Pessoalmente, estou cansado de assistir aos embates de opinião nas redes sociais. O evidente espírito beligerante que leva alguns a entrarem em discussões e fazerem afirmações desconexas sobre todo e qualquer tema, desde a teologia à filosofia, da psicologia à última reportagem de capa de um dessas revistas semanais, parece ser sinal de um crescimento do conhecimento popular que revela o desejo incontido das massas que clamam pelo direito de ser ouvida, entretanto, o meu discernimento sobre este comportamento é outro.
Estamos metidos numa cultura individualista, quer notemos isto ou não. Somos muito mais influenciados por este comportamento cultural autocentrado do que gostaríamos de admitir. Uma expressiva quantidade do que se é publicado visa apenas manter hasteada a bandeira do culto ao individualismo, do “eu-também-tenho-algo-a-dizer” (pouca gente tem algo realmente digno de ser dito). Quantas vezes você já leu ou tomou conhecimento de uma notícia e pensou: pra que serve esta bobagem? Pra que serve tomar conhecimento que o bolo da dona Fulana leva cinco ovos ao invés de quatro? A mídia é realmente irrelevante, e sua irrelevância é alimentada por um individualismo incurável.
Todas as bobagens que hoje são veiculadas no rádio, TV, jornais, revistas e na web, servem pra fazer alguém ou alguns pensarem que são importantes. Quem disse que precisamos emitir opinião sobre tudo, gastar o tempo opinando, curtindo e compartilhando a respeito de assuntos que não dominamos? Quando o tema é fé, algum artigo ou parágrafo da teologia, o individualismo não consegue se esconder. É um ataque e contra-ataque interminável. Como se teologia à sério pudesse ser feita com frases curtas e no conforto de casa com um computador sobre os joelhos e sem nenhum engajamento missionário. Esquecemos de que Agostinho era um pastor ativo na inexpressiva Hipona e Calvino um verdadeiro operário das Escrituras diante do seu rebanho em Genebra, homens que suavam sobre o seu arado. Não fazemos a menor ideia de que Mathew Henri escreveu o seu famoso comentário, de joelhos, à luz de lamparina e depois de dias inteiros de intensa atividade pastoral.
Definitivamente, o alto nível de beligerância entre pessoas que se denominam cristãs tem atingido patamares extremamente incômodos, especialmente quando o tema da discussão é objeto de debate na academia há séculos. Todavia, tomados de um infantilismo pirracento, emoldurado por um individualismo quase patético, querem argumentar em segundos, a respeito de temas que toda uma vida seria insuficiente para esgotá-los. Mesmo assim, creio que cabe um olhar mais cuidadoso sobre tal comportamento. Na tentativa de compreender melhor o que se passa, leio com cuidado o que cada um diz sobre este ou aquele tema bíblico. Confesso que o meu lado pastoral me trai e quase sempre termino chorando e pedindo ao Senhor que me ajude a ajudar alguns.
Ouvindo sobre o testemunho de um pastor de Ruanda na III Conferência de Lausanne organizada na cidade do Cabo, em que o próprio denunciava que os cristãos do seu país pegaram em armas e entraram numa guerra étnica absurda, imaginei se não estamos fazendo o mesmo. O pastor perguntava-se o porquê da atitude torta dos crentes de lá e eu me pergunto sobre o porquê da beligerância dos daqui. Chego à mesma conclusão que ele. As razões para esta autofagia do Corpo de Cristo são as mesmas: pouco ou nenhum conhecimento bíblico; espiritualidade rasa e completo desprezo aos pobres. O tripé da catástrofe.
Nos devoramos teologicamente porque o nosso Cristianismo é pobre. Já prestou atenção na teologia dos cartões postais que a maior parte dos “gladiadores facebookianos” curte e compartilha? É lamentável! Todavia, querem debater teologia seriamente, então sugiro que gastem dias estudando a Bíblia, conversando e orando juntos nalgum lugar comum, sob a mediação de um bom mestre das Escrituras e sob regras simples que privilegiem o respeito e a generosidade. Que haja um acordo comum de deixar pra trás essa postura periférica para levar a sério as disciplinas espirituais. Depois, que saiam desse encontro dispostos a cuidar dos pobres: os do corpo e os da alma. Quando começarem a fazer isto, então começarão a arranhar a superfície dos temas sobre os quais se imaginam mestres, a viver a fé com alguma coerência e a amar o próximo. Se todos fizerem isto, e eu quero estar no meio dessa gloriosa decisão, reverterão o quadro catastrófico que se avizinha e as redes sociais não mais terão domínio sobre vós.
Compassivamente,
Pr. Weber