Ler é uma das atitudes mais primitivas e fundamentais da história humana. É difícil imaginar um mundo em que a leitura não estivesse presente. Creio que seríamos muito mais animalescos e obtusos do que geralmente já somos, e ignorantes no melhor sentido do termo: aquele que não possui conhecimento. Ou seja, de certa forma, a leitura funciona como uma “represa moral” que mantém a sociedade com um mínimo de senso de civilidade e pensamento ordenado. Por isso, a leitura tem papel fundamental em nossas vidas, seja individual ou coletivamente.
Para essa série de textos, contarei com a essencial contribuição de Mortimer Adler e Charles van Doren, autores da publicação “Como ler livros: o guia clássico para a leitura inteligente”, lançado pela editora É Realizações. Talvez seja o material mais completo em língua portuguesa a respeito do tema. Ao mesmo tempo em que é incrivelmente completo na arte da leitura, consegue ser objetivo e prático, sendo, dessa forma, extremamente aplicável ao cotidiano do leitor – ou do futuro leitor.
Segundo Adler & van Doren, toda leitura é uma atividade. Isso implica ação, intenção, movimento. O fato é que toda leitura deve ser ativa. Olhando por esse prisma, uma leitura totalmente passiva é impossível. Para ler bem é necessário estar ativamente envolvido com a leitura. Uma atitude distanciada e imparcial para com o texto não produz o efeito necessário para a leitura.
De acordo com os autores, não conseguimos ler com os olhos paralisados e com a mente adormecida. Não é possível – pelo menos não plenamente – ler e fazer outra atividade ao mesmo tempo. Por exemplo, ler e assistir à TV; ler e mexer no celular; ler e andar; ler e cozinhar. A leitura demanda dedicação e atenção totais. É certo que uma leitura pode ser mais ou menos ativa. E, principalmente no início, é difícil possuir essa mentalidade de mais ação para com a leitura. Porém, quanto mais ativa for a leitura, melhor.
Essa afirmação a respeito da atividade da leitura é importante porque normalmente associamos a leitura (e a audição também, por sinal) a comunicações receptoras, consideradas passivas se comparadas à escrita e à fala, por exemplo, estas consideradas comunicações transmissoras. O que pode mudar nossa visão a esse respeito é entender a leitura como um diálogo, em que certamente o autor fala conosco, mas nós também falamos, reagindo a suas proposições com dúvidas, comentários, anotações etc. Isso faz com que superemos a “mentalidade de monólogo” que adquirimos com o tempo em relação à leitura.
Sempre que comento com alguém a respeito da importância da leitura, normalmente as respostas que chegam a mim vêm cheias de arrependimento, remorso, frustração por conta de tais pessoas não terem desenvolvido o hábito de leitura. Minha palavra de encorajamento é: ainda dá tempo! Nunca é tarde para adquirir um hábito tão saudável como este. Ler é colocar a mente em ação, é musculação do cérebro, é vida mental, é prazer reverente. Incentivo você a desligar a TV e abrir um livro, e você verá o bem que fará a você mesmo. Até o próximo texto, Deus abençoe a sua vida!