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O mal que nos cerca | Por Walter McAlister

Anos atrás recebi uma visita de um amigo vindo dos EUA. Quando ele desceu do avião, fiquei imediatamente alarmado com o tamanho do seu relógio, anel e cordão no pescoço. Sem demora, o alertei e ofereci guardar seus pertences num cofre até que o levasse ao aeroporto no fim da sua visita. Seria loucura andar pela cidade coberto dessas coisas valiosas. Ele me afirmou que não tinha medo. Isso só confirmou uma de duas coisas: ou que ele não tinha juízo ou que ele não fazia ideia de onde ele estava. Como eu o conhecia como uma pessoa razoável e ajuizada, a resposta ficou clara. Ele simplesmente não fazia ideia do que era o Rio de Janeiro. É certo que o Rio anda muito perigoso. Mas a verdade é que sempre foi um lugar perigoso para turistas desavisados ou desatentos. Muitos veem fotos das nossas lindas praias, com pessoas brincando na areia e concluem que seja um lugar paradisíaco, um lugar para relaxar e esquecer que o mundo é um lugar tenebroso. Quantos já não foram rudemente despertados para a realidade pela perda dos seus pertences ou por furto ou por assalto?

O carioca não costuma ser tão desatento. Ele vigia o seu ambiente, estaciona num lugar iluminado, de preferência. Sabe que há lugares que não devem ser atravessados à noite. Ele escolhe bem o que vai ou não ostentar e aonde. Claro que existem pessoas que se acham acima dessas coisas, e são as que mais são assaltadas. Soube de uma senhora que, ao fazer o retorno numa certa altura da Avenida das Américas na Barra da Tijuca, foi assaltada. Estava no seu carro “off road” estalando de novo, falando no seu celular topo de linha e de relógio Rolex. Um rapaz armado a rendeu e levou tudo. Duas semanas depois, ela parou no mesmo sinal. Estava com um carrinho novinho, celular novinho e relógio novinho. E estava falando no celular de janela aberta. O mesmo assaltante chegou perto e disse, “Oi dona. Se lembra de mim? Pois perdeu de novo.” Que tolice!

Sei que na selva eu correria muito perigo, pois não sei o que significa a mudança do vento, o agitar de certas folhas, quais plantas são venenosas e como me conduzir. O índio corre muito menos perigo, embora talvez esteja menos vestido. Ele corre menos perigo porque entende e sabe ler o seu ambiente.

Muitos ainda acham que vivemos num mundo neutro, que o mundo espiritual é um lugar desmilitarizado. Para esses, existe o bem, o mal e o indiferente. E é aí que mora o grande perigo. Não existe campo neutro. Não existe uma zona desmilitarizada no espírito.

Paulo lembra que nossa luta, qualquer luta, é espiritual na sua essência. Nossa vida espiritual corre perigo constante. Literalmente, o Diabo anda em “derredor procurando a quem possa devorar.” Isso quer dizer que eu preciso viver num estado de alerta espiritual. Não posso simplesmente relaxar achando que hoje não haverá perigo simplesmente porque acordei me sentindo melhor, não. Tenho que vigiar e orar. Tenho que manter os olhos do meu coração abertos para os perigos que me cercam. Tenho que manter os olhos do meu entendimento abertos para o que se passa no meu interior, também. E é por isso que Jesus nos ensinou a terminar a nossa oração diária com “e livra-nos do mal”.

Quando vai acabar tudo isso? Quando entrarmos no descanso do Senhor. Um dia não haverá com que nos preocupar. Um dia poderemos parar de orar, ler a Bíblia e vigiar tudo. Pois naquele dia estaremos com Ele na eternidade. Até então, alerta! Até então, vigiando e orando sempre, seguiremos, pois somos peregrinos e estrangeiros numa terra hostil.

WM

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