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O monge e o pratinho de madeira | Por Walter McAlister

Porque o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e atormentaram a si mesmos com muitas dores.
1 Tm 6.10

Muitos consideram o apego material algo que só se aplica aos ricos ou aos que trabalham feito escravo para ficarem ricos. Há uma historinha antiga, não sei se é verídica ou não, que nos ajuda a entender que não é bem assim.

Havia um monge muito humilde e mendicante. Além de pregar, orar e fazer o bem, ele pedia esmolas para sustentar a si e sua missão. Um dia, o monge passou na casa de um cardeal muito poderoso e rico. Naquele tempo, cardeais e bispos eram senhores feudais com terras e rendas muito altas. O cardeal viu o mendicante e o convidou para almoçar na sua casa e se hospedar lá até que ele sentisse a hora de seguir seu caminho.

Sentaram à mesa, que estava coberta com um linho bordado finíssimo. Os pratos eram de porcelana e os talheres de ouro. Vinho era servido em taças de cristal e havia servos e servas para serví-los. O monge agradeceu, mas disse que só comia do seu pratinho de madeira, que sempre tinha consigo. Os servos esvaziaram seu lugar à mesa e ele sentou tirando o prato e uma colher de madeira. Porém, na hora de colocar seu pratinho na mesa, escorregou de sua mão e caiu no chão. Ao bater no mármore carrara, partiu ao meio.

O monge começou a chorar, tomado por enorme tristeza ao perder seu pratinho, companheiro de tantas peregrinações. Sua comoção chamou muito a atenção do cardeal, que após alguns insantes disse:

“Meu filho, confesso que quando o irmão entrou na minha casa, fiquei um pouco constrangido pela sua humildade. Me senti um homem muito mundano em comparação, pois como vê a minha vida é cercada de muitos bens e sou assistido por muitos servos.”

Ele continuou: “Porém, quando vi a sua comoção pelo prato de madeira que quebrou, entendi que o irmão é muito mais apegado aos seus bens que eu. Tudo isso para mim apenas faz parte do meu ofício e nada significa para mim. Eu facilmente abriria mão de tudo se Deus assim o quisesse. Bastaria que Ele me dissesse o que fazer e eu alegremente entregaria tudo. Mas o irmão se abateu por um mero prato. Sei que é um apenas um pratinho de madeira. Mas este prato fazia parte da sua alma enquanto todos os bens que você vê ao seu redor não me comovem nem me prendem.”

Não é o quanto possuímos que representa o amor ao dinheiro, é o quanto aquilo que temos nos possui e denuncia o nosso coração. Amamos o que temos ou amamos a Deus que tudo nos deu em primeiro lugar, acima de qualquer outra coisa?

Há meios de testar essas coisas. Devemos sempre ser generosos com os outros, prontos para doar e nos desfazer de coisas que acumulamos – não só aquilo que não queremos mais, mas até de coisas que gostamos. Devemos sempre nos perguntar se realmente precisamos daquilo que desejamos adquirir. Devemos dizimar, não como um rito religioso, mas como um ato de reconhecer que tudo pertence a Deus – sim, cem porcento do que temos pertence a Deus. Nossas ofertas e generosidade são uma expressão e um exercício de fé.

Acima de tudo, nunca devemos cultivar no coração um “sonho de consumo” ou alvos materiais que cativam nossa mente. É certo que há coisas que precisamos e para as quais temos que poupar e planejar para adquirir. Mas há uma grande diferença entre sermos previdentes e bons mordomos e sermos gananciosos, cobiçosos e materialistas. Riqueza é excesso, é prosperar além da necessidade. Há pessoas que tem muito mais do que poderiam gastar nessa vida, mas ainda se matam de trabalhar para acumular ainda mais. Almejam o status de serem cada vez mais ricos e poderoso. Certa vez perguntaram a um grande magnata quanta riqueza era necessária para ser feliz, ao qual ele respondeu: “um pouco mais.” Entre o que temos e o “pouco mais” mora grande perigo: o amor ao dinheiro. Mas riqueza é também uma doença da alma. É um amor pelas coisas e até pelo próprio ato de consumir.

Que Deus nos dê discernimento para entender o que se passa no nosso íntimo. Pois se não o fizermos, podemos nos atormentar com muitas dores.

WM

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