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Graça na graça e na missão

Vivemos em tempos interessantes e difíceis. Por um lado, há uma crescente pressão (que por sinal já é enorme) para não nos expormos demais no que diz respeito à expressão das nossas convicções. O credo desta geração é fundamentalmente pluralista: a afirmação da legitimidade, e até da verdade, de convicções absolutamente irreconciliáveis. É ilógico que algo possa ser verdade e sua antítese ser igualmente verdadeira. Algo não pode ser branco e ser preto ao mesmo tempo e da mesma maneira. A Bíblia não pode ser verdade e ser mentira, embora uns aceitem sua veracidade, enquanto outros não.

Por outro lado, vivemos uma época de opiniões fortes, mesmo que sejam construídas a partir de uma total falta de informação fidedigna. “Não me confunda com os fatos”, é o que parece ser a regra de muitos. Ou para ser mais preciso, “não me confunda com argumentos bíblicos, o que creio é o bastante para mim”. Nas discussões vemos falta de lógica, decoro, informação ou até de formação, uma ausência de respeito para com o próximo e até uma falta de boas maneiras. Enquanto defendemos um pluralismo ilógico, paradoxalmente afirmamos o direito de discordar com fel e fogo. Lamentável.

Esse modo de discutir não se limita às massas iletradas que ocupam o espaço virtual, as salas de chat, o twitter ou o facebook. Até em círculos mais eruditos há uma falta de diálogo sadio. Os que defendem a doutrina da graça, em alguns casos mostram uma falta de graça para com os que discordam. Os que defendem um olhar “missional” das Escrituras se mostram mais agressivos também, pelo menos em alguns casos. O problema de ser “em alguns casos” é que se alguém não tiver acesso ao campo geral, acaba se ofendendo (e, em certos casos, com razão) que redunda numa impressão generalizada da postura ou escola teológica como um todo.

Calvinistas acabam sendo caracterizados como retrógrados ávidos por poder e influência, preconceituosos e machistas. Os missionais acabam sendo rotulados como comunistas e liberais. O Corpo de Cristo sangra. Os anjos choram.

Precisamos redescobrir o valor de cada escola de pensamento e aprender a dialogar, mesmo discordando. Convicções fortes não constituem um pecado contra o irmão que discorda de nós. A maneira como nos conduzimos a partir dessas diferenças, nos casos mais notórios, sim.

Termino com as palavras de Paulo em Romanos 14.19: “…esforcemo-nos em promover tudo quanto conduz à paz e à edificação mútua”. Se ninguém está ouvindo os nossos argumentos, pode ser porque estejam ouvindo o nosso tom agressivo mais do que as nossas palavras.

Na paz,

+W

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  • Precisamos redefinir nossas posturas em relação aquilo que se define como dogma, doutrina e opinião e a partir dai sabermos como agir nas nossas divergências. Mas independente do que seja, acho que nestas questões falta um pouco de amor e atitude cristã. Gosto muito da frase “suas atitudes falam mais alto que os seus argumentos”, pois em questões de divergência doutrinária, o que me salta aos olhos sempre são as atitudes dos discordantes entre si e nem tantos seus argumentos que em muitos casos giram em torno de opiniões e nem tanto de doutrina. Falta lembrar que Cristo não morreu por calvinistas, luteranos, presbiterianos, metodistas, etc. Ele morreu por Seus filhos que devem se considerar irmãos entre si.
    .
    A paz.
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    Luiz Felipe