A problemática mundial trazida pelo vírus COVID-19 tem levantado questões em diversas áreas do saber e conhecimento humanos. Uma delas, que considero uma das principais, talvez não venha recebendo tanta importância no debate público: o dilema da presença. O ser humano – e principalmente a espécie latina, da qual fazemos parte – é essencialmente marcada com uma “fisicalidade”, pelo toque, por querer dividir o mesmo espaço, pela presença física. Somos frequentemente apontados como “pegajosos demais” por gente de outras culturas que não valorizam tanto tais aspectos.
Só que a pandemia impôs severas limitações à presença física. Certo, isso é temporário, estamos em um momento crítico. Mas ninguém pode afirmar com certeza quais serão as consequências e desdobramentos pós-Coronavírus. Voltaremos à normalidade de nossos relacionamentos extremamente “físicos”, ou haverá uma mudança cultural globalizada que limitará tais posturas, buscando prevenir futuras contaminações e novas epidemias?
Mas o que tudo isso tem a ver com Educação Cristã e com o trabalho de ensino em nossas igrejas? Creio que essa reflexão é importante para que passemos a refletir sobre o seguinte postulado: a presença não demanda necessariamente essa “fisicalidade” que sempre exigimos. O cenário atual nos ensinou que estar presente não é equivalente a estar fisicamente presente. O conceito de presença transcende o aspecto físico. É possível estar presente em relação a alguém ou algum grupo sem estar “de carne e osso” com tais pessoas.
No que tange à Educação, não podemos reclamar. Estávamos sendo avisados, mas não nos dávamos conta disso. O crescimento vertiginoso do Ensino à Distância (EAD), as famosas “aulas online” foram o alerta profético que muitos de nós não deram ouvidos. Alguns ainda são muito resistentes ao formato, e é perfeitamente compreensível, pois nossa natureza tem a tendência de associar presença a algo físico necessariamente. No entanto, tempos críticos demandam abertura de pensamento.
Não creio que iremos eliminar todo e qualquer encontro físico na área da Educação. A noção clássica que temos de uma sala repleta de alunos, com um professor à frente ensinando ainda perdurará, porém as práticas de sala de aula poderão ser sensivelmente diferentes. O ensino à distância provavelmente ganhará mais proeminência ainda, porém deverá ser desenvolvido uma metodologia que garanta mais presença – a principal queixa dos alunos à distância. Porém, entendendo a premissa que presença não é algo meramente físico, tais questões podem avançar substancialmente.
Em outras palavras, não precisa temer: não será necessário fechar a sala da EBD de sua igreja. Porém todo aquele que está envolvido com o ensino na igreja precisará começar a buscar conhecimento e se desenvolver nas tecnologias a fim de estar pronto e capacitado para oferecer aprendizado em formatos de presença não física. Assim como acredito que você esteja fazendo com sua turma durante esses tempos de isolamento.
Tudo é muito novo. Para todos. Mas diante da novidade e da mudança podemos ter uma atitude negacionista – negando e criticando toda nova situação; ou podemos agir de forma criativa – discernindo os tempos e trabalhando da melhor forma par servir os nossos irmãos, mesmo que a presença física esteja limitado por algum fator que esteja além das nossas competências. Estamos aprendendo muito nestes dias, e este é um dos ensinamentos: é possível estar juntos, sem estar fisicamente juntos. Que Deus nos ajude nestes tempos difíceis!