Charles H. Spurgeon, no apagar do século XIX, entrou num debate público que ficou conhecido como “A controvérsia do declínio”. Alguns acreditam que a defesa plena do Evangelho e a denúncia do pragmatismo do seu tempo, inclusive dentro das suas próprias fronteiras denominacionais, tenha sido um dos catalisadores da sua morte. Mas ele advertiu à igreja dos seus dias sobre o declínio moral e teológico nos quais ela havia mergulhado, e quais seriam as desastrosas consequências da sua aproximação a tal filosofia que julga o certo ou o errado por força dos resultados. Spurgeon fez isto do púlpito da sua igreja, numa série de artigos publicados em jornal e debates em comitês e convenções. Ele defendia a necessidade de se anunciar o Evangelho completo, sem acréscimos ou decréscimos, apesar da inevitável experiência de acabar por ferir a consciência de alguns pecadores, e de deixar muitos pastores dos seus dias de nariz virado.
Muito longe de querer me comparar a ele – em seu tempo “eu me sentaria aos seus pés” (usando uma afirmação de John MacArthur) – ou ainda de sugerir o início de uma nova “controvérsia do declínio”, apesar das esperadas reações adversas, é necessário, seja através de pensamentos expostos aqui e ali, seja através de artigos publicados, que se denuncie o declínio da igreja brasileira. Embora as reações sejam quase sempre muito ruins, o que a história mostrou é que Spurgeon estava com a razão: o testemunho cristão desapareceu na Grã-Bretanha. Foi preciso apenas um século para tudo virar cinzas e Cristo ser uma figura completamente desconhecida nas terras de vossa majestade. Não há nada que nos faça acreditar que aqui será diferente.
Peter White, pastor respeitado em Glasgow, afirma em seu livro “O Pastor Mestre”, que cerca de 235 britânicos dão adeus às suas igrejas todo mês. É um número alarmante. É como se uma congregação média fechasse as portas a cada trinta dias. Ah! Se tivessem ouvido o velho pregador! Se não tivessem abandonado as Escrituras! Se não houvessem sido seduzidos pelos resultados e toda uma plêiade de outras seduções que os acompanham: poder, fama, dinheiro e uma tietagem que ofende o Espírito.
O último censo nacional revelou um crescimento dos que se declararam sem religião. Entre esses estão neo-ateístas, evangélicos-não-praticantes e uma coleção enorme de pessoas que eu não saberia classificar. O fato é que esta pregação que visa resultados, que esconde o juízo do pecador, a necessidade de arrependimento e eventual santificação, já está cumprindo sua principal função: esterilizar a seara.
O Evangelho é a sabedoria de Deus revelada na sua essência mais sublime. O Evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê. Assim, a maior manifestação do poder de Deus num ambiente se dá quando o Evangelho é anunciado com clareza e sem acréscimos ou decréscimos, quando o depósito de um pregador fiel revela as ricas notícias do Reino celestial. Portanto, fica aqui por escrito uma advertência sobre esse pragmatismo que transforma igrejas em boates, clubes e praça de lutas. Esquecer-se de que a “casa do Pai será chamada casa de oração”, foi o grande sinal da falência espiritual de Israel.