As pessoas com as quais convivo reclamam muito frequentemente de cansaço. Queixam-se das rotinas às quais estão submetidas no trabalho e na vida em geral. As mais fervorosas reclamações tocam as desumanas pressões por resultados e desempenho; precisam passar o dia tentando provar aos outros de que são capazes e capacitados. Outra reclamação constante diz respeito ao tempo passado fora de casa, alguns têm que sair antes do sol nascer e voltar só depois que já se pôs, muito depois. Os resultados não poderiam ser piores: saúde comprometida, altos níveis de irritabilidade, relacionamentos voláteis, alcoolismo, drogas e outras experiências criativas para fugir desse cansaço crônico, que geralmente inicia no plano físico mas que fatalmente acaba estourando no plano emocional. Isto me tem feito meditar no quanto o mundo jaz no maligno e no quanto a maneira como a vida está configurada é diabólica.
O que chamamos de “progresso” ou de “novas tendências”, certamente não possui a chancela divina. Toda essa engrenagem que faz girar a roda do mundo, tanto no plano das idéias quanto no das pre-suposições filosóficas, são de inspiração duvidosa. O que mais me intriga é porquê cristãos são enredados por essas mentiras opressivas, ao ponto de permitirem que seus conceitos de vida e família sejam influenciados, sem perceberem toda a engrenagem infernal por trás desses mecanismos de opiniões, idéias e pensamentos. Tenho observado com pesar casamentos desmoronarem e lamentado a multidão de crianças (filhos de casais cristãos) tendo que ser arrastadas aos consultórios psiquiátricos com crises de ansiedade e até depressivas, numa altura da vida em que deveriam estar saltando e brincando. A justificativa é sempre a mesma: a necessidade de trabalhar mais, para ganhar mais, consumir mais e “dar uma vida melhor” aos filhos. Mas, os frutos não estão dizendo o contrário?
O fim desse processo é só “canseira e enfado”. Não tenho visto as pessoas gozarem do equilíbrio que esperavam alcançar. Só ouço reclamações e a contabilização de prejuízos, alguns deles irreversíveis (ou deveria dizer irrecuperáveis?). Isto acaba gerando outro cansaço: o de enfrentar esta forte tendência doentia do comportamento de homens e mulheres de todas as idades. Essa gente, em seus momentos críticos de desilusão, recorrem à igreja. Chegam para ouvir, e descobrem que os pregadores teologizaram a ganância e esqueceram de anunciar que a graça de Deus anda na contramão do mundo. O resultado é que existe uma multidão vacinada contra o evangelicalismo e a tudo que possa estar relacionado com a Bíblia, porque já passou por esta ou por aquela igreja, e tudo que conseguiu foi ficar mais cansada e confusa. Este é basicamente o meu público: gente vacinada contra o Evangelho, angustiada, confusa, cheia de conceitos religiosos mal formados, desiludida e sem esperança, gente literalmente exausta. Se você apresenta um desses sintomas, então me deixe dizer que ainda resta uma esperança.
Nossos cansaços interiores são curáveis, mas o tratamento precisa ser feito com rigor. Primeiramente, entenda que Deus não é um amuleto da sorte ou uma palavrinha mágica como “abracadabra” ou “shazan”, a ser usada em ocasiões difíceis e aí estamos liberados para prosseguir a vida com os mesmos vícios conceituais. A questão não é ritualística. Nada tem a ver com o ritual certo, acompanhado das palavras certas. O ideal divino é outro. Deus anseia por poder governar sobre a sua vida, propor novas maneiras de vê-la e interpreta-la. Deus trabalha com transformação gerada a partir da renovação do pensamento. Ele espera poder interferir na maneira de compreendermos os diferentes temas da fé e da existência (casamento, família, paternidade, maternidade, trabalho, dinheiro, produção, amizade, cidadania…). Nosso cansaço, via de regra, ou está relacionado à resistência aos ideais divinos ou com a luta contra esta mesma resistência. Mas, se decidirmos rever esse nosso jeito de ver as coisas, buscando aprender o que Deus tem a dizer, teremos dado um passo importantíssimo para o descanso interior.
O tratamento prossegue com o chamado ao compromisso. Deus nos chama a andar com Ele, a prosseguir aprendendo dEle. Seu interesse não é o de transforma-lo num religioso, num simples e inoperante freqüentador de igreja, mas em um discípulo de Cristo. Nesse processo, Ele o ajudará a incorporar hábitos e a fazer escolhas que tenham como objetivo máximo, glorificar o Seu Santo nome. Nesse caminhar como discípulo, a Palavra de Deus tornar-se-á viva para você. Sua meditação diária e constante o levará à prática “ouvitiva” da voz de Deus. Todos os dias, uma nova proposta, um novo ensinamento, encherá sua mente e coração. Esse círculo virtuoso da fé o levará ao que os antigos chamavam de “santa rotina”. Nesse processo de renovação da mente e cultivo da devoção, o cansaço interior se desfará como um denso nevoeiro à medida que o dia aquece.
Finalmente, ao término de cada dia, lance sobre Deus toda a sua ansiedade. É uma boa maneira de reafirmarmos a nossa fragilidade e o senhorio absoluto de Cristo.
Orando por você,
Pr. Weber