Mais uma vez volto à década de 80. O título desse artigo é parte do refrão de uma música da banda Legião Urbana que não saia da boca dos estudantes da época. Diga-se de passagem, a música é muito ruim e em nada colaborou para a formação intelectual e moral dos jovens.
Porém, tomo-a como exemplo para iniciar meu ponto de hoje: o cristão, como qualquer outro, pode não possuir aptidão para determinada área do saber. Muitos se dão bem com os números, outros com as letras; isso é normal. O que não cabe no pensamento cristão é justamente o refrão da música (seja química, física, português ou qualquer outra disciplina).
O motivo principal para afirmar isso é que Deus é o autor de todo o conhecimento e cada área específica do saber é parte da boa criação divina que deve ser desenvolvida pelo ser humano.
Não estou dizendo com isso que Deus estabeleceu a química, a física, a biologia como disciplinas distinguíveis umas das outras no ato da criação. O estudo de Química, por exemplo, é uma obra humana realizada em obediência ao mandado cultural. Essa obra consiste em organizar e classificar os vários elementos que compõem um determinado aspecto da criação, utilizando a capacidade lógica.
Deus criou todas as coisas como uma unidade integrada, mas que, pelo trabalho humano, pode ser decomposta em vários aspectos diferenciados entre si. O ser humano não cria esses aspectos, apenas os descobre.
Quem melhor ilustrou esse ponto foi o filósofo cristão holandês Herman Dooyeweerd. Ele usou o prisma ótico (aquele da capa do disco do Pink Floyd) para descrever como a realidade criada se apresenta no tempo e no espaço. Tal qual a luz branca se decompõe em diversas cores, como no arco íris, assim a realidade se distingue em vários aspectos (o numérico, o espacial, o físico, o psíquico, o jurídico, entre outros).
Como já é possível perceber, cada um desses aspectos dá origem a uma ciência distinta com um núcleo de sentido próprio. Assim, a Química, a Biologia, a Matemática, a Sociologia, a Economia e outras são recortes de uma realidade maior criada por Deus e estudadas pelo ser humano por meio do raciocínio correto, a fim de alcançar a verdade.
O ponto então é o seguinte: dizer que odeia Química (ou qualquer outra matéria) é desprezar uma parcela da boa criação de Deus. O cristão pode se dedicar àquelas áreas do saber para as quais demonstra maior aptidão, mas deve lembrar-se de que a realidade é multifacetada e bem mais complexa do que aquela única área de trabalho ou estudo.
Jamais devemos odiar ou menosprezar algo que tenha origem em Deus, o Criador; isso beira à blasfêmia. E jamais devemos pensar que nosso pequeno recorte da realidade é superior aos demais e, por isso, tem o poder de explicar todos os demais; isso cheira a idolatria.