Há um ditado popular que diz: os fins justificam os meios. Isso é comumente dito em relação ao questionamento dos meios ou as maneiras pelas quais atingimos a um dado fim. Segundo a lógica deste ditado, o fim em si justifica ou resolve qualquer questionamento dos meios. Um outro ditado em inglês diz: vale tudo no amor e na guerra (all is fair in love and war). Este segue a lógica do primeiro na mesma tônica de que contanto que alcancemos um fim, os meios serão justificáveis, e até lícitos. Afinal, o que importa, de fato, é o alvo a ser alcançado, o resultado a ser obtido. E no pragmatismo da nossa sociedade, o que importa é o resultado. Pois, se tivermos o resultado, é isso que vale. Logo, os fins justificam os meios.
Se o fim justifica os meios… o que justifica o fim? A única variável questionada na fórmula acima é o meio, partindo de um fim absoluto. Mas o que justifica o fim? Quem disse que o fim não deveria ser questionado? Quem me garante que o fim é inquestionável? A verdade é que, pelo menos em relação à vida cristã, se os meios para um dado fim são tão questionáveis assim, será que não está na hora de questionar o fim?
Colocado de outra maneira: imagine que você está diante de um prego que precisa ser fixado. O que você precisa? De um martelo, obviamente. Mas, digamos que você, mesmo após olhar atentamente para aquele prego, enxergou um parafuso. O que você acha que precisará? De uma chave de fenda, obviamente. Temos aqui um fim (um prego a ser fixado) e um meio (uma ferramenta). Mas o martelo só será justificado e só funcionará, de fato, se você corretamente entender que você está diante de um prego. Mas se você insistir que está diante de um parafuso, você buscará uma chave de fenda e o prego permanecerá sem ser fixado. Afinal, é praticamente impossível martelar um prego com uma chave de fenda. (Eu até consigo imaginar um jeito de fazê-lo, mas me parece ser um tanto contraproducente).
Espero não ter lhe confundido com a minha linha de raciocínio, mas insista um pouco mais comigo.
Talvez você seja um líder de louvor, ou trabalha com jovens ou até seja o pastor da igreja. No seu culto a Deus, na reunião semanal da sua congregação, qual é o seu fim? Por quê você veio para a igreja? Pra quê serve se reunir num salão para cantar umas músicas e ouvir um sujeito falar por cerca de duas horas? Qual é o resultado que você espera obter com isso? Parece ser uma pergunta um tanto abstrata, eu sei. Mas a reposta determinará a maneira como tudo ali será conduzido. Se o resultado, o alvo almejado for entretenimento e diversão, por exemplo, buscaremos as melhores opções para alcançar este objetivo. Uma música boa, talvez, ou um palestrante charmoso e dinâmico. Isso com certeza fará com que mais pessoas encham as cadeiras, certo? Ou talvez você não está tão preocupado em divertir as pessoas, e sim causar um impacto emocional forte. Quem sabe até fazer alguém chorar? Para isso pode ser bacana jogar uma luz indireta, falar pausadamente, ser bem apelativo e incluir uma música de fundo, tipo trilha sonora de drama durante a pregação.
Vejo muita discussão em torno de meios, e creio que boa parte dela seja válida. É bom que tenhamos estratégias e organizemos ideias para nossas reuniões congregacionais. Precisamos conversar sobre como cultuamos a Deus. Mas o que não consigo ver, de maneira geral, é um fim em comum. Partimos do pressuposto de que todos buscamos a mesma coisa.
A verdade é que muitos conduzem seus cultos de maneira mundana pois, de fato, seus fins são mundanos. E se os fins que desejamos são mundanos, então nossos meios serão, necessariamente, mundanos. A não ser que entendamos que estamos diante de pregos em vez de parafusos, vamos insistir – inutilmente – numa chave de fenda em vez de um martelo.
Talvez você esteja frustrado com a falta de resultados ou eficácia da sua igreja. Se a banda fosse mais ensaiada, será que resolveria? Ou se trouxermos um palestrante bacana, será que as pessoas ouviriam mais? Depende. Talvez sim, talvez não. Mas, antes de buscar um novo método, uma nova estratégia, talvez seja hora de dar um passo para trás, aquietar-se e repensar o seu fim.