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fé em Deus

Análise bíblica da fé como dom de Deus

Por Sam Storms

Analisemos três passagens relacionadas à fé salvadora. A primeira é Efésios 2.8-10:

Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie. Porque somos criação de Deus realizada em Cristo Jesus para fazermos boas obras, as quais Deus preparou antes para nós as praticarmos.

O que exatamente é o “dom” (v. 8) de Deus? Os arminianos recorrem frequentemente a um ponto da gramática grega que eles acreditam tornar impossível a ideia de que a “fé” é o “dom” a que Paulo se refere. Os arminianos argumentam que a palavra fé é do gênero feminino, enquanto o pronome traduzido como isto (“e isto não vem de vocês”) é neutro. Se Paulo tivesse a intenção de descrever a “fé” como sendo o dom concedido, ele teria usado
a forma feminina do pronome. A que, então, a palavra isto se refere? O que é o “dom” de Deus?

Alguns apontam para a “graça” (v. 8) pela qual fomos salvos. Mas, assim como a palavra “fé”, “graça” também é do gênero feminino. Portanto, se “isto” que não vem de nós mesmos não pode se referir a “fé”, muito menos pode referir-se a “graça”, que tem o agravante adicional de estar ainda mais distante do pronome “isto” na frase. Então, o que Paulo está dizendo? Qual é o antecedente de “isto”?

Claramente, o “dom” de Deus é a salvação em sua totalidade, uma salvação que flui da graça de Deus e se torna nossa por meio da fé. Do início ao fim, desde a sua criação até a sua consumação, a salvação é um dom de Deus aos seus eleitos. Consequentemente, essa fé — pela qual passamos a possuir de forma prática o que Deus proporcionou em graça — é um dom, tanto quanto todo e qualquer outro aspecto da salvação. Não se pode negar que a fé faz parte do presente de Deus para nós, assim como não se pode negar a graça
de Deus. Tudo é de Deus! A salvação é do Senhor!

Considere também o que Paulo diz em outro texto. Em Filipenses 1.29, ele escreve: “Pois a vocês foi dado o privilégio de não apenas crer em Cristo, mas também de sofrer por ele.” O que pode ter sido difícil de entender em Efésios 2 fica claramente evidente em Filipenses 1.29. Porém, o que surpreende nesse versículo não é que a crença em Cristo seja um dom de Deus, mas que o sofrimento por causa de Cristo também o seja!

A tradução da expressão “foi dado” não transparece a plenitude do que Paulo queria dizer. Não devemos pensar em sofrer ou crer em Cristo simplesmente como uma concessão da parte de Deus. Frequentemente falamos em “conceder” algo a alguém, mas queremos dizer que, com alguma relutância, damos a nossa permissão ou concordância ao que de outro modo poderíamos nos ter oposto. Não é esse o caso aqui. A palavra grega usada por Paulo
significa “dar em graça e livremente”. Em outras palavras, Deus se deleita em fazer dessas coisas um presente para nós. Ele o faz amorosamente e com toda a exuberância de um pai que se alegra com a bem-aventurança de seus filhos. Assim, o sofrimento na vida cristã nem sempre é imposto como um castigo, nem vem ao acaso, como se alguma calamidade se abatesse sobre nós fora da vontade e do poder de Deus. Sofrer por amor a Cristo, assim como crer no seu nome, é um privilégio que Deus nos concede por sua misericórdia amorosa e seu cuidado cheio de graça

Outra passagem que fala da questão da fé como dom de Deus é 2 Pedro 1.1. Nessa passagem, lemos: “Simão Pedro, servo e apóstolo de Jesus Cristo, àqueles que, mediante a justiça de nosso Deus e Salvador Jesus Cristo, receberam conosco uma fé igualmente valiosa.” Pedro se refere aos seus leitores como recebedores de uma fé em nada inferior à dos apóstolos. A versão ARA diz “obtiveram fé igualmente preciosa”. Outros preferem interpretar o que foi dito por Pedro como se a fé desses homens e mulheres cristãos a quem ele escreve os colocasse na mesma posição privilegiada dos apóstolos, com igual acesso ao Pai por meio do Filho.

O que tem importância primordial aqui é a palavra traduzida como “obtiveram” ou “receberam”. Ela está relacionada a um verbo que significa “obter por sorteio” (ver Lc 1.9; Jo 19.24; At 1.17). Assim, a fé é removida do reino do livre-arbítrio humano e colocada em sua perspectiva adequada, como tendo se originado na vontade soberana e totalmente graciosa de Deus. Pois não é por acaso ou por fruto da sorte que alguns vão à fé salvadora, mas por virtude da “justiça de nosso Deus e Salvador Jesus Cristo”.

Trecho do livro “Escolhidos: uma exposição da doutrina da eleição”, de Sam Storms, lançado pela Anno Domini em agosto de 2014. O autor faz uma análise profunda da doutrina da eleição, apresentando conceitos históricos e bíblicos. Saiba mais.

 

 

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