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Cristãos fugindo da escola | Por Gabriel Carvalho

Uma professora idosa, tom de voz maçante, retroprojetor falhando, dois tempos de aula… e uma turma cheia de garotos de 8 anos de idade querendo correr e jogar bola no pátio. Quantas vezes eu e você já não recebemos um tentador convite para “matar aula” e fugir da escola para fazer uma atividade mais “agradável”? Essa atitude era ruim para qualquer aluno, mas para um aluno declaradamente cristão, era uma afronta – afinal, os cristãos precisam dar o exemplo.

Exemplo. Está aí uma palavra tão falada mas tão pouco praticada. Precisamos refletir no fato de que temos hoje uma geração de cristãos adultos que está “fugindo da escola”. Eles não querem mais sentar e aprender das coisas de Deus nos cultos, na Escola Dominical ou em outras iniciativas de ensino da igreja. Trocaram os seus professores por novos mestres. Vejamos alguns deles:

1) Streaming: a nova onda de plataformas de streaming de áudio e vídeo tem tomado um tempo absurdo de nossas vidas. É absolutamente humilhante compararmos o tempo que passamos assistindo séries, filmes, documentários etc. com o tempo investido no estudo da Bíblia, na leitura de um livro ou na realização de algum curso. Temos sido ensinados não mais pelas vivas palavras das Escrituras, ou por grandes mestres em seus livros, mas nossos professores têm sido os roteiristas e diretores das grandes produções audiovisuais de sucesso. Indiretamente, temos adquirido e aprendido os princípios (muitas vezes anticristãos) de tais produções, pois eles têm sido a nossa escola;

2) Redes sociais: associada às plataformas de streaming, temos outra grande ferramenta de influência e ensino em nossa sociedade. É comprovado que todas as novidades e incrementos das redes sociais são pensadas para que sejamos cada vez mais influenciados por elas. Num círculo vicioso de busca por informação, o que recebemos, na realidade, é uma grande massa de lixo informativo – alguns fatos e outras montanhas de fake news que alimentam nossa sede por uma informação pobre e rasa. A dependência dessas interfaces expõe claramente que estamos presos nessa “sala de aula” de alienação e empobrecimento intelectual. As lições que temos aprendido nessas redes não nos fará melhores cristãos, mas nos guiará no caminho contrário.

3) Televisão: apesar de não ter mais a influência de antes, esse aparelho ainda reserva uma relevante parcela “professoral” às famílias de nossa sociedade. Sua posição central e de destaque em nossas salas e quartos demonstra sua importância. A posição enfileirada da família frente ao “professor TV” e a atenção que dão aos seus ensinamentos nos remetem a um cenário de sala de aula, onde os telespectadores absorvem os novos ensinos repassados por programas cada vez mais explicitamente “didáticos” – tudo hoje na TV, desde o talk show até o comercial de margarina – quer ensinar alguma coisa. E nós temos recebido e aprendido muitos valores que a televisão nos passa.

4) Política: é notória a recente politização da sociedade, porém mais surpreendente ainda é a intensidade com que essa mudança ocorreu dentro do povo cristão. Com esse acirramento ideológico, muitos fugiram da “aula” da pregação do Evangelho e do conhecimento das Escrituras, para uma outra “aula”: a da política. Muitos cristãos extremamente tímidos para evangelizar estão se mostrando grandes evangelistas políticos; outros que não se importavam muito com estudar a Bíblia estão se mostrando graduados em correntes políticas aqui e acolá. Com isso, nossos cultos e classes minguam, enquanto as passeatas e comícios cada vez mais se enchem de cristãos.

Nenhum desses quatro “novos mestres” apresentados é um mal em si mesmo. É preciso reconhecer que é possível fazer um uso positivo de todos eles. O que tem desgraçado os cristãos é que eles não tem conhecimento das Escrituras, e do Deus das Escrituras. Por isso ficam deslumbrados com esses “professores” que o deus entretenimento nos oferece. Uma aula de Escola Dominical, um curso na igreja, até mesmo os cultos, já não são mais tão agradáveis e atraentes assim. Por isso, “fogem da escola”, em busca de satisfação de suas vontades e desejos interiores.

Como disse no início, muitos fogem da escola. Mas quando um cristão faz esse caminho, isso se torna mais grave, pois o seu exemplo é requerido. Um cristão não pode fazer coisas “só porque todo mundo faz”. Ser salvo é algo gratuito, mas seguir a Cristo custa. Nossas atitudes e exemplos, a começar por quem são os nossos “professores”, vai apontar quem somos como cristãos, e qual exemplo deixaremos para a próxima geração da igreja. Um novo despertar da igreja cristã envolve, dentre outras coisas, de “voltarmos à sala de aula” correta, com os mestres corretos, a fim de glorificar o nome de Deus acima de todas as coisas. Deus o abençoe!

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