Paciência na perseverança (Tiago 5.7-12)
Paciência na perseverança e perseverança na paciência. A combinação dessas duas virtudes dita a mensagem da carta de Tiago do começo ao fim. Assim como o apóstolo iniciou sua mensagem recomendando a perseverança diante das provações, ele conclui seu sermão advertindo novamente os seus leitores a serem pacientes até a vinda do Senhor (cf. Tg 1.2-4; 5.7-8). Contudo, as últimas recomendações do apóstolo trazem consigo mais algumas lições importantíssimas acerca dessas virtudes indispensáveis à vida cristã.
Paciência e a soberania de Deus (Tg 5.7-8)
Por duas vezes nos primeiros dois versículos desta seção da sua carta, Tiago menciona a vinda iminente do Senhor Jesus Cristo como encorajamento à paciência perseverante dos seus leitores. Evidentemente, a esperança e convicção inabalável da Segunda Vinda de Cristo serve de referência para a conduta da Igreja no presente. Ou seja, nossa esperança pelas coisas futuras – especificamente, pela volta gloriosa de Jesus Cristo – determina nossa conduta no presente.
Todavia, a lembrança do desfecho soberano do Senhor para a História é duplamente encorajador. Primeiro, saber que o fim da História está nas mãos do Senhor nos dá maior razão para trabalharmos e perseverarmos no presente, pois sabemos que nosso testemunho paciente não será em vão. Assim como o agricultor semeia os seus campos e trabalha diligentemente à espera das chuvas do outono e da primavera que produzirão a colheita, assim também o cristão persevera na sabedoria e na santidade de Deus sabendo que seu testemunho paciente receberá o retorno devido das mãos do Senhor.
Por outro lado, o Senhor que é soberano sobre o fim da História é soberano sobre toda a História. Por mais que o agricultor precise trabalhar em prol da colheita, ele sabe que os processos da natureza responsáveis por ela não estão sob seu controle, mas são conduzidos pelo Senhor da terra. Assim também o cristão persevera em sua jornada cristã, mesmo sabendo que do início ao fim ele depende da graça soberana de Deus.
Paciência e a misericórdia de Deus (Tg 5.10-11)
Além de apontar para o futuro, Tiago também recorda exemplos do passado a fim de encorajar os seus leitores à paciência. Tal qual os profetas do Antigo Testamento que permaneceram pacientes em seu testemunho diante do sofrimento, assim também o povo de Deus deve caminhar nos mesmos passos. A felicidade destes homens à qual Tiago se refere não diz respeito necessariamente à condição física e material favorável – muitos dos profetas foram sabidamente desprovidos nestas questões – mas, sim, ao resultado final das suas provações, ou seja, a perseverança fiel no serviço a Deus apesar das circunstância adversas.
Contudo, a restauração física e material dos seus leitores não estava fora de cogitação para Tiago. Relembrando o exemplo de Jó que perseverou no temor do Senhor apesar dos seus reveses pessoais, o apóstolo deixa a entender que assim como o Senhor restaurou a saúde, a família e os bens daquele homem, ele poderia fazer o mesmo pelos leitores da sua carta – fosse nesta vida ou na vida vindoura.
Enfim, por mais que a restauração material dos cristãos perseguidos nesta vida não esteja descartada, segundo Tiago, ela não está acima da maior das bem-aventuranças, isto é, a perseverança no Senhor até o fim da jornada cristã. E, por fim, tanto uma coisa como a outra são igualmente fruto da compaixão e da misericórdia do Senhor com os seus servos mais do que dos seus esforços e do seu mérito perante Deus (Tg 5.11).
Paciência e a santidade de Deus (Tg 5.9,12)
Por fim, Tiago mescla os encorajamentos vindos do passado dos profetas e do futuro glorioso da volta de Cristo com as duras advertências resultantes da santidade de Deus.
Primeiro, os leitores da carta devem ter cuidado mais uma vez para que as suas provações passageiras não resultem em queixa, murmuração e indignação com o seu próximo – sejam eles seus opositores incrédulos ou seus próprios irmãos e irmãs na fé (Tg 5.9). Embora as circunstâncias adversas dos cristãos neste mundo fujam do seu controle, o mesmo não pode ser dito a respeito da sua reação às aflições da vida resultantes da sua fé em Cristo.
Segundo, e ainda mais importante, os leitores devem vigiar em dobro quanto às palavra proferidas perante Deus nos momentos de maior adversidade. Como o ser humano é sabidamente propenso a fazer votos impensados e humanamente impossíveis de serem cumpridos nos momentos de maior provação, Tiago recomenda que os cristãos sejam tão somente fieis aos compromissos já assumidos com Deus e perante Deus – especialmente quanto ao compromisso de perseverar na fé em Cristo até o fim da sua jornada (Tg 5.12). O que passar disso, alerta Tiago, pode resultar em grande condenação para os que forem descuidados com suas palavras e promessas perante o Senhor.
Para reflexão:
- Paciência e perseverança são virtudes cada vez mais escassas nos tempos em que vivemos – seja no trânsito, no trabalho, na vizinhança, em casa e até mesmo na Igreja! Como o imediatismo impaciente da nossa cultura tem afetado a nossa vida pública, profissional, familiar e até nossa vida espiritual?
- Que diferença faz à vida cristã crer na soberania de Deus? Especificamente, como a soberania de Deus sobre toda História e, especialmente, sobre o seu fim quando Cristo retornar à terra pode nos encorajar a viver a fé cristã com paciência e perseverança?
- Como os exemplos dos profetas do Antigo Testamento e de Jó revelam a misericórdia de Deus em ação na vida daqueles que foram pacientes e perseverantes no seu testemunho do Senhor? Como estes exemplos podem nos fortalecer em nossa caminhada?
- Como as advertências de Tiago acerca de palavras e votos precipitados podem nos ajudar a redobrar nossa vigilância espiritual em tempos de provação e adversidade?
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Você tem sido paciente e perseverante nas provações resultantes da sua fé em Cristo? Se não, clame a ele por perdão e graça no momento de necessidade. Ore para que a lembrança da soberania, da misericórdia e da santidade de Deus te console e te fortaleça para permanecer firme nos momentos de maior dificuldade na vida cristã.