Nietzsche e a sã doutrina

Recentemente postei algo no Twitter: “Quem não ama a sã doutrina não ama a Deus – É tão simples assim”. É claro que uma colocação no twitter se limita a 140 caracteres e não oferece a possibilidade de falar em sutilezas e com as devidas nuances que um texto discursivo oferece. É um meio proverbial de comunicação. O desafio, para mim, é poder resumir em uma frase um pensamento coerente e consequente. Nem sempre é possível. Em todo caso, achei que fui claro e que a frase era suficiente para se sustentar em tão poucas palavras.

Para a minha surpresa – se bem que não chegou a ser uma grande surpresa –, recebi uma resposta de que sã doutrina é uma abstração e o argumento de alguém que defende a “sua doutrina”.

A esse respeito, façamos uma reflexão. Primeiro, toda frase é uma abstração. Palavras são símbolos. A palavra “cavalo” não é um cavalo propriamente dito. É uma sequência de letras que formam um código, que por sua vez suscita um pensamento. Esse pensamento é o de um cavalo. Mas a palavra “cavalo” não é um cavalo. É só uma palavra. Nesse sentido é claro que “sã doutrina” é uma abstração. Assim como a própria Bíblia é. No entanto, palavras apontam para realidades. Da mesma maneira, e no mesmo sentido, doutrinas apontam para verdades concretas. A doutrina da Santíssima Trindade é uma abstração sobre uma realidade além da nossa imaginação, por exemplo. Mas é uma realidade.

Agora, dizer que sã doutrina é uma frase para descrever uma visão particular da fé já não é verdade. Sã doutrina é o consenso de séculos de confissão cristã. Tudo que foge disso é hoje – e sempre foi –, identificado como heresia. O problema de afirmar o que este twitteiro afirmou é que há uma desconfiança persistente na nossa cultura atual, que vem dos tempos de Frederico Nietzsche. É literalmente uma hermenêutica de desconfiança.

Tudo para Nietzsche podia ser reduzido a um jogo por poder e influência. Toda afirmação da verdade foi para ele uma cortina de fumaça para esconder a ambição de quem falou. Mas, citar a necessidade de sã doutrina não é, nem de longe, o caso. É algo que a Igreja sempre amou e defendeu. Os que se abalam com este conceito passeiam perigosamente longe da História da Igreja e por devaneios de filosofia contemporânea.

Na paz,

+W