De onde vem toda essa tara por crianças? Que poder é este capaz de arrebatar o equilíbrio de pessoas, que por força das próprias funções deveriam ser referenciais de segurança e equilíbrio? Cada novo capítulo desse drama me deixa sem saber o que pensar. Que a malignidade humana não tem limites é um fato, mas quando achamos já ter visto o pior, surge outro e mais outro, gerando uma angústia, um aperto no coração, e uma maior consciência da necessidade de se anunciar o arrependimento.
Mas, e quando o pior é praticado por quem supostamente já teria se arrependido? E quando as mãos por trás dos atos mais repugnantes são as que seguram e desfolham uma Bíblia? E quando o pior foi maquinado por uma mente cheia de conceitos religiosos e conhecedora dos maneirismos eclesiásticos? Sinceramente, quando isto acontece, não sei o que pensar. Reviso minhas teorias; tento ajustar sentimentos e motivações; procuro refletir e orar.
Quanto mais penso sobre tudo isto, mais me convenço da necessidade de uma mobilização em favor de uma teologia mais cristocêntrica e do incentivo à uma vida mais transparente. Pois, toda esta confusa vida secreta que a maioria tem, está relacionada com a formatação teológica dos seus conceitos de fé e do aprendizado da hipocrisia. Mas, quais são os motivos para isto?
Comunidades e ordens religiosas forjam dentro delas modelos de espiritualidade. A idéia do “ungido-servo-poderoso-do-Senhor” é construída através de comportamentos e afirmações. Cedo, as pessoas aprendem que para serem respeitadas, têm que viver um personagem. Não se engane, a maioria representa todo tempo. Pior, isto é fruto do ensino que recebem, da teologia anunciada. O resultado é que ninguém confessa pecados, todos se escondem, e quando ousam aparecer, acabam aparecendo nas páginas policiais ou no centro de um grande escândalo.
Arrependimento, confissão, transparência e graça, não são conceitos teológicos trabalhados hoje nos púlpitos. Voltados para o sucesso, a fama e a notoriedade, pastores esqueceram de pastorear. Esqueceram de como olhar nos olhos de suas ovelhas e dizer: vocês não precisam representar.
Gostaria de poder olhar nos seus olhos nesse momento para dizer que Deus conhece seus segredos. Não falo em tom teórico. Deus sabe que na maior parte do tempo, para ter a aprovação da sua comunidade e das pessoas a sua volta, você representa um personagem. Da mesma forma que Pedro quis vender para a comunidade dos discípulos a imagem de amigo leal de Jesus, acabou por ser ele mesmo numa conversa em volta da fogueira. E negou, negou, e negou conhecer Jesus.
Precisamos parar com discursos, revisar nossa teologia, perder o medo de confessar pecados, e não aceitar viver uma farsa. Arrependimento é dom de Deus. É dom de Deus voltar atrás, reconhecer erros, mudar o pensamento; é dom de Deus encarar sem medo suas fraquezas. Depois disso, é uma bênção ter força e coragem de pedir ajuda. Já socorri pessoas que só queriam ter a oportunidade de serem autênticas. Se insistirmos no cultivo de uma imagem; na defesa de quem não somos, só pra ter o respeito dos outros, poderemos terminar não tendo o respeito de ninguém. E fazendo muita, muita coisa errada. Que Deus nos ajude e nos guarde!
Arrependei-vos, é chegado o reino!
Com amor e carinho!
Pr. Weber