Quando caiu o muro de Berlim, a Polônia passou pela revolução democrática e o bloco soviético começou a ruir, o então Papa João Paulo II fez uma advertência à Europa Oriental: “Não procurem sabedoria no Ocidente. Eles são excelentes no que tange à fabricação de bens, mas não sabem criar os seus filhos”. Gelei ao ler essa afirmação, pois sabia que era verdade. O que mais tenho visto é geração após geração se perdendo por falta de disciplina, orientação, amor e limites.
Na intenção de celebrar a proverbial “liberdade” do Ocidente, geração após geração têm abandonado seus filhos e os entregue tanto aos seus desejos mais primitivos quanto ao mercado – que tem feito deles suas vítimas, devorando suas mentes e seus futuros em troca de ganho sórdido. Ibope, compras, cartões de crédito e casas de festas têm roubado dos filhos desta geração a noção de realidade. Temos visto meninas de 7 e 8 anos de idade indo para suas festas de aniversário de salto alto, maquiadas e de limusine cor-de-rosa. É simplesmente uma aberração e os pais sequer têm coragem de dizer aos filhos que isso é um absurdo.
Chego a pensar que esses adultos, que por sua vez nunca foram bem criados, sequer entendem o efeito brutalizante que tudo isso está tendo sobre a mente e a alma de seus filhos e suas filhas. Estamos criando pessoas que não têm a menor noção do valor da sua vida. Que não terão defesas próprias contra um mercado cada vez mais agressivo e devorador. Não é só o nosso dinheiro que estão levando, mas a nossa imaginação, nosso respeito próprio e o nosso mundo mental. Estamos criando uma geração de gado, pronto para o abate.
Na intenção de fazer um agrado, abandonamos suas almas para a desnutrição criminosa, embalados pela música desta geração impiedosa e fútil. Veja as palavras urgentes de Provérbios, o livro dos sábios:
A insensatez está ligada ao coração da criança, mas a vara da disciplina a livrará dela. (22.15)
Não evite disciplinar a criança; se você a castigar com a vara, ela não morrerá. (23.13)
Quem se nega a castigar seu filho não o ama; quem o ama não hesita em discipliná-lo. (13.24)
Quem acolhe a disciplina mostra o caminho da vida, mas quem ignora a repreensão desencaminha outros. (10.17)
Quem despreza a disciplina cai na pobreza e na vergonha, mas quem acolhe a repreensão recebe tratamento honroso. (13.18)
O insensato faz pouco caso da disciplina de seu pai, mas quem acolhe a repreensão revela prudência. (15.5)
Veja que não estou dizendo que pais devem sair batendo nos seus filhos. Absurdo. Não é isso. A “vara” é um instrumento de consolo e de impor limites, e, em último caso, de castigo. É o que Davi disse em Salmos 23.4: “Mesmo quando eu andar por um vale de trevas e morte, não temerei perigo algum, pois tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me protegem” (NVI).
O bom pastor usava a vara para dar um toque nas ovelhas, conduzi-las e puxá-las das valas nas quais caíam. Ou seja, a vara ajudava a criar limites para os animais. Até no vale da sombra da morte, o rebanho era conduzido por essa vara de disciplina. Disciplina consola. Disciplina protege e conduz em meio a perigos que nos cercam. Quem despreza a disciplina se condena a si mesmo. Quem recusa criar limites para os seus filhos odeia-os, segundo Salomão.
Então, vovô, vovó: você, que já criou seus filhos, ganhou um netinho. De repente você acha charmoso não ter que impor mais limites. Tudo o que aquela fofura quiser você vai conceder. Na sua casa pode tudo. Sob os seus cuidados você pretende “estragar” os seus netos. Afinal, cuidar da disciplina é com os pais. É a obrigação deles. Você agora tem os meios para dar a seus netos tudo o que os corações deles, cheios de astúcia, desejarem.
Vou lhe dizer a mais pura verdade: fazer isso é um ato de desprezo pelos seus netos. É um atentado contra o seu futuro. É um abuso do acesso que você tem a eles, por virtude de parentesco. Vovô e vovó não têm esse direito. Não têm licença, perante Deus, de desfazer a disciplina dos pais (se bem que muitos pais nem se dão ao trabalho de disciplinar os seus filhos). Você não quer ser o chato. Quer ser amado. Quer que o netinho ou a netinha venha pular no seu colo com um beijo gostoso, e aquela vozinha doce: “Vovô, vovó, eu te amo”.
Claro que você está mais velho. Quem sabe até está um pouco solitário. Quer ser ímã dos netinhos. Quer que eles peçam aos pais para visitarem a casa da vovó. Que tática melhor do que criar um ambiente no qual todos os desejos – por mais egoístas que sejam – desses pequeninos sejam realizados? Vão poder comer doce em vez de legumes. Vão poder dormir quando bem entenderem. Vão poder assistir à televisão até que caiam no sono, na frente do televisor. Vão poder fazer tudo o que os pais não deixam fazer.
Que vergonha! Quem faz isso não o faz para o bem da criança e sim para satisfazer a sua carência egoísta. Pense no futuro dela. Pense nela quando tiver que passar pelo vale da sombra da morte. Sem vara, não haverá uma proteção interna, uma bússola (por assim dizer) que lhes mostrará o norte. Aquela menina doce cairá nos braços de qualquer malandro que prometer fazer todas as suas vontades. Aquele menino será levado a esquemas de enriquecimento fácil que enredarão a sua alma e o destruirão. Sem a vara guiando o seu coração, a astúcia será o seu viés. A destruição será o seu destino.
Vamos parar com isso e amar nossos filhos, mas nossos netos também. Ser avós não é licença para matar. Está na hora de pedir perdão a Deus pelo que fizeram, começar a orar pelos seus netos e se tornar parceiro de seus filhos na criação dos pequeninos.
Na paz,
+W