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Por que Sola Scriptura? Parte 1 | Por John McAlister

A data era 18 de abril de 1521. Na cidade de Worms, na Alemanha, estavam reunidos Carlos V, o sucessor ao trono do Sacro Império Romano, e todos os nobres e o alto clero das terras alemãs. O motivo desse encontro singular era um só: confrontar “o monge rebelde”, Martinho Lutero, com os seus escritos e exigir dele a plena revogação das suas doutrinas contrárias aos ensinos do magistério da Igreja Católica Romana, conforme expressos pela primeira vez em suas famosas 95 teses, afixadas por ele na porta do castelo de Wittenberg em 31 de outubro de 1517. Diante de um salão repleto de testemunhas nobres e eclesiais – depois de sucessivas tentativas anteriores frustradas da Igreja Romana – finalmente Lutero foi “colocado contra a parede”, por assim dizer, para responder de uma vez por todas de que lado estava: do Papa e da Santa Sé ou dos seus escritos. Diante de tal convocação sumária, Lutero proferiu o que ficou conhecido como “o primeiro discurso evangélico mundial” da história da Igreja, quando ele disse:

Como Vossa Majestade e Vossas Altezas exigem de mim uma resposta simples, quero dar uma tal sem chifres e dentes. Caso não seja convencido por testemunhos da Escritura e por motivos racionais evidentes – pois não creio no Papa nem nos Concílios, pois é evidente que erraram muitas vezes e se contradisseram –, estou convencido, pelas passagens da Sagrada Escritura que mencionei, e minha consciência está presa à Palavra de Deus, e não posso nem quero revogar qualquer coisa, pois não é sem perigo nem salutar agir contra a consciência. De outra maneira não posso, aqui estou, que Deus me ajude, amém.

Poucas palavras e poucos gestos na história da Igreja representam tão bem aquele que é o primeiro dos cinco lemas centrais da Reforma Protestante: sola Scriptura (somente a Escritura), seguido do solus Christus (somente Cristo), sola gratia (somente a graça), sola fide (somente a fé) e soli Deo gloria (somente a Deus a glória). Juntos, esses cinco ‘solas’ (ou ‘somentes’) serviram como uma explicação e uma defesa, da parte dos herdeiros da Reforma Protestante, do único Evangelho ensinado pelas Escrituras Sagradas e capaz de salvar pecadores da perdição eterna.

Porém, é importante observar que Lutero não foi o inventor ou idealizador do princípio sola Scriptura, apesar de ser um dos seus maiores defensores e expoentes. Séculos antes, em sua última carta endereçada ao seu jovem discípulo, Timóteo, o apóstolo Paulo também registrou a sua defesa da autoridade final das Escrituras Sagradas sobre toda a fé e a prática da Igreja. Às vésperas da sua morte, em um tempo de grande transição e perigo para a igreja apostólica, infiltrada por vários falsos mestres, falsas doutrinas e falsas práticas – tal qual na Europa de Lutero no início do século 16 –, o apóstolo Paulo registrou o seu apelo pastoral a Timóteo:

Quanto a você, porém, permaneça nas coisas que aprendeu e das quais tem convicção, pois você sabe de quem o aprendeu. Porque desde criança você conhece as Sagradas Letras, que são capazes de torná-lo sábio para a salvação mediante a fé em Cristo Jesus. Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra. (2Tm 3.14-17)

Ou seja, enquanto muitos ditos “cristãos” eram varridos pelos modismos e pelos ventos de falsa doutrina da época, Paulo não poderia ter sido mais claro: “Timóteo, finque seus pés na rocha firme da Palavra de Deus e não se mexa, nem um centímetro sequer, aconteça o que lhe acontecer! Somente a Escritura é inspirada por Deus! Somente ela é inteiramente útil e suficiente para nos tornar sábios para a salvação em Jesus Cristo e para nos treinar para a piedade e a santidade! Somente ela é digna, portanto, da nossa inteira confiança!” Em suma, sola Scriptura!

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