Certa vez alguém achou um quadro que parecia muito com as obras do pintor espanhol Pablo Picasso. Dizem que veio de um conhecido do pintor famoso que tinha até acesso a seu atelier. A dúvida surgiu, pois o quadro não havia sido assinado, embora o estilo era inconfundível. Levaram o quadro até Picasso e perguntaram se tratava-se de uma de suas obras.
“Mestre, temos que saber, isto é ‘um Picasso’ ou não.”
O pintor pegou um pincel e assinou o quadro.
“Agora é,” disse Picasso.
Sem entrar no mérito do qual fosse o tema ou estilo (e certamente Picasso era um artista fora da curva por usar de muitos estilos ao mesmo tempo, variando entre um modo clássico e no dia seguinte um estilo cubista ou outro qualquer) ele simplesmente mostrou o óbvio: o que faz de um quadro uma obra do autor é a sua assinatura. O resto é o resto.
Isso me lembra um embate que Jesus teve com os mestres da lei. Querendo pegar Jesus numa armadilha, perguntaram se era lícito pagar ou não um tributo a Cesar. Por razões que não vem ao caso aqui, basta dizer que qualquer resposta, fosse ela positiva ou negativa, iria certamente deixar o mestre em maus lençóis, fosse com um grupo ou outro.
Sua resposta desmontou a armadilha: “Mostre-me a moeda. O que está impresso na sua face?” Disseram que era Cesar, ao qual ele respondeu, “então dê a Cesar o que é de Cesar e a Deus o que é de Deus.”
Muitos acham que sua resposta se limitava a desmontar a armadilha. Mas fez muito mais do que isso, pois na sua resposta estava embutida um fato que ficou óbvio para os mestres da lei, mas não foi falado em voz alta. Por que devemos dar a Deus o que é de Deus? Afinal, o que é de Deus? Qualquer mestre da lei sabia dos primeiros capítulos do Pentateuco, que o homem havia sido criado “à imagem e semelhança de Deus”. A moeda levava a imagem de Cesar. A ele Jesus mandou atribuir apenas o vil metal. Mas o homem leva a semelhança do criador. A Ele devemos atribuir todo o nosso ser. A Cesar pertence a moeda. E a Deus pertence… bom, nós. Nós somos dele, criações de Deus. E no caso de um cristão, fomos comprados a grande preço. Não nos pertencemos mais.
A resposta foi muito mais contundente do que costumamos imaginar. Jesus havia dito aos mestres de lei que o que realmente importava era se nós estávamos dando a Deus tudo que era dele por direito. Um imposto não era nada em comparação com a honra, o louvor, a obediência absoluta que devemos a Deus. Isto sim é a questão.
Após ouvirem essa resposta, viraram e foram embora para não fazer mais tentativas de pegá-lo numa armadilha. Quem caiu nela foram eles. E nós, entendemos que não nos pertencemos? Que devemos a Deus tudo de nós – nossas posses, nosso tempo, nosso amor? Sim, pois que semelhança foi impressa sobre nós? A do próprio Criador.