Na nossa busca pela verdade, é vital que a encontremos – não a verdade que queremos que seja, mas a verdade que é. Já faz muito tempo que desisti de tentar fazer a Bíblia dizer o que mais me agrada. Ela está cheia de coisas difíceis de aceitar, a não ser que eu me ponha como servo delas e não como juiz das Sagradas Letras. Espero que possamos fazer exatamente isso. Não pretendo, por intermédio desta série sobre Calvinismo que tenho escrito no blog, resolver todas as nossas dúvidas. Mas queria, no mínimo deixar bem claro o que está em jogo aqui. O que está em jogo é a verdade. E somente a verdade, nada mais e nada menos, nos libertará.
Quando falamos de Calvinismo, temos de entender que esta rubrica abrange um gama teológica que vai muito além dos tão celebrados “cinco pontos”, ou seja, a sua soteriologia (doutrina de salvação). Na intenção de escrever uma defesa da fé para o rei da França, Calvino escreveu uma teologia sistemática, que até hoje, continua sendo uma das mais fáceis de se ler. Isso se deve, em parte, ao fato de o rei da França não ter sido nenhum intelectual de expressão. Além disso, o livro serviria como um curso para membros da igreja.
Os cinco pontos, conhecidos pelo acróstico TULIP, são:
1. Total Depravação: isso simplesmente quer dizer que quando Adão e Eva pecaram, ficaram mortos para Deus e se tornaram escravos do pecado e, consequentemente, da morte. O homem, portanto, não tem a capacidade em si de ver as coisas de Deus e escolher. Não é que não tenha o livre-arbítrio. Ele tem. Mas as escolhas que lhe são disponíveis caem debaixo de uma vida escrava. O escravo pode escolher somente o que lhe é permitido. Quem é escravo da morte não tem a capacidade de escolher a vida.
2. Por isso mesmo, quem crê em Cristo o faz porque Deus o elegeu, sem que esta escolha se baseie em qualquer critério que possamos compreender. Sua eleição não tem mérito pessoal. Assim, o segundo ponto é conhecido como Eleição Imerecida.
3. Isso quer dizer que Jesus não veio para tentar salvar-nos. Ele veio, morreu e ressuscitou para salvar todos a quem Deus decidiu salvar. Quer dizer que a obra de Jesus Cristo, pregada para todos, se aplica de forma limitada e somente a aqueles a quem Deus elegeu e, consequentemente, faz nascer de novo (no momento em que ouvem a pregação da Palavra).
4. Literalmente nascemos não por nossa vontade, mas por vontade de outro, ou seja, de Deus. Isto significa que Ele nos resgata e nos transforma e a nossa fé é o resultado direto desse ato maravilhoso de salvação. Este item é conhecido como Graça irresistível.
5. Finalmente, se Ele nos salvou, nos salva e nos salvará. O que Deus começou, certamente levará até o fim. Todos os eleitos naturalmente vão perseverar. Inversamente, os que não perseverarem não foram realmente salvos, pois salvação é uma obra divina que começa e termina pelo poder de Deus.
Como Deus é eterno e existe desde antes do início do início, de fora do tempo Ele cria “vasos” (pessoas) pela quais demonstrará a sua justiça e outros por meio dos quais Ele demonstra a sua graça. Na verdade, todos foram condenados em Adão. Todos merecem morrer para sempre. Mas apraz a Deus salvar a quem Ele escolhe salvar. Esse argumento se acha mais bem descrito em Romanos 9, o capítulo inteiro. Claro que a palavra “predestinar” se encontra ao longo do Novo Testamento. O próprio Judas foi chamado de um “predestinado à perdição” pelo Nosso Senhor, na sua oração sacerdotal de João 17.
Sugiro que leia o capítulo 9 de Romanos, pois no próximo post, irei tratar de algumas dificuldades que temos com isso. É claro, como falei no último texto, que estamos falando de Deus. Deus é infinito, eterno, insondável e, como disse Paulo, o oleiro que nos fez. Ele não é o objeto do nosso estudo. Ele é a razão. E não se engane: entender essa diferença é absolutamente vital para que tratemos a questão corretamente.
Na paz,
+W