O que é mundanismo? Sempre ouvimos falar sobre esse conceito, mas para muitos ele não está totalmente claro. Há uma passagem na Bíblia que nos permite compreendê-lo plenamente, se a examinarmos com atenção: Mateus 16. O relato nos conta que, certo dia, Jesus perguntou a seus discípulos quem os outros pensavam que ele era de fato. Havia teorias. Como tinha realizado feitos extraordinários – alimentado multidões pela multiplicação de poucos pães e peixes, curado toda sorte de enfermidade e ensinado com uma autoridade e uma ousadia que nenhum fariseu ou escriba demonstrara – para alguns ele era um profeta. Aliás, muitos o viam como Elias retornando do Céu ou João Batista ressuscitado. Como sempre acontece com o povo, pessoas sobre quem se ouve falar mas não se conhece de fato acabam sendo alvo de muitas interpretações e informações equivocadas.
É claro que Jesus já sabia de tudo isso. Mas ele dirigiu a pergunta aos discípulos com outro propósito. Ele os estava preparando para o que viria em seguida: uma explicação sobre a necessidade de haver traição, paixão, crucificação e ressurreição. O Mestre prosseguiu e lhes perguntou quem eles diziam ser o Filho do homem. Não importava o que “todos” diziam a seu respeito. Agora, o Senhor os chamou para uma confissão pessoal sobre quem seria o seu mestre. Pedro, como era o costume, respondeu, provavelmente em nome de todos: “Tu és o Cristo, o filho do Deus vivo”. Jesus replicou que Pedro não teria como saber aquilo por raciocínio humano. Essa visão a respeito dele não vinha do mundo, fruto de observação, nem tampouco da lógica humana: tinha de ser concedida por Deus Pai.
Em outras palavras, Pedro e os outros tinham se tornados participantes de um tipo de conhecimento que humanamente seria impossível de se obter. Longe de ser um elogio, Jesus mostrou que a fala de Pedro não partiu dele e, portanto, o responsável por tal conhecimento era Deus. O mérito era de Deus. A glória de se saber aquilo achava sua origem em Deus. Literalmente, Pedro tinha sido agraciado com conhecimento espiritual. Sua mente continha saber do alto. Pedro foi declarado “feliz” – ou bem-aventurado – pelo Mestre e ouviu duas realidades: ele receberia as chaves do Reino e aquilo que ligasse na terra seria ligado no Céu. Ou seja, com aquele conhecimento veio autoridade.
Os discípulos estavam prontos para ouvir. Jesus, então, continuou, explicando como seria necessário que sofresse e morresse, preso a mando dos líderes religiosos de Israel. E terminou afirmando que, no terceiro dia, após a sua morte, ressuscitaria dos mortos. Parece que Pedro não ouviu até o fim. Não conseguiu pensar além da parte trágica. Num ímpeto, muito típico do pescador bruto, bradou, “Nunca Senhor, nunca te acontecerá!”. Ele quis ser humano. Quis ser mais misericordioso do que Deus. Quis poupar aquele a quem amava justamente daquilo que motivou sua vinda à terra. Mas Jesus foi taxativo: “Para trás de mim, Satanás! Você é uma pedra de tropeço para mim, e não pensa nas coisas de Deus, mas nas dos homens”.
Esta resposta é a chave para entendermos o que vem a ser mundanismo. Tudo o que contraria a vontade de Deus é humano e, em última análise, satânico. Por mais razoável que possa nos parecer, qualquer coisa que vai contra os planos do Senhor é humano, satânico e, assim, mundano.
Mundanismo não é necessariamente o modo de pensar de pessoas vis e claramente más. Mundanismo pode parecer muito simpático, charmoso e até perfeitamente razoável. Inversamente, aquilo que é divino, que tem a mente de Cristo, pode parecer radical, pouco razoável, estranho e um contrassenso. Como cristãos, somos repetidamente admoestados a termos um modo de pensar que não seja enraizado nos preceitos que governam este mundo em que vivemos:
“Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem- se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12.2).
“Portanto, já que vocês ressuscitaram com Cristo, procurem as coisas que são do alto, onde Cristo está assentado à direita de Deus. Mantenham o pensamento nas coisas do alto, e não nas coisas terrenas. Pois vocês morreram, e agora a sua vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, que é a sua vida, for manifestado, então vocês também serão manifestados com ele em glória.” (Cl 3.1-4)
Por pertencer a Cristo, é absolutamente necessário que aprendamos a pensar como Ele pensa! Só que isso é um desafio muito mais difícil do que a grande maioria imagina, visto que somos catequisados por este mundo constantemente. Vou usar apenas um exemplo: filmes. Esse tipo de entretenimento é, quase na sua totalidade, construído pela contemplação do mal, de onde tiramos uma experiência prazerosa. O humor do mundo é sujo, jocoso, humilhante e irreverente. O drama deste mundo é torpe, um caldo de valores claramente contrários ao modo cristão de pensar. Filme de ação é um termo que descreve violência. Sim, porque que ação é essa? Assassinato, crime e crueldade. Romance é um gênero de entretenimento que não respeita os conceitos cristãos de sexualidade, fidelidade ou reverência pela imagem e semelhança de Deus no nosso próximo. Frequentemente o casal que acabou de se conhecer acorda na cama e leva um dos dois a se perguntar: “Será que achei o amor da minha vida, afinal?” Já vimos isso tanto que até o “cristão” sorri e acha lindo esse sentimento.
Ou seja: nos deleitamos em assistir ao pecado, ao mundo e a tudo o que ele nos ensina. Deleitamo-nos sim. É nossa maneira de “relaxar”, de espairecer. Não é à toa que nossa mente esteja tão dividida. Não é por menos que lemos o Sermão no Monte e o achamos tão radical ou idealista. Simplesmente não pensamos como discípulos de Cristo. Consideramo-nos discípulos, mas não somos discípulos. Paulo resume a maneira de que devemos pensar para sermos verdadeiros cristãos.
“Finalmente, irmãos, tudo o que for verdadeiro, tudo o que for nobre, tudo o que for correto, tudo o que for puro, tudo o que for amável, tudo o que for de boa fama, se houver algo de excelente ou digno de louvor, pensem nessas coisas. Ponham em prática tudo o que vocês aprenderam, receberam, ouviram e viram em mim. E o Deus da paz estará com vocês” (Fl 4.8,9).
Estamos muito aquém disso. Mas podemos mudar. Temos que mudar. Temos que nos livrar desta geração perversa e nos consagrar, pois só existe um Deus verdadeiro. Temos que abraçar o brado de Israel, o shema:
“Ouça, ó Israel: O Senhor, o nosso Deus, é o único Senhor. Ame o Senhor, o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todas as suas forças. Que todas estas palavras que hoje lhe ordeno estejam em seu coração. Ensine-as com persistência a seus filhos. Converse sobre elas quando estiver sentado em casa, quando estiver andando pelo caminho, quando se deitar e quando se levantar…” (Dt 6.4-9).
Estamos sempre ouvindo, sempre. Só que ouvimos a voz de Deus ou a voz dos homens, que Jesus chamou de satânica.
Meu Deus, ajude-nos a fazer algo a esse respeito e com urgência! Não queremos ser mundanos. Pois não pertencemos a este mundo, mas àquele que nos salvou!
Na paz,
+W