Uma das objeções à eleição incondicional que ouvimos com mais frequência é que ela impugna a justiça de Deus. O arminiano afirma que Deus é desleal e injusto se trata as pessoas diferentemente ou concede a alguns um favor que nega a outros.
Mas essa é, certamente, uma maneira estranha de definir justiça. A justiça é o princípio em virtude do qual uma pessoa recebe o que lhe é devido. Negar a uma pessoa o que ela merece ou o que a lei exige que ela receba é agir injustamente. Como pode, então, ser injusto negar a uma pessoa o que ela não merece? Se você me deve e eu exijo pagamento, dificilmente se pode dizer que agi injustamente. De semelhante maneira, se você não me pagar, como é obrigado por lei, a justiça exige que você sofra as consequências.
Toda a humanidade tem uma dívida infinita para com Deus, tendo sido condenada justamente a sofrer as consequências penais que o pecado merece. Ninguém pode afirmar legitimamente que merece misericórdia ou clemência divina, porque “não há ninguém que faça o bem, não há nem um sequer” (Rm 3.12). O veredicto das Sagradas Escrituras é “culpado das acusações”, sem base para novo julgamento ou recurso.
Nenhuma acusação legítima pode ser movida contra o tribunal se o “Meritíssimo” entregar imediatamente toda a raça de Adão à morte eterna. Não há recurso cabível para os réus, nem na lei nem em si mesmos. Nenhum detalhe técnico do desenvolvimento processual do julgamento ou testemunha de caráter em favor do acusado pode ser reivindicado. Ao contrário dos juízes terrenos que podem ser confundidos por advogados de raciocínio rápido ou subornados por partidários inescrupulosos, Deus pesa todas as provas e julga com absoluta imparcialidade. O veredicto é o mesmo para todos: Culpado! A punição é a mesma para todos: Morte Eterna!
Deus não tem obrigação de salvar a ninguém, e é inteiramente justo em condenar a todos. O seu perdão a alguns se deve inteiramente à graça livre e soberana. Assim, “a maravilha das maravilhas”, diz Benjamin Warfield, “não é Deus, em seu infinito amor, não ter elegido todos desta raça culpada para serem salvos, mas ter elegido alguns. O que realmente precisa ser reconhecido — embora reconhecê-lo vá muito além do que nossa imaginação possa conceber — é como o Deus santo poderia consentir salvar um único pecador sem ir contra a sua natureza. Se sabemos o que é o pecado, o que é a santidade e o que é a salvação do pecado para a santidade, isso é o que enfrentaremos”.
Vejo-me obrigado a confessar que a pergunta que assombra meu coração não é “Como pode Deus ser justo?”, mas “Como pode Deus ser misericordioso?” Não é “rejeitei Esaú” que me incomoda, mas “amei Jacó” que me surpreende absolutamente.