Sabedoria celestial e terrena (Tiago 3.13-18)
Com sua clareza e franqueza costumeira, o apóstolo Tiago nos mostra a seguir em sua epístola que existem apenas duas maneiras de viver: segundo a sabedoria de Deus ou segundo a sabedoria humana. Conforme a fonte da nossa sabedoria assim será a nossa vida. Não existe outra alternativa. Pelos frutos das nossas escolhas e das nossas ações saberemos se, de fato, tememos ou não ao Senhor de todo o coração.
Sabedoria celestial e terrena (Tg 3.15)
De onde vem a sua sabedoria para viver? Desde a criação do ser humano por Deus no jardim do Éden, só existem duas opções possíveis.
Por um lado, quando Deus criou os céus e a terra e o ser humano para governar sobre a criação, o Senhor estabeleceu parâmetros para a vida do primeiro casal no Paraíso. Enquanto eles poderiam comer livre e abundantemente da plenitude do Éden, o Senhor reservou para si uma árvore – a árvore do conhecimento do bem e do mal – a fim de ensinar ao ser humano o princípio de que a vida plena neste mundo dependia do reconhecimento e da submissão à autoridade e sabedoria de Deus. Assim que o homem abandonasse a ordem expressa do Senhor, o resultado certo seria a morte (Gn 2.8,15-17).
Por outro lado, ao tentar o primeiro casal, o Diabo o seduziu com a ideia de que, de fato, os parâmetros estabelecidos por Deus não eram bons nem justos. Aliás, antes disso, a Serpente incitou o casal a questionar o próprio direito absoluto e exclusivo de Deus de definir o que era certa e errado ao propor-lhes a desobediência à ordem expressa do Senhor. Em vez de se submeterem como criaturas finitas e dependentes do Criador, Adão e Eva inverteram a ordem da criação colocando-se no lugar do Criador. Não obstante a sua pretensão arrogante e rebelde, o Senhor cumpriu com os termos propostos ao casal, condenando-os à morte mediante o banimento da sua presença (Gn 3.1-24).
Por mais que as palavras de Tiago possam nos parecer duras e desconfortáveis, elas correspondem com as alternativas propostas por Deus ao homem desde o início da criação. Nossa sabedoria para viver ou vem dos céus ou da terra, é espiritual ou demoníaca, vem do Senhor ou vem do Diabo (Tg 3.15). Enquanto o temor do Senhor – isto é, a confiança submissa e amorosa à autoridade soberana e exclusiva de Deus – é o princípio de uma vida sábia e próspera, a falta de temor a Deus é o caminho certo para a insensatez e a ruína (Jó 28.28; Pv 1.7; 9.10).
Sabedoria na prática (Tg 3.13,16-18)
Como a sua vida demonstra a sua sabedoria? Assim como nos escritos de Salomão no Antigo Testamento, o apóstolo Tiago nos mostra que a sabedoria verdadeira e piedosa traduz-se numa prática condizente com a fonte desta sabedoria.
Se nossa sabedoria vem de Deus, então isto resultará numa vida humilde e consequente (Tg 3.13). Como esta sabedoria não vem de nós mesmos, mas do Senhor, ela não nos promove, mas promove aquele que é a fonte e a medida de toda sabedoria. Cristãos não são mais sábios do que os demais; pelo contrário, cristãos são aqueles que foram resgatados da loucura pecaminosa da sabedoria deste mundo para viverem conforme a sabedoria celestial do Senhor em cada aspecto da sua vida.
Além do mais, se nossa sabedoria vier do Senhor e especificamente de Cristo – a perfeita expressão da sabedoria de Deus (Mt 11.25-30; 1Co 1.24,30; Cl 2.3; Hb 1.3) – ela nos tornará cada vez mais semelhantes ao nosso Senhor. Portanto, disse Tiago, a sabedoria que vem do alto também resulta numa vida pura, pacífica, amável, compreensiva, misericordiosa, imparcial e sincera – tal qual a vida do Mestre, Jesus Cristo (Tg 3.17-18; cp. Mt 5.1-12,43-48).
Contudo, se nossa vida não estiver se conformando cada vez mais ao padrão da vida e da sabedoria de Cristo, é sinal de que estamos bebendo da fonte errada. Se nossa vida em comunhão com o próximo for cada vez mais contenciosa, incompreensiva, impiedosa, parcial e insincera – como era o caso dos cristãos endereçados por Tiago – isto certamente indica que estamos buscando na sabedoria invejosa, ambiciosa e egoísta deste mundo nosso padrão de vida (Tg 3.16).
Sabedoria no íntimo (Tg 3.13-14)
Como a sua sabedoria e a sua vida revelam o que está em seu coração? Assim como a boca fala do que está cheio o coração, nossas posturas e atitudes cotidianas representam o caminho mais curto para descobrir o que está ocupando o íntimo do nosso ser.
Só existem duas maneiras de viver. Portanto, em todo momento, ou nosso coração está sendo humilhado e esvaziado da sua carnalidade para dar espaço para a sabedoria pura e pacífica do Senhor, ou nosso coração está se envaidecendo e sendo possuído por toda sorte de ambição e inveja pecaminosa.
Novamente, lembremo-nos do que Tiago já nos disse: toda boa dádiva e todo dom perfeito vem do alto, do Pai celestial e Senhor soberano, não de nós mesmos (Tg 1.16-17). Portanto, se alguém tem falta desta sabedoria, que a peça humildemente e confiantemente ao Senhor (Tg 1.5-8). Caso contrário, afundaremos ainda mais numa vida rancorosa, rixosa e ressentida, seja no trabalho, em casa ou até mesmo na própria igreja!
Para reflexão:
- Vivemos numa cultura em busca de sabedoria em várias frentes: financeira, profissional, relacional, educacional, comportamental, emocional, etc. Porém, quanto somos encorajados a cultivar a sabedoria espiritual? Qual é a fonte desta sabedoria e o que precisamos fazer para alcançá-la?
- Quanto você tem buscado em Deus e na sua Palavra sabedoria para as diversas áreas da sua vida, inclusive para a sua vida de comunhão com Deus e com o povo de Deus?
- Como as palavras de Tiago nos alertam a vigiar mais nossas palavras e posturas diante dos demais membros da nossa igreja, como também dos membros da nossa casa, do nosso trabalho e do nosso convívio diário? Como isto deve nos levar a um exame mais profundo do nosso coração?
- Quanto a sua vida tem demonstrado os frutos característicos da sabedoria que vem de Deus: humildade, pureza, paz, amabilidade, compreensão, misericórdia, imparcialidade e sinceridade? Quanto a sua vida tem demonstrado os frutos característicos da sabedoria do mundo: inveja, amargura, ambição, egoísmo, confusão e maldade?
- Conforme a sua necessidade, confesse ao Senhor sua falta de sabedoria nas suas palavras e posturas nos seus diversos relacionamentos – em casa, no trabalho ou até na própria igreja. Peça humildemente e confiantemente a Deus pela sabedoria que só Ele pode conceder pelo seu santo Espírito a fim de que em tudo você possa se conformar mais à vida sábia e piedosa do Senhor Jesus Cristo.