, “é um tipo menos comum da atividade de Deus no qual Ele desperta o respeito e a admiração das pessoas, e dá testemunho de si mesmo”. O que é importante lembrarmos é que, não importa a maneira como definimos milagre, não podemos pensar que um milagre significa que um Deus geralmente ausente está presente a partir desse momento. Ao contrário, o Deus que está sempre presente em toda parte, mantendo, sustentando e dirigindo todas as coisas para a sua consumação destinada, está operando de uma forma surpreendente e desconhecida no momento do milagre. Isso também nos ajuda a responder à pergunta: “Respostas incomuns à oração são milagres?” Eu diria que sim, se essas respostas forem incomuns o suficiente a ponto de despertarem temor e admiração, promovendo o reconhecimento do poder e da ação de Deus (por exemplo, 1 Rs 18.24,36-38; At 12.5-17; 28.8).
Para aprender mais recomendamos a leitura do livro “Dons Espirituais: uma introdução bíblica, teológica e pastoral”, de Sam Storms. O autor aborda 9 dons espirituais de 1 Coríntios 12 e nos traz um exame bíblico do asssunto, assim como relatos verídicos de experiências com os dons espirituais. Saiba mais.