Quando falamos de uma visão correspondentista da verdade, pela qual definimos verdade como aquilo que corresponde à realidade que nos foi dada por Deus, não estamos participando simplesmente de uma investigação abstrata de questões filosóficas. Essa visão tem enormes implicações e consequências para nós como seres humanos em nossas vidas diárias. Aqui está minha visão sobre alguma dessas implicações.
Primeiro, comecemos pela boa notícia: no dia do juízo, Deus julgará o mundo inteiro — cada evento, incidente, crise nacional e crise pessoal — de acordo com a verdade. Ele não terá de deliberar e apresentar suas opiniões a um júri para que este debata sobre o que é a verdade. Ninguém votará sobre o que é a verdade, pois Deus dará um veredicto perfeito dela.
Você já imaginou por que a Bíblia usa a imagem de silêncio e bocas fechadas (ver Hc 2.20; Rm 3.19; Ap 8.1) ao falar sobre o dia do julgamento? Estou convencido de que é porque a verdade do juízo de Deus será tão absolutamente manifesta, que até mesmo o ser humano mais rebelde reconhecerá a total futilidade de um debate adicional. Quando Deus exerce e profere seu julgamento, o debate está encerrado. Por quê? Porque a verdade foi dita por Aquele que a conhece de maneira perfeita.
Há muitos momentos em que estamos com pessoas que sabem muito mais do que nós a respeito de certas coisas. E, muitas vezes, debater com elas é como se entrássemos onde os anjos temem pisar. Era o que acontecia comigo quando eu costumava fazer isso com meu mentor, John Gerstner! Mas vou deixar registrado que mesmo Gerstner pode estar errado. Não sei em que, mas tenho de afirmar essa possibilidade! Então, isso pelo menos me desculpa, em parte, da minha disposição para discutir com ele. Mas quem contenderá com o Todo-Poderoso? Quem foi o seu guia ou conselheiro? Como ouvi Eric Alexander dizer: “Quem vai corrigir o ponto de vista de Deus?”
Há outra boa notícia, dessa vez relacionada à Bíblia. Há aqueles que dizem que as Escrituras representam nada mais do que visões e opiniões dos judeus primitivos e pré-científicos da antiguidade. Seja qual for o nível em que tais pontos de vista tenham significado para nós hoje, eles afirmam que seu valor é meramente histórico. Nenhuma norma de autoridade da Bíblia pode restringir a consciência de um ser humano porque ela é totalmente restrita às palavras de homens. Ora, amados, se a Bíblia é simplesmente palavras de homens, então ela não tem direito sobre a sua consciência. Ela não pode prendê-lo a uma obrigação definitiva. Eu poderia concordar com isso, mas primeiro precisaríamos confirmar a premissa desse argumento.
O problema é que não consigo entender as pessoas que me dizem que a Bíblia é a Palavra de Deus e ainda assim ela pode errar, mas a verdade de Deus não pode errar. Em outras palavras, sob esse ponto de vista, a Bíblia é a Palavra de Deus, mas não é a verdade de Deus. Isso é simplesmente absurdo. Se ela é a Palavra de Deus inspirada por Ele, é impensável que Deus, que é a Verdade, possa inspirar a falsidade. Portanto, se ela é a Palavra inspirada de Deus, então nós temos a verdade.
Lembro-me de ter participado de um curso sobre educação cristã no seminário. O professor pediu que elaborássemos uma lição criativa de escola dominical para as crianças. Eu não sabia mais o que fazer, então projetei um jogo bem simples de palavras cruzadas. O objetivo era tornar a assimilação desses princípios algo parecido com um jogo, para tornar o aprendizado divertido. O professor me censurou! Ele disse: “Você não percebe o que acabou de comunicar a essas crianças?” E eu disse: “Não, senhor. O que foi?” Ele respondeu: “Ao usar esse jogo de palavras cruzadas, você está sugerindo que a vida é um quebra-cabeça e a Igreja tem todas as respostas.”
Isso me fez lembrar as palavras de Paulo a Timóteo. Homens como esse professor estão “sempre aprendendo, e jamais conseguem chegar ao conhecimento da verdade” (2 Tm 3.7). Depois disso, esse mesmo professor nos deu uma aula sobre como a verdade é uma busca. Para ele, esta era a verdadeira instrução: simplesmente buscar a verdade, sem nunca chegar a conclusões. Então, perguntei-lhe: “Bem, então, o que eu estou fazendo aqui, no seminário?” Ele realmente não teve uma resposta para dar.
Não foi minha intenção sugerir às crianças que a Igreja tem todas as respostas, porque confessamos que a Igreja não tem todas as respostas. Sabemos que o nosso conhecimento de Deus não é abrangente ou exaustivo e que há ainda um elemento da verdade que não apreendemos, pois vemos obscuramente como em um espelho (ver 1 Co 13.12). Essa é a declaração do Cristianismo. Mas o que Deus nos revelou, como Martinho Lutero disse certa vez, “é mais certo do que a própria vida”. Ou, como Lutero disse em outro momento, Spiritus sanctus non est scepticus: “O Espírito Santo não é cético.” Portanto, como cristãos, cremos que o manancial de toda a verdade nos foi dado na Palavra de Deus, a Bíblia, da qual Jesus disse: “A tua palavra é a verdade” (Jo 17.17).
Este texto foi tirado do livro “Firme Fundamento: A Inerrante Palavra de Deus em um Mundo Errante”.
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