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Divisões, rompimentos e separações

divisaoPodemos enfeitar o discurso como quisermos; utilizarmos os mais conhecidos chavões e clichês da pueril espiritualidade de corredor; justificarmos como quisermos; mas, a separação, a divisão, a despedida dos que já se abraçaram e partiram o pão juntos, é muito difícil de ser contextualizada ao conteúdo dos Evangelhos. É óbvio que eu sei que existe uma infinidade de fatos a ser considerada, detalhes que não podem ser esquecidos e atitudes que não devem ser deixadas de lado, entendo. Mas, a força da fé cristã não está em fluir com o óbvio e sim em contraria-lo. Expressões como “andar a segunda milha”, “oferecer a outra face”, “perdoar setenta vezes sete”, lembram-nos que o óbvio foi sempre questionado por Jesus.

A lei lidava com o naturalmente esperável e o previa: olho por olho; dente por dente; mão por mão; pé por pé… O “eu porém vos digo” do Evangelho, não foi apenas a releitura da Lei, mas a declaração divina de que a Nova Aliança é um desafio a ir além do “perfeitamente-previsível”. Assim, estar em aliança com Cristo e celebrar isto partindo o pão em Seu nome, vai exigir que eu chore sempre nas despedidas; que eu repita sempre que não entendo divisões; que me sinta movido a dar a outra face; que não reaja diante dos mais cruéis, perversos e injustos julgamentos humanos…

Mas, o que fazer para evitarmos rompimentos e permanecermos juntos, em torno de Cristo e do propósito de espalhar a mensagem da salvação? Sugiro que façamos um pacto pessoal e congregacional, uma espécie de declaração de propósito baseada nos seguintes tópicos:

  1. Prometo diante de Deus e dos homens a não querer absolutamente nada exceto buscar incessantemente a Glória de Cristo.
  2. Prometo amar incondicionalmente aos que comigo compartilham do partir do pão;
  3. Prometo nada querer a não ser servir, cingindo-me sempre da toalha e do cântaro;
  4. Prometo jamais suspeitar ou falar mal de alguém;
  5. Prometo que sempre que tiver dúvidas sobre o caráter de alguém, terei a coragem de esclarecer tudo pessoalmente;
  6. Prometo não compartilhar com ninguém o que ouvir sob fiel confissão;
  7. Prometo não trair a confiança de ninguém, usando o que sei para dominar, controlar ou dirigir o outro;
  8. Prometo amar, mesmo quando esta decisão gerar transtornos no corpo, na alma e no espírito;
  9. Prometo construir conexões e relacionamentos efetivos com todos, mesmo com os que julgar não merecer;
  10. Prometo daqui para frente, tomar a ceia com um maior discernimento do Corpo de Cristo, pois “quem come e bebe sem discernir o Corpo, come e bebe juízo para si”.

Não quero polemizar, mas talvez nossa fragilidade evangelística e devocional, esteja relacionada a um discernimento pobre do corpo de Cristo; pior, talvez tudo isto seja sinal do juízo que o texto de 1 Co 11 aponta.

Entenda estas linhas como uma simples provocação à reflexão!

O soneto abaixo é um presente de Jerónimo Baía, português, cristão, que viveu no século XVII. Leia com atenção! Desfrute! Aproveite!

Com amor e carinho,

Pr. Weber

Jerónimo Baía (Portugal 1620/30-1688)

Falando com Deus

Só vos conhece, amor, quem se conhece;
Só vos entende bem quem bem se entende;
Só quem se ofende a si, não vos ofende,
E só vos pode amar quem se aborrece.

Só quem se mortifica em vós floresce;
Só é senhor de si quem se vos rende;
Só sabe pretender quem vos pretende,
E só sobe por vós quem por vós desce.

Quem tudo por vós perde, tudo ganha,
Pois tudo quanto há, tudo em vós cabe.
Ditoso quem no vosso amor se inflama,

Pois faz troca tão alta e tão estranha.
Mas só vos pode amar o que vos sabe,
Só vos pode saber o que vos ama.

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