O calvinismo representa muitas coisas, hoje em dia. Para alguns, é o resgate de um vigor teológico que a Igreja perdeu já faz quase 200 anos, desde os tempos de Charles Finney, o avivamentista. Para outros representa a volta de um pensamento anacrônico, arcaico, desumano até, e, como tal, um retrocesso na História da Igreja. Há ainda aqueles para quem representa o abandono total da natureza missiológica da Igreja – não só um retrocesso, mas uma traição da tão celebrada contribuição latino-americana à teologia contemporânea. Mas, para a maioria, é apenas uma coisa só: o determinismo – uma ideia de que somos todos predestinados e, como tal, não temos absolutamente nenhuma importância ou direito de escolha. Somos todos robôs no playground de Deus. calvinismo, enfim, seria um desrespeito à própria dignidade do ser humano.
Neste primeiro ato (e não há como tratar este assunto, senão ao longo de muitos textos, momentos e perspectivas) vamos apenas voltar os olhos para o cenário, quase bélico, que já foi montado. Campos opostos, ânimos exaltados, ressentimentos, frases feitas, meias-verdades e agressões pessoais. Sim, esse é o palco que a cortina levantada revela. É um campo de guerra. E no meio dessa peça, há pessoas tentando entender sinceramente o que vem a ser esse movimento estranho que a própria revista TIME considera uma das 10 ideias mais influentes no mundo hoje. Entre a consciência verde, o avanço militante do movimento político gay e a migração maciça do campo para as cidades, o calvinismo é reconhecido pelos meios de comunicação secular como uma força que vai mudar a face da terra.
Certamente há muita tinta sendo derramada dos dois lados. Os neocalvinistas (ou seja, os novos adeptos dessa visão da Bíblia) estão em franca ascensão. Seus livros e suas mensagens estão ganhando adeptos entre os pensadores da nova geração. Os que rejeitam essa visão das Escrituras (que obviamente nem estou tratando neste primeiro ato) estão horrorizados. Liberais, teólogas feministas, os adeptos da missão integral, e arminianos de toda sorte estão de cabelos em pé. Esses calvinistas parecem uma tribo de elos perdidos, surgindo do passado neanderthal da História da teologia. E mais: estão ganhando adeptos. Estão convencendo pessoas da sua leitura das Escrituras! Pior, nem todos estão fazendo isso com muita graça. Há uns e outros que ostentam a sua predestinação, tal qual os novos-ricos ostentam o seu novo poder de compra. E acabam até fazendo pouco dos que “ainda não entendem”.
Mas, seja qual for a posição que tenhamos sobre este assunto, uma coisa é clara. Algo está acontecendo. Numa sociedade onde a presença de fé é muito, mas muito aguada, algo está acontecendo de fato. Estamos voltando a nos importar com teologia. Estamos cansados da fumaça e espelhos que ocupam os palcos da fé. Estamos cansados da festança de Cristianismo absurdamente irracional. Estamos cansados de palavras. Alguns pelo menos. E para esses, prometo tratar este assunto com carinho, com clareza, e com respeito a todos – os que concordam e os que não concordam comigo.
Vamos para o intervalo. Depois voltaremos para o segundo ato, no próximo post.
Na paz,
+W