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AS PRIMEIRAS COISAS PRIMEIRO – CONCEITOS ELEMENTARES SOBRE COSMOVISÃO (II) | Por Marcelo Maia

Embora as ilustrações das lentes, bússolas e mapas nos ajudem (veja artigo anterior), precisamos definir de modo mais preciso o que é uma cosmovisão.
Michael Goheen e Graig Bartholomew escrevem:

A palavra cosmovisão é a tradução do termo alemão Weltanschauung (visão de mundo) e foi usada pela primeira vez pelo filósofo iluminista Immanuel Kant em sua obra Crítica da Faculdade do Juízo (1790). Kant acreditava que cada ser humano aplica unicamente a razão a fim de chegar a uma Weltanschauung – uma compreensão do significado do mundo e de nosso lugar dentro dele.1

Alguns anos mais tarde, o filósofo cristão dinamarquês Kierkgaard (1813-1855) distinguiu entre filosofia e cosmovisão, sustentando que esta não é um sistema objetivo de pensamento (como a filosofia), mas sim um conjunto de crenças que são mantidas no íntimo de uma pessoa.
Outro estudioso que se debruçou sobre o conceito de cosmovisão foi Wilhelm Dilthey (1833-1911). Disse ele:

“Cosmovisões não são produtos do pensamento. Não tem origem somente no desejo de saber. A compreensão da realidade é um fator importante na sua formação, mas apenas um deles. Cosmovisões surgem de nossa atitude diante da vida, de nosso conhecimento da vida e de toda a nossa estrutura mental.”2

Perceberam o que há de comum entre Kierkgaard e Dilthey? Cosmovisões se escondem bem lá no fundo do nosso ser; na maioria das vezes não pensamos sobre ela, mas ela está lá. E todos nós a temos.
Dito isso, entre muitas definições excelentes de cosmovisão, trabalharemos com a de James Sire (1933-2018), exposta em seu livro Dando Nome ao Elefante:

“…um compromisso, uma orientação fundamental do coração, que pode ser expresso em uma história ou em um conjunto de pressuposições (suposições que podem ser verdadeiras, parcialmente verdadeiras ou totalmente falsas) que sustentamos (consciente ou subconscientemente, consistente ou inconsistentemente) sobre a constituição básica da realidade, e que fornece o fundamento no qual vivemos, nos movemos e existimos”

Uma pausa para uma pergunta: O Cristianismo seria um tipo de cosmovisão?
Para respondermos corretamente, devemos recorrer a um dos gigantes do pensamento cristão: Abraham Kuyper (1837-1920). Disse o pensador holandês:

O Cristianismo verdadeiro é mais do que um relacionamento com Jesus, que se expressa em piedade pessoal, frequência à igreja, estudo da Bíblia e obras de caridade. É mais que acreditar em um sistema de doutrinas. O cristianismo genuíno é uma maneira de ver e compreender toda a realidade. É um sistema de vida, uma cosmovisão.

Kuyper não está desprezando o relacionamento com Jesus, nem tampouco as disciplinas espirituais e o amor ao próximo. Também não está reduzindo a fé cristã a um conjunto de dogmas com os quais concordamos. O que ele está defendendo (e nós também) é que a fé cristã é um modo de ver e compreender TODA a realidade, o que inclui nosso relacionamento com Jesus, com o próximo na igreja, com os incrédulos, nossas ações caridosas, nosso uso da tecnologia, nosso voto, o modo como educamos nossos filhos, etc.
Para sermos cristãos saudáveis, devemos ser treinados a enxergar o mundo com as lentes da fé cristã. Como bem ressaltou o teólogo Ronald Nash:

O passo mais importante para os cristãos é tornar-se informado sobre a cosmovisão cristã, uma visão abrangente e sistemática da vida e do mundo como um todo. Nenhum crente hoje pode ser realmente eficaz na arena das ideias até que tenha sido treinado a pensar em termos de cosmovisão.3

Como você está se preparando para essa batalha?

 

  1. NASH Citado por GOHEEN e BARTHOLOMEW, pg. GOHEEN, Michael e BARTHOLOMEW, Craig. Introdução à Cosmovisão Cristã: São Paulo, Vida Nova, pg. 35-36.

 2.Citado por GOHEEN e BARTHOLOMEW, pg. 37.

3 NASH, Ronald. Cosmovisões em Conflito. Monergismo.

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