Não me parece que estejamos avançando com o Evangelho de Jesus Cristo tanto quanto os números podem mentirosamente sugerir. Esse nosso “corrupto” coração, autor de tantos ludíbrios, não se cansa de tentar convencer-nos de que estamos experimentando um avivamento cristão, comparado ao que ficou conhecido na história recente da Igreja como primeiro e segundo despertamento. Mas, a análise um pouco mais paciente e rigorosa dessa nossa versão tupiniquim de crescimento, nos fará admitir que estamos muito longe do lugar em que imaginamos estar. Não estamos experimentando nenhum tipo de avivamento aqui no Brasil. O que na verdade estamos vivendo por aqui, é um fenômeno combinado entre mídia religiosa e descaso do estado, um fato puramente sociológico.
Como eu gostaria de poder dizer que estamos em meio a um grande avivamento! Missiólogos da outra América e da Europa, encantam-se com a efervescente atmosfera evangélica nacional e acabam por enxergar o inexistente. Templos lotados, espaço na mídia, intensa produção musical e ocupação de cargos públicos por parte de bispos e pastores, não são marcas de um despertamento espiritual. Antes, são realidades que expõem a cristandade à perigosa suposição da aprovação ou aceitação divina de tudo que se pratica “em nome de Jesus” por todo o nosso vasto território nacional.
Os ingredientes históricos de um avivamento espiritual são outros; e a combinação deles concorre para dois resultados inapeláveis: a transformação pessoal com reflexos na sociedade; e a insuportável convicção de pecado que cai sobre indivíduos e comunidades inteiras. Por essas terras de Vera Cruz, não conseguimos enxergar (em qualquer proporção) a presença de sequer de um desses dois componentes. O que temos por aqui é uma clara mistura de rituais e artefatos, emoldurados por práticas religiosas arraigadas ao ideário brasileiro, que agradam por sua relação com bem-estar.
Se quisermos ver um avivamento espiritual legítimo do Arroio ao Chuí, teremos que partir da humilhação; da desglorificação humana; da busca sincera à Deus por si mesmo. Pois, toda essa desconstrução da imagem divina, tornando-o um meio e não o fim, transformando-o num moleque ou alguém que possa ser ameaçado por supostos “sacrifícios” financeiros, não é um problema hermenêutico, é um aberto ato pecaminoso. Deus é Senhor Soberano; e qualquer movimento cristão que não declare isto e demonstre viver sob tal realismo, é anátema, é outro evangelho.
Avivamento legítimo traz de volta a centralidade de Cristo e de Seus ensinamentos. Avivamento legítimo move as entranhas da alma e conduz cristãos ao culto racional, ao culto da vida, àquele que exige o sacrifício do corpo, o único que é aceitável à Deus. Mas, corremos o risco de passarmos para a história como uma geração vazia, a que mais teve acesso ao texto sagrado e não o compreendeu; a que mais teve acesso aos recursos, mas que os usou para mérito próprio. Não tenho dúvida de que teremos de prestar contas desse desperdício.
Pessoalmente, acredito que seja o momento de cristãos genuinamente movidos pelo interesse de glorificar a Deus e fazê-lo conhecido em sua geração, juntarem-se para orar por um verdadeiro avivamento, mas isentos de seus vícios denominacionais, de ter que transformar o ato da oração num desfile vaidoso de seus atributos. Refiro-me a juntarem-se sob o desejo de serem quebrantados por Deus; confessarem juntos os seus pecados; pedirem uma habilidade sobrenatural para fazer conhecido o nome de Cristo e permitirem que Deus os encha de genuíno amor. Se nos humilharmos e buscarmos a Deus de todo coração, talvez ainda reste alguma esperança para a nossa geração.
Com amor e carinho,
Pr. Weber (ICNV | Vila)