Tiago disse nas últimas frases da sua carta: “A oração feita com fé curará o doente; o Senhor o levantará. E se houver cometido pecados, ele será perdoado. Portanto, confessem os seus pecados uns aos outros e orem uns pelos outros para serem curados. A oração de um justo é poderosa e eficaz”. (Tg 5.15,16)
Paro e penso sobre essas palavras. Causam-me estranheza, simplesmente porque não praticamos isso — e sequer sabemos como fazê-lo. Confissão é coisa que os católicos praticam. Achamos que a confissão tem de ser feita a Deus somente. Nenhum outro ser humano deveria ser o receptor das nossas confissões. “… Pois há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens: o homem Cristo Jesus, o qual se entregou a si mesmo como resgate por todos.” (1Tm 2.5,6). Isso sabemos pela carta de Paulo ao seu discípulo Timóteo. No entanto, o próprio Paulo fala repetidamente da sua intercessão em favor dos seus filhos na fé, das igrejas que plantou. Intercessão não é um conceito católico. Pedir que se faça intercessão por pessoas mortas certamente é. Mas o conceito de ter a ajuda de alguém na sua aproximação a Deus, e com sinceras súplicas, é bíblico.
Pedimos ao próximo para orar por nós quando estamos confusos, enfermos ou passando por alguma necessidade. Sentimo-nos fracos e longe de Deus. A palavra amiga e a intercessão sincera cumprem as instruções de Cristo: “Também lhe digo que se dois de vocês concordarem na terra em qualquer assunto sobre o qual pedirem, isso lhes será feito por meu Pai que está nos céus. Pois onde se reunirem dois ou três em meu nome, ali eu estou no meio deles.” (Mt 18.19,20).
O ethos evangélico é lamentavelmente solitário. Estribamo-nos demais na oração feita no quarto a sós. Nossa vida espiritual carece de direção espiritual, de uma mentoria, de um conselheiro, de um confessor. Sim, ouso dizer: de um confessor. É claro que perdemos o profundo significado desse santo remédio. Nem pensamos no que isso nos custou, no que nos tirou. Tornamo-nos obstinadamente solitários e ainda achamos que é melhor assim. Mas será? Não creio.
A Igreja evangélica precisa pensar seriamente sobre o quanto o pecado secreto tem corroído o nosso ser interior. Temos perdido vigor e alegria. Os nossos ossos estão frágeis e a nossa pisada perdeu a sua certeza. Sim, porque o pecado nos adoece. Tira a nossa paz. Tira a nossa ousadia perante o trono da graça. Precisamos orar uns pelos outros. Mas, como orar sem que haja concordância? O ato de confissão ajuda a acrescentar ciência à oração feita. Mas, tragicamente, faltam confessores protestantes. Faltam os votos de confiabilidade — o voto de manter em segredo a confissão. Muitos pastores chegam em casa, à noite, e despejam nas suas esposas tudo o que ouviram e fizeram durante o seu dia. Compartilham até o que ouviram em gabinete pastoral. Isso inviabiliza a confissão franca, honesta e libertadora.
Creio que, mediante a confissão e a oração entre irmãos, há um caminho para cura, perdão e saúde espiritual, como poucos não católicos têm.
Não estou dizendo que católicos são mais saudáveis do que os protestantes. Ah, se eu dissesse isso, como eu seria crucificado pelos meus irmãos evangélicos! Mas estou dizendo que, quando termina o banho do neném, não se joga fora a criança com a água suja do banho. Assim, creio que, ao abandonarmos muitos dos erros da ICAR, a Reforma e todos os seus descendentes abandonaram algumas práticas preciosas e importantes para a saúde do fiel (se bem que Lutero defendeu confissão e penitência como o terceiro sacramento, após o Batismo e a Eucaristia).
Um confessor tem de ser alguém que faz um voto perante Deus de manter em absoluto segredo tudo o que ouve. Tem de ser alguém que não rejeitará quem fizer a confissão. Mas que, com temor a Deus, poderá orar pela cura da sua alma ferida pelos pecados que praticou, seja em palavra, ação ou pensamento.
Quantos não andam precisando de um confessor? Quantos não carregam no seu peito um fardo? Quantos não precisam ouvir de alguém piedoso e temente a Deus “nem eu te condeno…”? Quantos não precisam ouvir alguém dizer o que não conseguimos ouvir Deus falar audivelmente, “eu te absolvo”? Como isso nos faria bem. Estou errado?
Na paz,
+W