2. Perseverança nas provações (Tiago 1.1-18)
Quais são os elementos da religião verdadeira aceitável a Deus? Consideraremos na ordem seguida pelo apóstolo Tiago em sua epístola alguns desses elementos centrais à fé a à vida cristã.
Perseverança (Tg 1.1-4)
Assim que puder, leia toda a carta de Tiago, do início ao fim, de uma única vez (isso levará algo em torno de quinze a vinte minutos). Uma leitura passageira e superficial logo indicará o motivo pelo qual o apóstolo escreveu esta epístola.
Seus primeiros leitores – possivelmente judeus convertidos ao Cristianismo que logo cedo passaram a sofrer perseguição e oposição de membros abastados e influentes da sociedade romana, talvez até de outros judeus incrédulos – passavam por diversas provações, desde enfermidade e escassez material até perseguição ativa (Tg 1.2,9-11; 2.6,7; 5.13). O apóstolo Tiago – irmão de Jesus e um dos líderes principais da Igreja primitiva (Tg 1.1; At 15.13; Gl 1.19) – impossibilitado de estar com todos aqueles irmãos que foram dispersos pela perseguição à Igreja em Jerusalém para as regiões da Palestina e da Síria (cerca de 45-48 d.C.), muito provavelmente decidiu enviar uma carta de exortação e encorajamentos às suas ovelhas (Tg 1.1; At 11.19).
Diante das suas diversas provações, Tiago os exortou a terem grande alegria na provação da sua fé, pois isto resultaria em amadurecimento e perseverança. O apóstolo ainda os exorta a resistirem às provações até que elas tivessem pleno efeito em suas vidas. Entende-se, portanto, que Tiago não considera tais provações como uma exceção à vida da Igreja. Pelo contrário, elas constituem o processo indispensável pelo qual os verdadeiros servos de Deus são aperfeiçoados até o fim da sua vida e a promoção para a presença do Senhor quando, pela graça de Deus, seremos perfeitos, sem nos faltar nada.
Oração (Tg 1.5-8)
Enquanto somos amadurecidos e aperfeiçoados pelo Senhor mediante as nossas provações, constatamos que há muito que ainda nos falta em nossa caminhada como discípulos de Jesus Cristo. Diante desta constatação, Tiago exorta seus leitores repetidas vezes acerca da necessidade de uma vida de oração (Tg 1.5; 4.2,3; 5.13,15-18). Dentre tudo que podemos e precisamos pedir do Senhor, o apóstolo ressalta a importância suprema de sabedoria para que saibamos perseverar pela fé diante das nossas provações, certos de que o Senhor concede livre e graciosamente aquilo de que mais precisamos. (Tg 1.5-8)
Contentamento (Tg 1.9-12)
Além de perseverança em meio às provações naturais à fé, Tiago também exorta seus leitores acerca da necessidade de contentamento nos momentos de privação. Em momento algum o apóstolo denuncia a falta de fé dos seus leitores como o motivo das suas privações materiais. Pelo contrário, o apóstolo exorta tanto irmãos ricos como irmãos pobres a se contentarem na certeza da sua recompensa eterna e celestial, independente da nossa condição financeira ou material nesta vida (Tg 1.12).
Submissão (Tg 1.13-15)
O grande perigo apontado por Tiago em nossos momentos de provação e privação é de culpar Deus pelas tentações que acompanham nossas aflições. Contudo, o apóstolo fala claramente que Deus a ninguém tenta, nem pode ser tentado por coisa alguma. Pelo contrário, são as nossas provações e privações que trazem à tona o desejo pecaminoso que reside em nossos corações – fruto do nosso orgulho ferido e das nossas vontades frustradas – e que acaba por gerar maior pecado e morte em nossas vidas.
Dependência (Tg 1.16-18)
Tiago lembrará aos seus leitores vez após vez que a verdadeira fé e a verdadeira vida cristã não são alcançáveis pelo nosso próprio esforço e força de vontade (Tg 1.16-18; 4.5-10; 5.13-16). Portanto, não devemos nos iludir pensando que temos vivido de maneira que agrade a Deus, nem tampouco que sejamos capazes de fazê-lo por nossa própria conta.
Pelo contrário, somos inconstantes e falhos, mas Deus é constante e jamais falha em sua graça. Nosso desejo e pecado geram morte, mas a Palavra do Senhor gera vida em nós desde o primeiro momento em que nascemos de novo, quando respondemos com fé ao Evangelho de Jesus Cristo. Tudo que precisamos para viver a verdadeira vida cristã não vem de nós, mas do Senhor.
Para reflexão:
- Como a nossa cultura contemporânea, e até mesmo a Igreja de uma forma geral, tem lidado com a questão das provações e dos sofrimentos cotidianos da vida? Nossa cultura tem nos ensinado a fugir do sofrimento a qualquer custo ou a encará-lo com um fato comum e importante para o nosso crescimento e amadurecimento?
- Como as provações em outras áreas da sua vida – família, estudos, trabalho – te fizeram crescer e amadurecer? Como as provações da fé podem nos fazer crescer também em nossa vida com Deus?
- Como você tem enxergado as provações da sua fé? Como uma exceção à regra da sua vida com o Senhor ou como um elemento necessário do seu amadurecimento espiritual? Quanto você tem se alegrado e perseverado com fé em meio às provações?
- Quanto você tem investido numa vida de oração diante das provações da sua fé? Quanto você tem clamado confiantemente por sabedoria ao Senhor para resistir e permanecer firme na fé em Cristo nestes momentos?
- Como você tem enxergado os momentos de dificuldade material na sua vida? Como uma oportunidade para exigir mais recursos do Senhor ou para aprender a viver mais contente com aquilo que o Senhor providencia pro nosso sustento até o dia em que receberemos a nossa herança em Jesus Cristo?
- Como você tem reagido nos momentos de provação e privação em sua vida? Quanto você tem atribuído a Deus, direta ou indiretamente, a responsabilidade pela sua reação pecaminosa às suas aflições?
- Quanto você tem tentado viver a vida cristã pelo seu próprio esforço e força de vontade? Aonde isso tem te levado? Quanto você tem avançado ou retrocedido?
- Confesse ao Senhor quanto e como você tem falhado na sua fé diante das suas provações, privações e tentações. Agradeça ao Senhor pelo seu perdão em Jesus Cristo. Peça ao Senhor que pela graça e pelo poder do Espírito Santo você possa caminhar com nova alegria, fé e perseverança nos caminhos do Senhor.