Por James Boice (confira a parte 1 do artigo)
Se a doutrina da reprovação é tão difícil quanto parece, por que devemos falar sobre ela? Um dos motivos, como já vimos, é que a própria Bíblia fala dela. Essa é também a resposta principal para uma pessoa que diz: “Eu nunca poderia amar um Deus assim.”Podemos dizer a essa pessoa: “Tudo bem, mas, ainda assim, esse é o Deus com quem você tem de lidar.” Contudo, essa não é uma resposta totalmente satisfatória e há outras coisas significativas a dizer acerca da reprovação:
[symple_icon icon=”fa-arrow-circle-right” size=”normal” fade_in=”false” float=”left” color=”#fff” background=”#000″ border_radius=”99px” url=”” url_title=””]1. A reprovação nos assegura que o propósito de Deus não falhou. O primeiro benefício dessa doutrina é a mesma coisa que preocupa Paulo em Romanos 9: especificamente, garantir a seus leitores que a palavra de Deus não falhou (v. 6). Deus determinou todas as coisas desde antes do início da Criação e a sua palavra não falha no tocante aos eleitos ou aos réprobos. Isso significa que, se você ouviu as promessas de Deus e creu em sua palavra, pode ter a certeza de que Ele será fiel a você. Se outros estão perdidos, é porque Deus determinou que eles deveriam estar. A perdição deles não significa que o mesmo acontecerá com você. Ela tampouco quer dizer que, de algum modo, Deus falhou em seus planos de evangelizar o mundo. “Sou um dos eleitos?” — você poderia perguntar. A resposta a essa pergunta é fácil: creia no Senhor Jesus Cristo. Se você crê, está entre os eleitos. Essa é a única maneira pela qual qualquer pessoa pode descobrir quem são os eleitos de Deus. Se você precisar de mais garantias no tocante a sua eleição, examine o fruto do Espírito Santo em sua vivência cristã. Porém, a única prova infalível da eleição é encontrada no próprio Cristo e em sua obra de salvação. [symple_icon icon=”fa-arrow-circle-right” size=”normal” fade_in=”false” float=”left” color=”#fff” background=”#000″ border_radius=”99px” url=”” url_title=””]2. A reprovação nos ajuda a lidar com a apostasia. Todos nós conhecemos pessoas que pareciam crer em determinado momento, mas posteriormente se afastaram da igreja. Essa é uma situação perturbadora. Significa que Deus falhou com elas? Não. Significa apenas que, se elas continuam em seu estado descrente, não estão entre o povo eleito de Deus. [symple_icon icon=”fa-arrow-circle-right” size=”normal” fade_in=”false” float=”left” color=”#fff” background=”#000″ border_radius=”99px” url=”” url_title=””]3. A reprovação nos lembra de que a salvação se dá inteiramente pela graça divina e que nenhuma obra humana contribui para isso. Se ninguém se perdesse, poderíamos supor que, de alguma maneira, Deus tivesse a obrigação de nos salvar. Pensaríamos que Ele nos salvou ou por causa de quem somos ou por causa de quem Ele é; de qualquer modo, acharíamos que é seu dever. Mas a situação não é essa. Nem todos são salvos. Portanto, a salvação dos eleitos é devida somente à misericórdia divina. Esse é o ensinamento principal desses importantes textos de Romanos. [symple_icon icon=”fa-arrow-circle-right” size=”normal” fade_in=”false” float=”left” color=”#fff” background=”#000″ border_radius=”99px” url=”” url_title=””]4. A reprovação glorifica a Deus. No momento que começamos a pensar que Deus nos deve alguma coisa ou que Deus é obrigado a fazer alguma coisa, nós o limitamos e diminuímos a sua glória. A eleição e a reprovação envolvem e protegem a glória de Deus, porque nos lembram de que Deus é absolutamente livre e soberano. Deus faz o que quer com o seu universo. Ele é glorificado na condenação dos réprobos e também na salvação dos eleitos; tanto sua justiça quanto sua misericórdia são gloriosas, porque ambas demonstram a sua soberania divina. Quando entendemos essas coisas, também percebemos que a reprovação é uma doutrina do Evangelho. Por quê? Porque a reprovação destaca a misericórdia e reduz aqueles que ouvem e aceitam a doutrina a uma posição de súplica total. Ela nos obriga a clamar: “Jesus, Filho de Davi, tem misericórdia de mim” (Mc 10.47). Enquanto acreditarmos estar no controle do nosso próprio destino, nunca assumiremos essa postura. Mas quando compreendermos que estamos nas mãos de um Deus justo e santo, e que não temos qualquer esperança de salvação sem a sua intervenção soberana livre e absoluta, então pediremos misericórdia, que é a única resposta certa. “Terei misericórdia de quem eu quiser ter misericórdia”, diz o Todo-poderoso. Se crermos nessa sentença, nosso grito será aquele do coletor de impostos: “Deus, tem misericórdia de mim, que sou pecador” (Lc 18.13). Quem pode encontrar falhas em uma doutrina que faz isso? [symple_heading style=”double-line” title=”Mas, Deus é justo?” type=”h2″ font_size=”” text_align=”left” margin_top=”40″ margin_bottom=”40″ color=”undefined” icon_left=”” icon_right=””]Ainda assim, há pessoas que criticam Deus por causa da eleição em si. Mesmo que estejamos convencidos de que Deus opera dessa maneira — muitos não estão convencidos disso, mas precisamos estar se estudamos a Bíblia honestamente —, mesmo assim, clamamos ferozmente que não é correto Deus ser seletivo. “Acaso Deus é injusto?” Essa é a maneira como Paulo formula a questão em Romanos 9.14. Mas ele responde com uma negação enfática:
“De maneira nenhuma!” A Bíblia King James em inglês diz “Deus me livre!”, a negação mais forte que Paulo conseguiu encontrar. Essa resposta, obviamente, não foi pensada para satisfazer à maioria das pessoas dos dias atuais, e há mais a ser dito. Paulo diz mais nos versículos imediatamente seguintes. Mas esse é o ponto de partida adequado. Por quê? Porque ele nos coloca em nosso devido lugar como seres humanos caídos, que é a única posição a partir da qual podemos começar a aprender acerca de coisas espirituais. A própria natureza do pecado é querer estar no lugar de Deus. Mas enquanto tentarmos estar no lugar de Deus, nunca seremos capazes de ouvir o que Deus está nos dizendo. Em vez disso, discutiremos com Ele. Para aprender, precisamos começar por confessar que Deus é Deus e que Ele é, portanto, reto e justo em suas ações, mesmo que não possamos compreender o que Ele está fazendo. Mas como devemos entender a justiça de Deus? Podemos começar pelo fato de que Deus é justo, bem como pelo fato de que Ele elege algumas pessoas para a salvação e pretere outras. Mas quem somos nós para analisar a justiça de Deus por assim fazê-lo? Essa é a pergunta da teodiceia mencionada anteriormente. Eis aqui os elementos essenciais da resposta:
[symple_icon icon=”fa-arrow-circle-right” size=”normal” fade_in=”false” float=”left” color=”#fff” background=”#000″ border_radius=”99px” url=”” url_title=””]1. Todos os seres humanos merecem o inferno, não o céu. A palavra importante aqui é “merecem”. Não estamos falando sobre se as pessoas realmente acabam no inferno, ou se apenas algumas acabam no inferno e algumas no céu. Estamos falando sobre o que todas merecem, e o que todas merecem é a condenação. Isso é justiça. Se tivesse de operarindependentemente de qualquer outro fator, a justiça de Deus não poderia fazer nada além de enviar todos os seres humanos para o inferno. Na verdade, sem a graça eletiva de Deus e da morte graciosa de Cristo, isso é exatamente o que aconteceria. [symple_icon icon=”fa-arrow-circle-right” size=”normal” fade_in=”false” float=”left” color=”#fff” background=”#000″ border_radius=”99px” url=”” url_title=””]2. Se qualquer indivíduo deve ser salvo, isso precisa ocorrer pela misericórdia somente, e a misericórdia recai em uma categoria totalmente diferente da justiça. “Merecedor” tem a ver com o que as pessoas fazem. “Misericórdia” não tem nada a ver com o que as pessoas fazem, mas é algo que encontra sua fonte exclusivamente na vontade de Deus. Romanos 9.15 cita Êxodo 33.19, onde Deus diz: “Terei misericórdia de quem eu quiser ter misericórdia, e terei compaixão de quem eu quiser ter compaixão.” Perceba que Deus nada diz acerca da sua justiça, mas fala apenas
da sua misericórdia. Os dois atributos pertencem a duas categorias diferentes e a eleição é uma questão de misericórdia, não de justiça. [symple_icon icon=”fa-arrow-circle-right” size=”normal” fade_in=”false” float=”left” color=”#fff” background=”#000″ border_radius=”99px” url=”” url_title=””]3. Mesmo que Deus devesse salvar as pessoas com base em alguma de suas características — fé, boas obras ou qualquer coisa —, isso realmente seria uma injustiça, uma vez que os indivíduos têm origens distintas. Pense bem nisto. Se Deus salvasse algumas pessoas e não outras com base em boas obras, que é o que muitas pessoas esperam que Deus faça, não haveria justiça, porque algumas pessoas herdaram temperamentos mais amáveis e mais suaves do que outras e também porque os fatores relativos ao meio que as cercam sempre exercem certa influência. É mais fácil para uma pessoa criada por pais amorosos e morais seguir o caminho deles, fazer escolhas sábias e fazer o bem da maneira como o mundo imagina que o bem deve ser. Nem todas fazem, é claro, mas isso é irrelevante. O ponto é apenas que fazer o bem é mais fácil para essas pessoas do que para outras que foram negligenciadas por seus pais ou criadas em um ambiente cruel e imoral. Ou considere a fé. Não é verdade que algumas pessoas nascem mais confiantes do que outras, e outras são instintivamente mais céticas? Algumas pessoas têm dificuldade de acreditar em qualquer coisa. Têm dificuldade de acreditar nas pessoas, portanto conclui-se que terão ainda mais dificuldade de crer em Deus.
Assim, a eleição não é apenas justa. Ela é justa e Deus está certo em escolher algumas e preterir outras. Mas — e é isso o que importa — a eleição é a única coisa justa. Somente a eleição começa com todas as pessoas no mesmo ponto e no mesmo nível, todas elas merecedoras do inferno. Em seguida, ela salva algumas e pretere outras, sem depender de qualquer característica das próprias pessoas eleitas ou reprovadas.