Já se viu em meio a um vendaval na companhia de alguém? Eu já. Foi no inverno carioca de 2011. Certa noite fazia muito frio e os ventos estavam fortíssimos. Eu e um de meus filhos, Andrew, decidimos brincar para ver quem aguentaria por mais tempo ficar no vento e no frio sem ter que voltar para dentro de casa. Saímos para a varanda do meu quarto, ele de um lado e eu do outro. Andrew estava mais próximo da fonte do vento e, por isso, me vi completamente frustrado ao tentar falar com ele. Sim, pois, embora estivesse ao meu lado, ele não conseguia me ouvir, o vento não permitia. As ondas sonoras que saíam de minha boca simplesmente eram rebatidas. Foi divertido. Mas aquela noite alegre me faz lembrar de algo que não me alegra. Pelo contrário, é algo que me frustra tremendamente.
Tenho procurado alertar a Igreja sobre práticas e conceitos que estão fazendo com que sua alma definhe. A Igreja está doente. Seus membros, muitos deles, simplesmente não são cristãos. Seu louvor é superficial. Seu culto se limita ao momento da reunião pública. Quando vão para o altar, não levam corações cheios de devoção. Sua vida não é piedosa – ou seja, não é uma vida cheia da noção da presença de Deus. É uma vida entregue às paixões que inflamam todos. Seus sonhos de consumo, seus amores secretos, seus interesses mundanos e o seu prazer tão bem guardado se acha nas coisas que se contrapõem à vida espiritual. Entretêm-se com o mal. Agradam-se de assistir a filmes e novelas onde imoralidade, sexo ilícito, violência e opressão dos fracos desfilam pela tela para o deleite dos espectadores. Deixam que o seu sangue ferva com a violência de uma boa briga, seja uma luta de vale tudo ou um filme de ação. Contorcem-se com risadas quando ouvem piadas chulas. Têm prazer em contemplar a indecência alheia (sim, “porque ninguém é de ferro”, dizem).
Então se arrastam para a Igreja, atrasados, de ressaca mundana, com as mentes transbordando de imundícies e sonhos de riqueza e vingança. E cantam…. cantam as músicas que tão eloquentemente expressam sua forma de falso cristianismo: “Restitui”, “esta é uma festa de virada”, “vou profetizar a minha vitória” e por aí vai.
Amigos do mundo e inimigos de Deus, empanturrados de paixões que não saciam a alma, dizem que o culto “foi uma benção”. Defendem as suas músicas prediletas porque “os abençoou”. Curtem a última mensagem de prosperidade, porque o pregador “é uma benção”. E, no fundo, não fazem a menor ideia do que seja ou não uma verdadeira bênção espiritual. Prostituem esse conceito bíblico para expressar o seu prazer no que seja. Como bêbados que mandam beijos e assoviam para a garçonete num bar, embriagados pelo mundo cantam de mãos levantadas – e até com lágrimas – cantigas que mais parecem música americana enlatada, mas que nem de longe afirmam as velhas verdades da fé cristã.
Denuncio suas músicas esotéricas. Repudio seus cultos falazes. Sugiro que seus mentores são os anticristos que João denunciou na sua primeira carta. Mas a onda populista e mundana que varre a Igreja dos nossos dias lembra-me aquele vento. O vento que rechaça a minha voz. O vento que faz com que eu sinta que ninguém esteja ouvindo, embora, por forçar meu grito, eu esteja até ficando rouco.
Há outras vozes. São a minoria. Há homens e mulheres de fé, tanto os que deixaram sua voz em livros que muitos nem se dão mais ao trabalho de ler quanto os que envergam as vias mais avançadas da nossa atual tecnologia de comunicações.
A Igreja está sendo varrida. É um vendaval de mundanismo, triunfalismo e populismo. É um vendaval de sucesso numérico. Os anjos choram. As paredes das veneráveis catedrais desmoronam. O inimigo acha que nos derrotou. Mas não é verdade. Há um remanescente. E, no fim, todo joelho se dobrará e toda língua confessará que Jesus Cristo é o Senhor. Para alguns será um dia glorioso. Para a maioria, inclusive a supostamente cristã, será um dia aterrorizante. Dirão… bem… melhor deixar o próprio Senhor contar como será:
Entrem pela porta estreita, pois larga é a porta e amplo o caminho que leva à perdição, e são muitos os que entram por ela. Como é estreita a porta, e apertado o caminho que leva à vida! São poucos os que a encontram. Cuidado com os falsos profetas. Eles vêm a vocês vestidos de peles de ovelhas, mas por dentro são lobos devoradores. Vocês os reconhecerão por seus frutos. Pode alguém colher uvas de um espinheiro ou figos de ervas daninhas?
Semelhantemente, toda árvore boa dá frutos bons, mas a árvore ruim dá frutos ruins. A árvore boa não pode dar frutos ruins, nem a árvore ruim pode dar frutos bons. Toda árvore que não produz bons frutos é cortada e lançada ao fogo. Assim, pelos seus frutos vocês os reconhecerão! Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos céus, mas apenas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: ‘Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres? ’ Então eu lhes direi claramente: ‘Nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês, que praticam o mal!’
Portanto, quem ouve estas minhas palavras e as pratica é como um homem prudente que construiu a sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram contra aquela casa, e ela não caiu, porque tinha seu alicerces na rocha. Mas quem ouve estas minhas palavras e não as pratica é como um insensato que construiu a sua casa sobre a areia. Caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram contra aquela casa, e ela caiu. E foi grande a sua queda. (Mt 7.13-27)
Ó Deus, tem misericórdia de nós. Eu sinto o cheiro de chuva no ar e tremo.
Na paz,
+W