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A difícil doutrina da reprovação de Deus – Parte 3: duas objeções comuns

Por James Boice (confira as partes 1 e 2 do artigo)

A resposta para a pergunta da teodiceia reside nos pontos recém-demonstrados, mas nossas mentes ainda estão cheias de objeções. Duas objeções são particularmente comuns:

[symple_icon icon=”fa-arrow-circle-right” size=”normal” fade_in=”false” float=”left” color=”#fff” background=”#000″ border_radius=”99px” url=”” url_title=””]1. Deus não deveria demonstrar misericórdia para com todos? Qualquer pessoa que faz essa pergunta ainda não compreendeu a situação. A palavra-chave aqui é “deveria”, que significa “dever” ou “obrigação”, se a justiça tiver de ser feita. Mas assim que usamos essa palavra, voltamos à categoria da justiça e já não estamos lidando com a misericórdia. Se há qualquer “dever” no assunto, a questão já não é misericórdia. Estamos falando de justiça e, como vimos, a justiça nada pode fazer além de enviar cada ser humano para o inferno. Não precisamos de justiça da parte de Deus; precisamos de graça.

[symple_icon icon=”fa-arrow-circle-right” size=”normal” fade_in=”false” float=”left” color=”#fff” background=”#000″ border_radius=”99px” url=”” url_title=””]2. Por que Deus não demonstra misericórdia para com todos? Essa pergunta se parece com a primeira, mas é realmente muito diferente. Ela é a pergunta feita por uma pessoa que compreende a diferença entre justiça e misericórdia, mas ainda se pergunta por que Deus é seletivo. Afinal, Deus poderia demonstrar misericórdia para com todos, não é verdade? Ele não tem de fazê-lo, mas poderia. E se não o faz, por que não? “Esqueça a palavra ‘deveria’”, argumenta essa pessoa. “Minha pergunta é simplesmente: por que Deus não salva a todos?” Essa é uma pergunta adequada, porque busca o entendimento em vez de exigir que Deus se submeta a padrões humanos de certo e errado. Mas ela é também mais difícil do que as questões levantadas até agora, pois indaga sobre as razões de Deus para fazer alguma coisa, e não há qualquer maneira de conhecermos essas razões, a menos que Deus as revele a nós. Ele o faz? Romanos 9.15 parece dizer que não. Somos apenas informados de que essa é a forma de Deus operar: “Terei misericórdia de quem eu quiser ter misericórdia, e terei compaixão de quem eu quiser ter compaixão.” Em outras palavras, uma resposta perfeitamente legítima à nossa pergunta é que “o porquê” não é da nossa conta! Deus não nos deve uma resposta.

Há uma resposta revelada, embora nem todos gostarão dela. No versículo 17, Paulo cita Êxodo 9.16: “Pois a Escritura diz ao faraó: ‘Eu o levantei exatamente com este propósito: mostrar em você o meu poder, e para que o meu nome seja proclamado em toda a terra’.” Esse versículo trata da reprovação e explica que pelo menos um dos propósitos de Deus ao preterir algumas pessoas é demonstrar o seu “poder”, para que seu nome soberano seja proclamado em toda a terra. Em outras palavras, Deus considera importante sabermos que Ele é Todo-poderoso, especialmente para vencer e julgar aqueles que se opõem a Ele, como fez Faraó no tempo do Êxodo.

Alguns versículos depois, Paulo amplia essa ideia, mostrando que a “ira”, o “poder”, a “paciência”, a “glória” e a “misericórdia” de Deus são mostradas na eleição, por um lado, e na reprovação, por outro: “E se Deus, querendo mostrar a sua ira e tornar conhecido o seu poder, suportou com grande paciência os vasos de sua ira, preparados para a destruição? Que dizer, se Ele fez isto para tornar conhecidas as riquezas de sua glória aos vasos de sua misericórdia, que preparou de antemão para glória, ou seja, a nós, a quem também chamou, não apenas dentre os judeus, mas também dentre os gentios?” (vv. 22-24). Isso significa que Deus considera que a demonstração de seus atributos compensa todo o drama da história humana — compensa a Criação, a Queda, a eleição, a reprovação e tudo mais. Do ponto de vista de Deus, a revelação da sua glória ou seja, a revelação de todos os seus atributos gloriosos — é a grande prioridade.

Nem todos ficarão satisfeitos com isso. Talvez você não fique. Mas se você não achar essa resposta satisfatória, se ainda estiver se perguntando: “Mas por que é necessário que o nome de Deus seja glorificado?”, aqui está a resposta: é necessário porque é certo que Deus seja glorificado. Deus é glorioso. Ele deve ser reconhecido como tal. E, por este universo ser dirigido por Deus, não por nós, o que é certo será feito no fim. Deus será honrado e todos se curvarão diante dele.

Você vê aonde isso nos leva? Começamos com a pergunta da teodiceia: Deus está certo em agir como age? Fizemos essa pergunta porque não parecia certo Deus selecionar alguns para a salvação e preterir e julgar outros por seus pecados. Mas quando examinamos a pergunta, como fizemos, descobrimos que a questão é exatamente o oposto do que imaginamos que ela fosse. Descobrimos que Deus age como age exatamente porque Ele é justo. Ele glorifica o nome dele ao demonstrar ira para com os pecadores e as riquezas da sua glória para com os que estão sendo salvos, porque essa é a única coisa certa a ser feita por Deus. É exatamente a sua justiça, não a sua injustiça, que faz Ele operar dessa maneira.

Se nos opomos a isso, nossa objeção só mostra que estamos agindo a partir de um padrão diferente e, portanto, pecaminoso. Por isso Paulo faz esta pergunta que nos confronta: “Mas quem é você, ó homem, para questionar a Deus?” (Rm 9.20a).

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Texto do livro “As Doutrinas da Graça: Resgatando o verdadeiro Evangelho”, de James Boice. A última obra escrita por Boice nos esclarece o que são os cinco pontos do Calvinismo. Clique aqui e conheça mais.

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