6 de abril de 2020. Encerramos nossa terceira semana de quarentena. Estamos nos preparando para mais uma semana de isolamento social. Até quando isso durará? Não sabemos. Mas, o que Deus quer nos ensinar neste tempo de privação e provação?
É cedo demais para tirar todas as conclusões possíveis e necessárias. Portanto, o que segue é uma lista representativa e em construção:
- Nossa geração nunca experimentou um tempo como esse. Talvez nunca na história tenhamos passado por uma crise com ramificações tão abrangentes, transpondo o campo da saúde pública para o da economia, da política e da sociedade como um todo. Tudo isso é potencializado por um mundo globalizado e interconectado ao toque dos nossos dedos. Contudo, não somos a primeira geração da história nem da igreja a enfrentar a peste, o isolamento e a escassez. Nosso tempo exige atenção e vigilância, certamente; mas, também precisamos de humildade. Podemos e precisamos aprender com aqueles que passaram por males semelhantes e até piores no passado, e com muito menos recursos do que nós. (cf. Rm 15.4; 1Co 10.10,11)
- Nós seres humanos somos criaturas frágeis e limitadas. Não temos conhecimento pleno e perfeito do futuro. Sequer sabemos o que virá amanhã. Não temos pleno controle deste mundo e das nossas circunstâncias. A vida é um sopro. O impacto de um único vírus neste mundo lembra-nos da nossa extrema vulnerabilidade. (cf. Sl 90.3-11)
- Somente Deus tem pleno conhecimento do curso da história e pleno controle deste mundo. Ele permanece soberano sobre todas as causas e circunstâncias da nossa vida. Ele faz-se especialmente conhecido e presente em tempos de perigo e necessidade. Por isso, mais do que nunca, precisamos recorrer ao Senhor em oração, com ações de graças, a fim de que sejamos guardados neste mundo pela sua graça, sua bondade e a sua paz que excede todo entendimento. (cf. Sl 46; 90.1-2; Fp 4.6-7)
- O Diabo é um inimigo e adversário incansável que age de maneira intensificada em tempos de crise. Ele nos cerca com todo tipo de tentações, seja para a distração com as notícias e as diversões deste mundo; seja para o medo, a ansiedade e a incredulidade quanto à nossa provisão e proteção; seja para a reclamação e a murmuração quanto às nossas aflições; seja para a ignorância quanto à nossa real necessidade espiritual. Como nunca, carecemos do socorro da Palavra de Deus e do Espírito Santo para resistirmos às armadilhas de Satanás. (cf. Mt 4.1-11; 6.13; Ef 6.10-18)
- Desde a Queda, o mundo sempre foi um lugar hostil à fé e imerso em insensatez e tolice. A enxurrada de informações parciais, tendenciosas e infundadas que ouvimos nos meios de comunicação em massa e nas redes sociais apenas potencializam nossa condição. Não podemos nos render nem à ingenuidade total nem à incredulidade absoluta. Mais do que nunca, precisamos da sabedoria do Senhor para julgar todas as coisas e reter o que é bom. Precisamos também da sabedoria de Deus para saber quanto tempo, de fato, nos dedicarmos a esses meios de comunicação, jamais permitindo que eles ocupem nossa atenção, nossa mente e nosso coração mais do que as promessas firmes e fieis da Palavra de Deus. (cf. Sl 90.12; Fp 4.8; 1Ts 5.21; Tg 1.2-5)
- Em um mundo caído, os governos e os poderes deste mundo sempre conspiraram para concentrar em suas mãos mais poder do que lhes é devido, afrontando assim a glória de Deus. Mesmo em tempos de crise, existem aqueles que procuram avançar seus interesses escusos às custas do bem da maioria e, em especial, dos filhos de Deus. Contudo, Deus conhece muito bem quem se lhe opõe e lhe afronta e quem lhe pertence e nele confia. Ele mesmo prometeu frustrar os propósitos dos ímpios, julgando os homens e guardando o seu povo seguro sob os seus cuidados até o dia da sua visitação final. (cf. Sl 2; Is 8.9 – 9.7; 2Pe 2.9-10)
- Nossas autoridades públicas sempre careceram da sabedoria do Senhor para agirem em favor do bem comum. Deus assim as estabeleceu para o nosso bem. Mais do que nunca precisamos interceder por elas em todos os diferentes âmbitos a fim de que saibam arbitrar entre todos os fatores envolvidos nesta crise e decidir pelo curso de ação mais sábio e prudente, para o bem de todos. (cf. Rm 13.1-7; 1Tm 2.1-4)
- Deus também levantou homens e mulheres em todos os diferentes segmentos da sociedade para servirem de maneira sacrificial, tanto em tempos de bonança como em tempos de crise. Ele levanta profissionais de saúde para atenderem os enfermos e carentes de socorro médico. Ele levanta pastores e ministros da Palavra para guiarem e cuidarem do rebanho do Senhor em um cenário de dúvida, incerteza e agitação. Ele também levanta pais e mães para pastorearem seus filhos a fim de aprenderem a confiar no Senhor e os conduzirem a Deus em tempos de provação. Oremos por todos estes, e tantos quantos vierem à mente, para que saibam exercer seus papeis com fidelidade e perseverança nestes dias. (cf. Ef 6.1-4; Cl 3.23-24; Hb 13.7,17)
- Não é bom que o homem viva só. Não fomos chamados a vivermos permanentemente isolados uns dos outros. Nossa privação do convívio costumeiro do lar, da igreja e da sociedade em geral somente ressalta quanto dependemos e precisamos uns dos outros. Tal privação deve fazer com que sejamos mais gratos a Deus pela liberdade que temos em nosso país de nos agregarmos e nos reunirmos, especialmente para celebrarmos a nossa fé em Cristo, algo do qual muitos cristãos são privados regularmente em várias nações. Nossa provação no isolamento também deve nos tornar mais cientes não só das nossas necessidades individuais e familiares, mas das necessidades dos outros, que carecem das nossas orações e ações de misericórdia e socorro neste momento. (cf. Gn 2.18; Sl 133; Mt 22.37-40; Gl 6.10; Fp 2.1-4; 1Jo 4.7-21)
- Deus jamais nos prometeu em sua Palavra isentar-nos de aflições e provações neste mundo. Antes, ele soberanamente usa nossas adversidades a fim de nos ensinar a confiar nele e depender dele, amadurecendo-nos a fé em sua Palavra e a perseverança em suas promessas. Até mesmo o Senhor Jesus, sendo o Filho de Deus, aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu. Nosso Pai celestial, portanto, tem plena liberdade para disciplinar e educar os filhos a quem ele tanto ama por meio das nossas adversidades. Por mais que as mesmas não sejam motivo de alegria no momento, elas produzem frutos de justiça e santidade naqueles que são exercitados pela disciplina amorosa e bondosa do Senhor. (Jo 16.33; Rm 5.3-5; 8.28-29; Hb 5.8; 12.4-13)
- Deus também tem plena liberdade para despertar um mundo rebelde e pecador por meio do sofrimento. Ele enviou as pragas no Egito para humilhar Faraó e seus súditos, além dos ídolos daquela terra. Ele enviou a seca, a fome e a guerra a Israel para quebrantar o coração endurecido daquela nação. E ele ainda tem plena liberdade para orquestrar os eventos da história para confundir os homens, humilhar aquilo de que se orgulham e conclamá-los ao arrependimento das suas más obras a fim de temerem ao Senhor e Juiz de toda terra. Como já foi dito por C.S. Lewis: “Deus sussurra em nossos ouvidos por meio de nosso prazer, fala-nos mediante nossa consciência, mas clama em alta voz por intermédio de nossa dor; este é seu megafone para despertar o homem surdo.” (cf. Ex 18.10-11; 1Rs 18.16-46; Ap 9.20-21)
- Em tudo isso, o Evangelho da graça soberana de Deus em Jesus Cristo continua sendo plenamente suficiente para nos suprir em dias maus. Pelo Evangelho somos lembrados de que a nossa maior necessidade já foi suprida no sacrifício do Calvário e no sepulcro vazio. Porque Cristo padeceu pelos nossos pecados a fim de nos prover eterna salvação, temos plena paz com Deus – hoje, amanhã e sempre. Se Deus agiu para nos suprir nosso bem eterno, não há nada que ele deixará de suprir para o nosso bem terreno. Contudo, a privação momentânea das suas bênçãos terrenas deve aguçar o nosso apreço pelas suas bênçãos espirituais, que jamais passarão com a passagem desta vida e deste mundo. Cristo é por nós. Cristo está conosco. Cristo assim prometeu, até o fim dos tempos. Basta confiarmos e descansarmos em seu amor fiel e soberano a cada novo dia, até o fim dos nossos dias. E, na medida em que o Senhor assim nos permitir nestes dias maus, devemos compartilhar esta esperança com aqueles que ainda estão confusos e perdidos neste mundo, sem Cristo, sem vida e sem esperança. (cf. Mt 6.25-34; 28.20; Rm 5.1-2; Ef 1.3-14; 2.11-22; 2Co 1.3-11)
Todas essas lições, e muitas outras que ainda virão, são especialmente pertinentes e relevantes em tempos de crise como os nossos. Porém, elas não são lições reservadas exclusivamente a este tempo. O que Deus quer nos ensinar e o que precisamos aprender agora, se já não o tínhamos aprendido antes ou já havíamos nos esquecido com o tempo, é o que precisamos lembrar em todo tempo, em todo lugar e em toda circunstância, quer favoráveis ou não.