3. Ouvindo e praticando a Palavra (Tiago 1.19-27)
Seguimos adiante em nossa exposição dos elementos essenciais à verdadeira fé e à verdadeira vida cristã, conforme as orientações do apóstolo Tiago. Após exortar seus leitores acerca da necessidade de perseverança diante das provações, Tiago fala agora do papel central da Palavra de Deus na condução da nossa vida com o Senhor.
Ouvindo a Palavra (Tg 1.19-21)
Nos momentos de maior provação, privação e aflição somos fortemente tentados a falar mais do que convém e nos irarmos injustamente. Por isso, Tiago diz aos seus leitores que sua ação essencial nesses momentos deve ser de ouvir e submeter-se humildemente à Palavra de Deus em vez de falar e irar-se.
Assim como a Palavra foi essencial na salvação da Igreja, ela permanece essencial no desenvolvimento e amadurecimento desta salvação nos momentos de provação (Tg 1.18,21). Isso porque o Evangelho que nos salvou nos lembra sempre que somos pecadores salvos unicamente pela graça e misericórdia do Senhor em Jesus Cristo, que nos amou e se entregou por nós quando ainda éramos pecadores e inimigos de Deus.
Sendo assim, o Senhor não nos deve nenhum bem ou favor, por mais que pensemos e sintamos assim quando reclamamos das nossas provações. Contudo, Ele nos trata muito melhor do que nós merecemos, por mais que nos esqueçamos disso com bastante facilidade nos momentos de bonança e fartura! Consequentemente, precisamos nos submeter vez após vez ao Evangelho da nossa salvação para que sejamos libertos do nosso orgulho residual e do nosso senso de justiça própria que afloram quando somos postos à prova.
Praticando a Palavra (Tg 1.22-25)
Deixar de ouvir e submeter-se humildemente à Palavra de Deus é um caminho certo para o engano. Contudo, Tiago nos alerta que apenas ouvir a Palavra sem, contudo, praticá-la é motivo de engano para o nosso coração também. Quem ouve a Palavra e não a pratica, diz Tiago, é como aquele que vê sua imagem no espelho e logo a esquece, sem lhe acrescentar coisa alguma (Tg 1.23-24).
Engano pior do que a ignorância das Escrituras Sagradas é o conhecimento da Palavra que não produz mudança e transformação naquele que a lê, ouve e estuda. Participar dos cultos da Igreja, ouvir as pregações do seu pastor, frequentar a Escola Bíblica ou o grupo de estudo bíblico e discipulado são disciplinas importantíssimas na vida de todo cristão, mas por si só não garantem a nossa maturidade espiritual. Portanto, todo conhecimento de Deus e da sua Palavra que não produz arrependimento, fé, obediência e perseverança não é conhecimento verdadeiro do Senhor. Por outro lado, Tiago afirma vez após vez que há grande alegria para aquele que ouve, atenta e pratica a Palavra de Deus com perseverança (Tg 1.2,12,25).
Piedade em vez de Religião (Tg 1.26-27)
Mais uma vez Tiago alerta seus leitores sobre o perigo do autoengano, especialmente o engano da confiança na nossa própria religiosidade. Assim como Jesus reservou suas críticas mais contundentes aos fariseus – os mestres da religião judaica do primeiro século, cuja religião não passava de atos religiosos externos desprovidos de uma piedade profunda e genuína – seu irmão, o apóstolo Tiago, adverte seus leitores sobre o engano da religião que não afeta a maneira como tratamos o próximo e como guardamos o nosso coração.
Ao final do primeiro capítulo da sua carta, portanto, Tiago ressalta a necessidade do cultivo da piedade acima da mera religião. Ao falar sobre o controle da língua, o cuidado com órfãos e viúvas (os mais necessitados da sociedade daquela época) e a corrupção do mundo, o apóstolo trata de alguns exemplos de uma vida verdadeiramente piedosa que ele descreverá mais a fundo no restante da carta (Tg 2.1-13; 3.1.-12; 4.1-4,11-12; 5.1-6).
Porém, desde já podemos concluir que a verdadeira vida cristã não se restringe a um mero comportamento religioso praticado dentro da Igreja, mas a uma vida piedosa e devota que não se deixa corromper pelo sistema de valores deste mundo e que abrange tanto a nossa fala como o nosso bolso. Ou seja, a verdadeira piedade atenta para o relacionamento sadio com Deus e com o próximo além de investir na boa mordomia dos nossos recursos materiais.
Para reflexão:
- Quanto a nossa cultura valoriza ou não as disciplinas do silêncio, da solitude, da leitura e da reflexão como hábitos cotidianos? Como isso tem afetado a nossa vida com Deus e a nossa aproximação da Palavra de Deus?
- Quanto você tem aquietado o seu coração e parado para ouvir e submeter-se à Palavra de Deus nos momentos de provação? Quanto você tem se precipitado em suas palavras e no seu temperamento ao reagir às provações impensadamente?
- Com quanta frequência você tem pensado e meditado no Evangelho da graça de Deus, na lembrança de que somos pecadores indignos da bondade e do amor do Senhor, mas que pela sua vontade soberana Ele nos salvou para uma nova vida em Jesus Cristo? Que diferença isso pode e deve fazer na maneira como lidamos com as nossas provações?
- Como você avaliaria o seu relacionamento com a Palavra de Deus? Quanto você tem investido numa vida de estudo e aprendizado da Palavra junto à sua Igreja – nos cultos públicos, na Escola Bíblica, nos ministérios, no pequeno grupo?
- Quão abrangente tem sido sua visão da vida cristã? Quanto a Palavra de Deus tem servido para orientar a sua vida além de uma mera rotina religiosa – frequência nos cultos públicos da sua Igreja, participação nos ministérios e hábitos de oração e leitura da Palavra?
- Quanto a Palavra de Deus tem transformado a maneira como você fala com seu próximo, como você administra os seus recursos e como você estabelece as prioridades da sua vida?
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Confesse ao Senhor onde você tem deixado de ouvir, praticar e aplicar a Palavra de Deus em sua vida. Clame pelo seu perdão em Jesus Cristo e peça que o Senhor te dê uma nova alegria ao submeter toda a sua vida à direção soberana da sua Palavra.