Mordomia cristã (Tiago 4.11 – 5.6)
Tal qual Adão e Eva no Jardim do Éden, fomos criados como mordomos da criação de Deus e não donos da nossa própria vida. Contudo, o abandono do nosso posto de servos do Senhor corrompeu os mais variados aspectos da vida humana, incluindo nossa relação com o próximo, com o Senhor e com a própria terra. Porém, por meio de Jesus Cristo, o Senhor agiu para restaurar cada porção da nossa vida pela sua graça e para a sua glória.
Mordomia das palavras (Tg 4.11-12)
Mais uma vez, o apóstolo Tiago ressalta a necessidade do cuidado com a língua como sinal indispensável da verdadeira fé cristã (cf. Tg 1.26; 2.12-13; 3.1-12; 4.11-12). Contra a maledicência – isto é, a fala preconceituosa, prejudicial e premeditada de uma pessoa contra a outra – Tiago apresenta mais dois argumentos convincentes.
Primeiro, toda difamação secreta, acusação infundada ou ataque pessoal contra outra pessoa incorre na desobediência à Lei do Senhor que condena tal prática (cf. Ex 20.16; Lv 19.16; Sl 15.1-3). Ironicamente, ao apresentar-se como defensor da verdade e do direito contra alguém, tal pessoa torna-se réu da Lei pura e verdadeira do Senhor. Ao contrário, o próprio Senhor Jesus Cristo ordenou que seus discípulos abençoassem aqueles que os amaldiçoassem e os maltratassem como evidência da paternidade de Deus sobre as suas vidas (Mt 5.43-48). O apóstolo Paulo faz coro com as palavras do Mestre, instando que os verdadeiros cristãos nunca devem responder o mal com o mal, mas sim com o bem (Rm 12.17-21).
Segundo, tamanha desobediência à Lei incorre no erro maior e mais grave de tomar o lugar de Legislador e Juiz pertencente exclusivamente ao Senhor! “Mas quem é você para julgar o seu próximo?” (Tg 4.12) Novamente, o Senhor que tanto pode nos salvar como nos destruir conforme as nossas palavras absolverá os que exerceram misericórdia e condenará os que exerceram juízo sem misericórdia. (Tg 2.12-13)
Mordomia dos planos (Tg 4.13-18)
Agora, o apóstolo Tiago adverte seus leitores que sua fé em Cristo evidencia-se não apenas mediante as palavras a respeito do próximo, mas também mediante os planos traçados para as suas próprias vidas.
Numa igreja em que vários cristãos provavelmente ganhavam a vida por meio de negócios itinerantes pelas cidades da Palestina e regiões vizinhas, Tiago aponta duas tentações comuns aos discípulos de Cristo: primeiro, a tentação de fazer planos extensos sem considerar a brevidade e a incerteza da vida; e, segundo, a tentação de fazer planos segundo a vontade humana falha e limitada sem consultar e priorizar a vontade perfeita e soberana do Senhor.
Em ambos os casos, a tentação daqueles cristãos partia da presunção maligna e presunçosa dos seus corações. Ou seja, tratar como certo o avanço financeiro e profissional sem considerar a imprevisibilidade da vida e a soberania de Deus não era apenas loucura, mas vanglória pecaminosa. Nada impedia aqueles cristãos de fazerem seus planos e conduzirem seus negócios, contanto que estes fossem submetidos à vontade suprema e final do Senhor. Caso contrário, eles incorreriam em grande erro e dano para as suas vidas.
Mordomia das posses (Tg 5.1-6)
Por fim, Tiago dirige sua última advertência aos ricos incrédulos que, porventura, ouvissem as palavras do seu sermão em forma de carta. Embora suas palavras não abordem diretamente os cristãos, elas servem, mesmo assim, de lembrete acerca do perigo espiritual da ganância e da avareza.
Tiago enumera vários motivos para a condenação dos seus ouvintes abastados. Primeiro, a ganância destes ricos lhes causaria prejuízo tanto no presente como no futuro, isto é, tanto na ruína atual das suas riquezas como na sua condenação final por terem acumulado bens somente para si. Segundo, tamanha ganância resultou da injustiça cometida contra os trabalhadores responsáveis pela geração daquela riqueza, resultante da retenção do seus ganhos merecidos. Acrescentado à ganância e à injustiça, o luxo daquela gente contrastava com a miséria dos seus trabalhadores justos, cuja privação havia resultado em dano material e até morte.
O apóstolo Paulo corrobora aquilo que Tiago descreve em tanto detalhe aqui, isto é, que o amor ao dinheiro – não o dinheiro em si – é a raiz de todos os males (1Tm 6.10). Portanto, fosse em suas palavras, seus planos ou suas posses, os leitores de Tiago deveriam sempre pensar e agir primeiro conforme a vontade soberana de Deus para a glória do Senhor!
Para reflexão:
- Mais uma vez, nos vemos diante de um conflito claro entre os valores da cultura que nos cerca e os valores transmitidos pela Palavra de Deus. Numa sociedade que nos bombardeia com a mensagem de que somos donos da nossa própria vida e que temos um direito soberano de pensar, falar e agir conforme nossa própria vontade, qual é o desafio de vivermos segundo a Palavra de Deus como mordomos ao invés de donos da vida?
- Quanto as nossas palavras a respeito das pessoas que nos são mais próximas, especialmente as que servem como autoridades sobre nós – em casa, no trabalho e na própria igreja – revelam a nossa submissão à autoridade de Deus? Temos sido bons mordomos de Deus em nossos relacionamentos pessoais?
- Quanto os nossos planos de estudo, de trabalho e carreira e até o nosso planejamento financeiro revelam nossa confiança e submissão ao cuidado do Senhor com as nossas vidas? Temos sido bons mordomos de Deus em nossas planos pessoais e familiares?
- Quanto o uso das nossas posses revela nosso contentamento, nossa piedade e nossa generosidade como servos do Senhor? Temos sido bons mordomos das riquezas de Deus?
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Você tem deixado de praticar uma mordomia fiel e equilibrada em uma ou mais áreas citadas acima? Confesse isso perante o Senhor, suplique o seu perdão em Jesus Cristo e também a sua graça pelo Espírito Santo para ser um servo mais obediente e temente ao Senhor.