Domingo passado tive o imenso prazer de ouvir uma mensagem pregada por meu filho, o Rev. John McAlister, na Catedral da Igreja Cristã Nova Vida. Ele está ministrando uma série sobre o livro de Provérbios. Nesta ocasião ele abriu o quinto capítulo do livro e leu as seguintes palavras:
Meu filho, dê atenção à minha sabedoria, incline os ouvidos para perceber o meu discernimento. Assim você manterá o bom senso, e os seus lábios guardarão o conhecimento. Pois os lábios da mulher imoral destilam mel; sua voz é mais suave que o azeite, mas no final é amarga como fel, afiada como uma espada de dois gumes. Os seus pés descem para a morte; os seus passos conduzem diretamente para a sepultura. Ela nem percebe que anda por caminhos tortuosos, e não enxerga a vereda da vida. Agora, então, meu filho, ouça-me; não se desvie das minhas palavras. Fique longe dessa mulher; não se aproxime da porta de sua casa, para que você não entregue aos outros o seu vigor nem a sua vida a algum homem cruel, para que estranhos não se fartem do seu trabalho e outros não se enriqueçam à custa do seu esforço. No final da vida você gemerá, com sua carne e seu corpo desgastados. Você dirá: “Como odiei a disciplina! Como o meu coração rejeitou a repreensão! Não ouvi os meus mestres nem escutei os que me ensinavam. Cheguei à beira da ruína completa, à vista de toda a comunidade”. Beba das águas da sua cisterna, das águas que brotam do seu próprio poço. Por que deixar que as suas fontes transbordem pelas ruas, e os teus ribeiros pelas praças? Que elas sejam exclusivamente suas, nunca repartidas com estranhos. Seja bendita a sua fonte! Alegre-se com a esposa da sua juventude. Gazela amorosa, corça graciosa; que os seios de sua esposa sempre o fartem de prazer, e sempre o embriaguem os carinhos dela. Por que, meu filho, ser desencaminhado pela mulher imoral? Por que abraçar o seio de uma leviana? O Senhor vê os caminhos do homem e examina todos os seus passos. As maldades do ímpio o prendem; ele se torna prisioneiro das cordas do seu pecado. Certamente morrerá por falta de disciplina; andará cambaleando por causa da sua insensatez. (Pv 5.1-23)
Esse capítulo, escrito pelo rei mais sábio da História, é uma defesa tanto de monogamia quanto de fidelidade. É bastante estranho que seja de monogamia, uma vez que Salomão foi marido de centenas de mulheres. Todavia, é o que é. Uma coisa é certa: sabedoria não é garantia de fidelidade a Deus, nem de uma vida isenta de erros crassos e pecados.
Veja que monogamia e fidelidade não são apenas “leis de Deus”, mas uma questão de sabedoria, para que as nossas vidas sejam prósperas (no sentido correto) e pacíficas. Se você leu com cuidado, notou que o texto é bastante explícito sobre a relação passional entre marido e esposa. Salomão chega a trazer imagens mentais quanto à relação. Ele é igualmente explícito sobre as tentações e suas consequências.
Já fui interpelado inúmeras vezes sobre as esposas de Davi e de Salomão. “Bispo, como é isso? Como a Bíblia pode ter abonado a poligamia e ao mesmo tempo ensinar a monogamia? Os reis viviam debaixo de outra dispensação?”. Absolutamente. Para entender isso, vamos para o livro de Deuteronômio e veremos que reis também foram duramente avisados contra a poligamia.
Se quando entrarem na terra que o Senhor, o seu Deus, lhes dá, tiverem tomado posse dela, nela tiverem se estabelecido, vocês disserem: “Queremos um rei que nos governe, como têm todas as nações vizinhas”, tenham o cuidado de nomear o rei que o Senhor, o seu Deus, escolher. Ele deve vir dentre os seus próprios irmãos israelitas. Não coloquem um estrangeiro como rei, alguém que não seja israelita. Esse rei, porém, não deverá adquirir muitos cavalos, nem fazer o povo voltar ao Egito para conseguir mais cavalos, pois o Senhor lhes disse: “Jamais voltem por este caminho”. Ele não deverá tomar para si muitas mulheres; se o fizer, desviará o seu coração. Também não deverá acumular muita prata e muito ouro. (Dt 17.14-17)
Veja que tanto Davi quanto Salomão não seguiram a Lei do Senhor. O próprio Salomão acabou cultuando a outros deuses, por causa das esposas estrangeiras que tomou para si (prática comum entre os reis antigos, para selar alianças políticas).
“Mas Deus não falou para Davi que, se ele quisesse mais, até lhe daria?” Esta pergunta se refere à repreensão que o profeta Natã transmitiu a Davi, na ocasião do seu adultério com Bateseba, achado em 2 Samuel 12. O texto é este:
Então Natã disse a Davi: “Você é esse homem! Assim diz o Senhor, o Deus de Israel: ‘Eu o ungi rei de Israel, e livrei-o das mãos de Saul. Dei-lhe a casa e as mulheres do seu senhor. Dei-lhe a nação de Israel e Judá. E, se tudo isso não fosse suficiente, eu lhe teria dado mais ainda. Por que você desprezou a palavra do Senhor, fazendo o que ele reprova? Você matou Urias, o hitita, com a espada dos amonitas e ficou com a mulher dele. (2 Sm 12.7-9)
Mais uma vez temos que entender o que um texto diz e não diz, necessariamente. Deus não se contradiz. Natã fez referência a tudo que Davi possuía, e afirmou que Deus lhe teria dado mais. Mas o que o texto não afirma, necessariamente (e toda interpretação/aplicação das Escrituras precisa obedecer essa disciplina), é que teria lhe dado mais mulheres. Isso não. Já havia avisos contra isso e Deus não é incoerente, nem as Escrituras o são.
Então, há uma dispensação de monogamia e outra de poligamia na Bíblia? Os reis recebiam de Deus uma licença especial no que tangia a sua vida matrimonial? Em absoluto. O plano de Deus foi, e continua sendo, um homem e uma mulher em aliança, por toda a sua vida. É simples assim.
Na paz,
+W