A capacidade de ler e compreender um texto é cada vez mais escassa nos nossos dias. Estive num grupo de trabalho recentemente que exigia uma leitura crítica de textos e que exigia discernir sua organização e significado e fiquei pasmado com a falta de habilidade para tanto.
Leitura não é uma atividade “natural”. Assim como tocar o piano, é algo que precisa de aprendizado, exercício e repetição. Sem isso, podemos até reconhecer as palavras e ter um certo sentido do que foi lido, mas entender um texto e lê-lo com profundidade não é algo que poderemos fazer sem que sejamos treinados. Uma vez alfabetizados, temos que ser educados. Infelizmente, o sistema educacional brasileiro não proporciona mais esse tipo de ensino. Mais e mais vemos pessoas funcionalmente analfabetas. Vemos pessoas mais e mais recorrendo a chavões, frases feitas e conceitos superficiais para tentar ordenar suas vidas e pensamentos. É um deserto mental que oferece poucas luzes e poucos lugares seguros para um discurso mais esclarecedor.
Pensamento crítico, assim como leitura crítica, é algo que pode ser aprendido, mas não sem prática. O importante na leitura é ler. Óbvio, não? Quem lê pouco, pensa pouco. Quem se limita a YouTube ou Twitter, ou pior, Facebook, está fadado a não pensar. Quem se alimenta dessas coisas vira papagaio de outros, alguns dos quais são pessoas pensantes. Mas ouvir pessoas pensantes não faz de ninguém um pensador. Tem que cumprir a tarefa obrigatória de todo pensador que é… ler.
Temos que ler novos e velhos livros. Diria até que os velhos livros são mais importantes do que os novos. Agora, não é fácil. Principalmente no início, livros velhos são difíceis. Sua estrutura lógica e a maneira de se expressar é diferente do que estamos acostumados a seguir. Vai exigir um esforço. Esse esforço rende muitos dividendos. Mas, muitos não fazem o esforço se retirando para campos mais palatáveis e leituras mais rasas e atuais. Atualidade não é virtude, é apenas um contexto ao qual estamos acostumados.
Recentemente fiz algo que me surpreendeu. Não que não tenha feito antes, mas já faz tempo. Li dois livros pela segunda vez. Um é um livro atual e bastante técnico. Outro é um clássico, a saber, O Peregrino de John Bunyan. O primeiro tinha tanta informação que sabia que não iria lembrar de tudo e desconfiei de nem ter entendido completamente. A leitura repetida confirmou a minha impressão. Me ajudou a entender o livro e a gravar algumas das informações ali contidas.
Quanto a O Peregrino, já faz tempo que li pela primeira vez e me surpreendi pelo fato de ter esquecido a maior parte do livro. As suas lições preciosas foram uma redescoberta que me proporcionou um prazer inesperado. C. S. Lewis falava da importância de ler livros mais de uma vez. Fiz isso pouco, ao longo dos anos. Mas após essas leituras recentes, desconfio que farei muito mais vezes. Aprender a pensar e ler são algo que temos que fazer por toda a nossa vida. Recomendo a prática.
WM