O chamado à oração é um chamado à disciplina. Infelizmente, muitos rejeitam essa ideia, argumentando que esse tipo de pensamento promove o legalismo. Mas isso simplesmente não é verdadeiro.
Existe uma diferença interminável entre legalismo e disciplina. O legalismo tem em seu âmago o pensamento de tornar-se melhor e, assim, obter mérito por meio do exercício religioso. Por sua vez, a disciplina brota de um desejo de agradar a Deus. Assim, vemos que Paulo, um oponente declarado do legalismo, nos admoesta à disciplina ao dizer: “… exercite-se na piedade” (1 Timóteo 4.7). Ao perseguirem os propósitos de Deus para suas vidas, os servos de Deus precisam exercitar-se com uma disciplina semelhante à dos atletas. Não existirá vida de oração sem essa disciplina.
Como todos sabemos, nem sempre é fácil! Então, a pergunta é: como nos disciplinamos a orar? Certa vez, o Dr. J. Sidlow Baxter compartilhou uma página do seu próprio diário pastoral com um grupo de pastores que fizeram exatamente essa pergunta, o que foi de grande proveito.
Ele começou contando como, em 1928, entrou para o ministério determinado a ser o “mais metodista-batista” dos pastores, um verdadeiro homem de oração. Contudo, não demorou muito para que as suas responsabilidades pastorais crescentes, os deveres administrativos e os subterfúgios sutis da vida pastoral começassem a empurrar a oração para longe. Ele começou a acostumar-se com aquilo, criando desculpas para si mesmo.
Então, certa manhã, ele entrou em crise quando se inclinou sobre sua escrivaninha lotada de trabalho e olhou o relógio. A voz do Espírito o chamava a orar, mas, ao mesmo tempo, outra vozinha aveludada lhe disse para ser prático e responder à correspondência, e que ele tinha de encarar o fato de não ser do tipo espiritual, que apenas algumas pessoas podiam ser assim. Foi a gota d’água! “Aquela última observação”, disse Baxter, “me feriu como a lâmina de uma adaga. Eu não conseguia suportar pensar que era verdade”. Ele ficou horrorizado com sua capacidade de afastar, por meio da racionalização, aquilo que era justamente o fundamento de sua vitalidade e seu poder ministeriais.
Naquela manhã, Sidlow Baxter deu uma boa examinada em seu coração e descobriu haver uma parte dele que não queria orar e outra parte que queria. A parte que não queria eram as suas emoções, e a parte que queria eram seu intelecto e sua vontade. Essa análise preparou o caminho para a vitória. Nas palavras inigualáveis do próprio Dr. Baxter:
Como nunca ocorrera, minha vontade e eu ficamos face a face. Fiz a ela uma pergunta direta: “Vontade, você está pronta para uma hora de oração?” Ela respondeu: “Eis-me aqui e estou bem pronta, se você estiver.” Então, a Vontade e eu demos os braços um ao outro e nos dirigimos ao nosso tempo de oração. Em uníssono, as emoções começaram a se agitar e a protestar: “Nós não vamos.” Vi a Vontade vacilar um pouquinho, então perguntei: “Você consegue aguentar, Vontade?” e ela respondeu: “Sim, se você conseguir.” Então, a Vontade prosseguiu e nós fomos orar, arrastando conosco aquelas emoções que se contorciam fazendo um escândalo. Foi uma luta o tempo todo. A certa altura, quando a Vontade e eu estávamos em meio a uma fervorosa intercessão, de repente descobri que uma daquelas emoções traiçoeiras criara uma armadilha para a minha imaginação e se desviara para o campo de golfe; e foi tudo que pude fazer para arrastar de volta a terrível malandra. Pouco tempo mais tarde, descobri que outra das emoções fugira com alguns pensamentos desprotegidos e estava no púlpito, dois dias antes do programado, pregando um sermão que eu ainda não terminara de preparar!
Ao final daquela hora, se você me perguntasse: “Foi um ‘tempo agradável’?”, eu seria obrigado a responder: “Não, foi uma desgastante luta com emoções contrárias e uma imaginação gazeteira do começo ao fim.” Digo mais, aquela batalha com as emoções continuou por duas a três semanas e, se então você me perguntasse, “A sua oração diária foi um ‘tempo agradável’?”, eu teria de confessar: “Não, às vezes parecia que os céus eram de bronze e Deus estava distante demais para ouvir, e o Senhor Jesus estranhamente indiferente, e que a oração não estava fazendo a menor diferença.”
Contudo, algo estava acontecendo. Por exemplo, a Vontade e eu realmente ensinamos às emoções que nós éramos completamente independentes delas. E também, certa manhã, cerca de duas semanas após o início da luta, justamente quando a Vontade e eu iniciávamos outro tempo de oração, ouvi casualmente uma das emoções sussurrar para as outras: “Vejam, é inútil desperdiçar qualquer tempo a mais resistindo: eles vão continuar.” Naquela manhã, pela primeira vez, embora ainda não colaborassem, as emoções estavam, pelo menos, sossegadas, o que permitiu à Vontade e a mim nos dedicarmos à oração sem distrações.
Então, algumas semanas depois, o que você pensa que aconteceu? Durante um de nossos momentos de oração, quando a Vontade e eu já pensávamos nas emoções tanto quanto no homem ter ido à Lua, uma das emoções mais vigorosas se manifestou inesperadamente e gritou: “Aleluia!”, ao que todas as outras emoções exclamaram: “Amém!” E, pela primeira vez em toda a minha existência, o intelecto, a vontade e as emoções se uniram em uma operação coordenada de oração. De repente, Deus era real, o céu estava aberto, o Senhor Jesus estava luminosamente presente, o Espírito Santo se movia de fato nos meus anseios e a oração era surpreendentemente viva. Além disso, naquele instante tive uma repentina percepção de que o céu estivera observando e escutando o tempo todo durante aqueles dias de luta contra ânimos gelados e emoções amotinadas; e também de que eu fora submetido a uma instrução necessária por meu Mestre celestial.
Conservos, nós sabemos que o Espírito Santo nos incita a orar, até intercedendo por nós, mas também sabemos que existe a nossa parte, que é a disciplina. Certamente, nada podemos fazer por nosso próprio poder; no entanto, somos chamados a sermos colaboradores de Deus. “Ponham em ação a salvação de vocês com temor e tremor”, diz a Palavra de Deus, “pois é Deus quem efetua em vocês tanto o querer quanto o realizar, de acordo com a sua boa vontade” (Filipenses 2.12,13). Além de tudo mais que é necessário para isso, a disciplina é essencial.
Ao orarmos, desnudamos nossas almas à luz de Deus. Ele imprime ainda mais a sua vida na nossa, e as nossas vontades são aproximadas da dele, a”ando o machado das nossas vidas. E isso não é somente oração; é outro passo na estrada para o sucesso.
Trecho do livro “Libertando o Ministério da Síndrome do Sucesso”, de Kent e Barbara Hughes, lançado pela Anno Domini em outubro de 2013. Além da importância de orar constantemente, os autores falam sobre diversos pontos cruciais que uma liderança cristã deve atentar.
Clique aqui para adquirir esta publicação.