Um dos fenômenos revelados no último censo é o crescimento de um grupo religioso chamado de “evangélicos não-praticantes”. Trata-se de gente que de alguma forma se identifica com o movimento evangélico mas não mantém vínculo com igreja alguma. Este comportamento revela que há uma tendência na sociedade brasileira ao nominalismo, que traz embutida na sua tese a possibilidade de se viver um Cristianismo teórico, isento da prática cotidiana da fé.
Um olhar sociológico dessa postura pode levar a interessantes reflexões e avaliações, especialmente aquelas que se referem à busca das possíveis motivações para uma escolha tão radical quanto esta. Mas o que me interessa neste artigo é fazer uma análise apologética e chamar a atenção para as ameaças contra a pureza da fé, uma vez que o nominalismo caminha ao lado do secularismo, e foi por esta via que o testemunho do Evangelho perdeu força na Europa, abrindo caminho ao ateísmo.
A grande maioria dos cristãos não está preparada para reconhecer uma heresia. Heresia é uma coleção de ideias, conceitos e teses construídas em oposição à sã doutrina. Um dos evidentes sinais da volta de Cristo, diz respeito à intensificação de ensinamentos provenientes de espíritos enganadores, e de tal forma absorvidos ao ponto de implantar um estado de apostasia. Logo, estar despertado para fazer a defesa da fé está entre as principais atividades dos santos em todas as gerações. Entre as muitas ameaças que rondam a igreja desde muito tempo é o nominalismo, ou seja, a confissão de Cristo isenta da prática do ensino de Cristo; uma espécie de fé substancialmente teórica na qual não se encontra qualquer ressonância prática. A postura é razoavelmente nova por aqui, mas já é conhecida das igrejas do hemisfério norte e responsável pelo esfriamento de gerações inteiras de cristãos, que não souberam avaliar adequadamente as propostas heréticas que o movimento propagava.
Para o combate ao nominalismo, algumas perguntas precisam ser feitas e objetivamente respondidas: Seria possível ser cristão sem um engajamento na busca pela santidade? Quanto de verdadeiro Cristianismo existe numa vida sem oração? A obra regeneradora do Espírito Santo deixa de fora a manifestação do fruto do Espírito? Existem outras perguntas que merecem, como estas, serem feitas e respondidas, mas estas são suficientes.
Outras gerações acreditaram – talvez haja quem continue a acreditar – na possibilidade de ser cristão sem engajamento numa vida santa. No passado, cunhou-se a expressão crente carnal para rotular as pessoas que em tese haviam abraçado a fé excluindo a radicalidade do discipulado, como se isso fosse possível. Gente que entrou na igreja mas que jamais fora afetada pelo Evangelho. A falta de coerência da soteriologia (doutrina da salvação) e questões envolvendo perdão, justificação, santificação e glorificação, somado à completa falta de percepção da obra do Espírito Santo levou-os a remover a busca da santidade dentre os sinais evidentes da obra salvífica. Pode parecer apenas uma questão de interpretação, mas isto é sinal de nominalismo e mata a fé.
Definitivamente, não há salvação fora de Cristo e da obra de Cristo. Aquele que foi chamado, também foi justificado e santificado. “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor”. (Hebreus 12.14)