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Fé não basta

Anselmo, na sua obra Proslogion, cunhou a frase “Fé em busca de entendimento”. Afinal, o que vem primeiro: a fé ou a compreensão? Se tomarmos a ordem de Anselmo, a fé vem primeiro. Então, vamos seguir essa linha de pensamento e ver aonde vai nos levar.

Fé é um dom de Deus, não vem de nós para que ninguém se glorie. Foi o apóstolo Paulo quem disse isso no segundo capítulo da sua carta aos efésios. Fé é a certeza de coisas não vistas. Essa fé não nasce das minhas faculdades de raciocínio, dos meus sentidos, da minha percepção, nem da minha força de vontade. Fé é algo concedido divinamente por Deus e essa concessão é operacionalizada de um modo que as Escrituras explicam muito claramente.

Se você confessar com a sua boca que Jesus é Senhor e crer em seu coração que Deus o ressuscitou dentre os mortos, será salvo. Pois com o coração se crê para justiça, e com a boca se confessa para salvação. Como diz a Escritura: “Todo o que nele confia jamais será envergonhado”. Não há diferença entre judeus e gentios, pois o mesmo Senhor é Senhor de todos e abençoa ricamente todos os que o invocam, porque “todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo”. Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem não ouviram falar? E como ouvirão, se não houver quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito: “Como são belos os pés dos que anunciam boas novas! ” No entanto, nem todos os israelitas aceitaram as boas novas. Pois Isaías diz: “Senhor, quem creu em nossa mensagem? ” Consequentemente, a fé vem por ouvir a mensagem, e a mensagem é ouvida mediante a palavra de Cristo. (Rm 10.9-17)

O autor da carta aos Hebreus disse que “Pela fé entendemos que o universo foi formado pela palavra de Deus, de modo que o que se vê não foi feito do que é visível” (Hb 11.3). Como chegamos a ter esse entendimento? Não pode ser por observação, claro. Não pode ser por raciocínio, pois não há uma prova irrefutável para convencer a todos que Deus criou tudo o que há. É por ouvir a pregação da Palavra de Deus que nós chegamos a esse entendimento. Agora, compreensão nesses tempos de ciência avançada é um conceito que frequentemente confundimos.

Popularmente, compreensão é um conceito que engloba tudo que se possa saber sobre isso ou aquilo. Todavia, posso entender “o quê” sem entender “o como” de qualquer assunto, realidade ou conceito. A fé não me proporciona pleno conhecimento. A fé é um dom de Deus que me dá uma certeza íntima sobre “o quê”. Deus criou tudo o que há, céus e terra os criou. Isso eu “sei”, eu “entendo” pela fé. Como ele fez isso é um mistério. Mas, mesmo sendo um mistério, ninguém pode negar que tenho como entender algo, simplesmente por não possuir todo o conhecimento sobre o objeto da minha fé.

Vou tentar explicar isso de um modo bem corriqueiro: Eu conheço o Rio de Janeiro. Cresci no Rio. Posso dizer que sou carioca. Mas dizer que entendo tudo que há para entender do Rio seria um exagero grosseiro. Há mundos e mais mundos, camadas e mais camadas, desde a face bonita que só turistas vêem até os becos mais desesperadamente miseráveis e insalubres que se possa imaginar. Fui pregar em uma igreja numa das cidades vizinhas ao Rio e, ao voltar, reparei a profunda miséria, as ruas escuras, frequentemente com apenas uma lâmpada para iluminar um quarteirão inteiro. Deu-me a impressão de estar passando por um Rio de Janeiro que nunca conhecera. Outros no carro comigo responderam que sua mocidade foi vivida exatamente naquele Rio. Amigos meus, mas cada um vivendo um entendimento da Cidade Maravilhosa de maneira completamente diferente. Mesmo não conhecendo todos os Rio de Janeiros, ninguém pode dizer que não conheço “O Rio”.

Conheço a Bíblia. Já a li, muitas vezes. Mas vivo aprendendo mais. Conheço a teologia cristã. Digo mais: conheço muitas escolas de teologia cristã. Mas ainda vivo a aprender mais, com cada livro, cada conversa, cada conferência.

No início de Provérbios achamos estas palavras:

Estes são os provérbios de Salomão, filho de Davi, rei de Israel. Eles ajudarão a experimentar a sabedoria e a disciplina; a compreender as palavras que dão entendimento; a viver com disciplina e sensatez, fazendo o que é justo, direito e correto; ajudarão a dar prudência aos inexperientes e conhecimento e bom senso aos jovens. Se o sábio der ouvidos, aumentará seu conhecimento, e quem tem discernimento obterá orientação para compreender provérbios e parábolas, ditados e enigmas dos sábios. (Pv 1.1-6)

Veja, os inexperientes têm o que aprender. Os jovens (ou seja, os que estão em formação) têm conhecimento e bom senso a ganhar. Até os sábios podem ganhar conhecimento (ninguém é velho demais para aprender). Tudo depender de dar ouvidos à sabedoria. Tudo depender de se aplicar ao estudo da Verdade. Ninguém perderá tempo em se dedicar ao estudo das coisas de Deus. Os que acham que basta ter fé ficarão na sua ignorância e sem proveito para sua vida. Os que dizem que crêem em Jesus e isso basta são insensatos e não entendem que a fé não é suficiente para a vida.

Outro dia alguém disse que deveríamos parar de falar de teologia e “essas coisas tais” e só falarmos de Jesus. É certo que Jesus, sua vida, seus ensinamentos e, principalmente, a sua obra na cruz são a mensagem da vida e da paz. O Evangelho é todo sobre Jesus Cristo. Mas o Evangelho traz consigo tantas implicações, consequências e aplicações – haja vista o tanto de cartas escritas para explicar o que está contido nos Evangelhos: Paulo, Tiago, Pedro e João. Eles discursaram sobre as demais verdades que ajudam a equilibrar uma vida cristã, que têm como seu alicerce a fé.

Fecho com o que o apóstolo Pedro escreveu:

Seu divino poder nos deu todas as coisas de que necessitamos para a vida e para a piedade, por meio do pleno conhecimento daquele que nos chamou para a sua própria glória e virtude. Por intermédio destas ele nos deu as suas grandiosas e preciosas promessas, para que por elas vocês se tornassem participantes da natureza divina e fugissem da corrupção que há no mundo, causada pela cobiça. Por isso mesmo, empenhem-se para acrescentar à sua fé a virtude; à virtude o conhecimento; ao conhecimento o domínio próprio; ao domínio próprio a perseverança; à perseverança a piedade; à piedade a fraternidade; e à fraternidade o amor. Porque, se essas qualidades existirem e estiverem crescendo em suas vidas, elas impedirão que vocês, no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo, sejam inoperantes e improdutivos. (2 Pe 1.3-8)

Sei o que sei – e foi Deus quem me concedeu essa fé. Mas preciso entender mais, praticar mais, compreender mais. A minha fé é a base da minha busca, do meu estudo e do meu esforço. Quem se estriba em fé, apenas, para no tempo e sua vida se torna inoperante e improdutivo. Quem cresce é quem aplica a sua fé em busca do entendimento.

Na paz,

+W

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  • Bispo Walter, boa tarde! Mais um excelente texto para nossa reflexão…

    Após a leitura, lembrei-me das palavras de R.C. Sproul, em seu excelente “Defendendo sua fé”. Ele diz: “Com absoluta certeza o exercício da fé cristã é intensamente racional”.

    Bispo Walter, para que não hajam dúvidas entre aqueles que acessam seu blog diariamente (pelo que vejo, são muitos irmãos e irmãs), talvez ainda dando seus primeiros passos na caminhada, o sr. poderia diferenciar aquilo que diz respeito a “raciocinar a fé cristã”, daquilo que diz respeito a “racionalizá-la”?

    Desde já, um grande abraço!

    Paz e bem.

  • Não existe fé sem conhecimento e/ou revelação Deus, porque e/ou, sem Deus não existe fé, e a revelação também é divina, tudo depende de Deus. Sem mim nada podeis fazer.isso poderia ser diferente, pois, Deus criou o homem para ser bom. Busquei dentre vós um que intercedesse pelo pecado e não encontrei. Mandei meu filho. Tudo depende de Deus agora e não mais do homem, amém por isso. Quando paulo pregava, o espírito de Deus revelou para Lídia a salvação. Sem fé é impossível agradar a Deus, e agora como fica? O homem não pode agradar a Deus sem fé, e ainda a fé é um Dom de Deus. O que fazer para entender isso.
    Sem mim nada podeis fazer. Ninguém vem ao pai se não por mim.
    Como fazer?
    Ora, a trindade é fé, esperança e amor.
    A fé remove montanhas.
    A esperança concretiza a fé.
    E o amor encobre multidão de pecados.
    Por isso Deus fala que o amor apesar de ser o último na lista da trindade de Dons, ele é o maior, pois salva o pecador.
    A fé é importante a esperança também e importante, mas, não se compara ao amor. “amor de Deus”.
    Tudo depende de Deus, mas, tem uma coisa que depende de nos.
    A busca pelas coisas de Deus.
    Buscar fé e bom.
    Buscar esperança também e bom.
    Mas, fé é esperança só vão levar o homem a achar que pode todas as coisas.
    Tudo que é bom provém de Deus.
    Nada podeis fazer se do céu não te for dado.
    Esse é o grande segredo do evangelho, buscai em primeiro lugar o amor e as demais coisas serão acrescentadas.
    Sem mim nada podeis fazer, sem amor não me conheces, pois, Eu sou amor.
    Trindade fé, esperança amor, dentre eles o amor é a vontade de Deus.
    A fé sem amor é morta, assim como a palavra sem amor é fria e mata.
    Deus é amor, sede pois, semelhantes a Deus, imitadores de Cristo.
    Portanto a fé é um Dom de Deus, mas, sem amor ela é morta.
    Teologia santa, pura e verdadeira, sem amor nada podeis fazer.

    Pedro Silva Filho, é engenheiro civil, teólogo pela Fater, mestrando em teologia pastoral pelo Betel Brasileiro, membro da igreja Cristã Nova Vida do Cristo redentor na cidade de João Pessoa

  • “Quem cresce é quem aplica a sua fé em busca do entendimento.”Essa é uma verdade que tenho aplicado em minha vida com Deus e tenho sido imensamente abençoada.Louvado seja o Senhor Jesus!

    a paz