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Minha família é um campo de batalha

É uma verdade inegável: nossa família pode ser uma fonte de alegria indizível ou de agonia sem fim. A cada Natal, Dia dos Pais, Dia das Mães, aniversário ou data do gênero, a família se reúne para a nossa alegria… ou angústia.

Cabe a nós escolher nossos amigos. São pessoas com quem temos afinidades, muito em comum, interesses que nos aproximam. Já a família tem o sobrenome, no mínimo e, tragicamente em alguns casos, no máximo. É por força desse sobrenome que há aqueles por quem somos obrigados a nos sacrificar e que temos de deixar nos invadir e interpelar, com ingerências que nem os nossos melhores amigos teriam coragem de fazer. Opinam sobre como criamos filhos, como gastamos nosso dinheiro, como cortamos o cabelo, enfim, se intrometem em nossa vida com uma noção de direito – e tudo por força do sobrenome.

Há famílias amorosas, meigas, gentis e pacíficas. Há outras que vivem como num campo de batalha que adentra a vida toda. Cada visita é um estado de sítio, cada telefonema, um round de Vale-tudo.

Há casos de filhos cujos pais nunca os amaram de graça. Vivem a cobrar algo que a prole nunca consegue suprir, realizar ou ser. Cada escolha na sua vida foi motivo de desapontamento, censura e recriminação. E, pior, por força desse tratamento avassalador, parece que a revolta e o inconformismo levam os filhos a se autodestruir mais e mais. Ou tentam agradar, violando-se e se matando para agradar. Ou, ainda, fazem exatamente o oposto: tentam se autodestruir, só para mostrar que os pais não tinham o direito de ser tão duros como são.

Frases como “você nunca será nada na vida” e coisas do gênero assombram cada decisão, cada fracasso e, paradoxalmente, cada realização – por mais excelente ou extraordinária que seja. Por outro lado, quando o filho é amado de graça, seu sentimento de realização antecede o fato. O filho, ou a filha, conseguem curtir o processo. A aprendizagem se torna uma aventura prazerosa. Os desafios não representam uma ameaça à nossa autoimagem. O adulto que foi amado de graça quando criança desfruta o prazer de ser. Até no fracasso, o mundo não desaba na sua cabeça. Levantar-se e sacudir a poeira torna-se um processo natural. O primeiro passo após a queda não é uma vitória, mas uma continuidade natural de quem entende que há dias ruins e que fazem parte normal da vida.

Faz tempo que aprendi a não permitir que a família me mantenha refém. O fato de ter o mesmo sobrenome não dá a ninguém o direito de ser rude, cruel, abusivo ou ignorante. Respeito é bom e, sim, você merece. Muitos creem que a família não pode ser violada por questões de respeito ou privacidade. É como se fosse a luz do Sol, da qual ninguém foge. Pode nos queimar à vontade, porque, afinal, vivemos debaixo dela. Mas família não é o Sol.

Agora, como “honrar pai e mãe” quando eles são cruéis e abusivos? Como entender que estão errados, nos defender deles e ao mesmo tempo honrá-los? É algo que todo cristão precisa saber. Precisamos entender que honrá-los não é o mesmo que idolatrá-los e, certamente, não é um mandamento que nos força a aceitar todo e qualquer abuso deles. Há um momento em que temos de dar um basta. Quando o homem constitui família, ele se torna responsável por protegê-la, mesmo que isso requeira que estabeleça limites sobre as investidas da sua mãe. Quando um filho escolhe a profissão, não tem a obrigação de tentar ser o médico que seu pai nunca foi ou o pianista que a mãe amargou nunca ter conseguido ser. A sua alma é sua e de Deus. A sua família é sua e de Deus. Precisamos entender que honrar não é venerar, temer ou tampouco ser subjugado por eles. Temos de perdoá-los e depois impor limites.

Assim, também, o filho que nunca trabalha e que explora a mãe, chegando a bater nela, precisa ser perdoado, antes que ela chame a polícia e mude a tranca da porta da sua casa. Mãe é mãe. Mas ser mãe não é padecer no paraíso. Ser mãe é algo que precisa ser respeitado. Sim, você merece respeito.

Em inúmeros casos mais graves, tenho visto como é importante ter o apoio de uma igreja quando alguém se vê perante o abuso de um familiar. Frequentemente por vergonha ou por não querer expor o membro da família que está pondo os outros em perigo, como um pai que abusa dos filhos ou bate na mulher, a pessoa se cala. Apanha sem que ninguém saiba. Acaba tentando desculpar o agressor. “Ele teve uma infância difícil, você sabe”. “Ele não queria fazer isso… creio que a culpa foi minha”.  Pare de inventar desculpas. É preciso ter o apoio de um pastor. Perdoar. E, sem raiva, procurar a Delegacia da Mulher.

Para muitos família não é um lugar seguro. É um lugar de tumulto. Um lugar de brigas que adentram a madrugada. Gritos, ameaças, declarações bombásticas e noites sem sono são o pão de cada dia de muitos… talvez você.

É preciso entender que em Deus temos alento e ajuda. Temos até uma família nova. Sim, pois “aos que o receberam [Cristo], aos que creram em seu nome, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus…” (Jo 1.12). Temos um Pai perfeito, amoroso, justo e poderoso para nos ajudar. Quando clamamos a Ele, o Senhor nos ouve e fortalece. Quando recorremos a irmãos em Cristo, eles se compadecem, nos ouvem e nos auxiliam.

A família de Deus não é perfeita. Aliás, também há pessoas abusivas na igreja. Os mesmos limites que o respeito próprio exige se aplicam à família de fé. Mas o mais importante é que qualquer convívio em família exige de nós uma medida de graça e da presença de Jesus. Não se pode esperar que Deus mude a sua família. Toda e qualquer mudança começa com você. Começa com o poder do Espírito Santo operando no seu íntimo. Será preciso orar muito e caminhar com o Todo-Poderoso.

Pare de permitir-se ser uma vítima. Ainda que sofrendo, caia de joelhos e clame ao Pai celestial. Pouco a pouco, mesmo encharcando seu travesseiro de lágrimas, você poderá se erguer e virar uma pessoa guiada por esperança – e não uma vítima dos outros. Poderá se tornar o fiel da balança para sua própria família. E, mesmo não tendo uma família perfeita, tornar-se o canal para a consagração de seu lar.

Que Deus lhe guie, console e dê a paz.

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  • Todas as suas palavras Bispo, de fato, são verdades atuais…

    É importante compreender a importância da família, porém, atentar para a grande dificuldade de quando o homem não tem a sua casa firmada em Jesus! Tenho visto muitos lares em dificuldade hoje em dia, todos eles sem uma base, fundamentada na palavra de Deus. Cabe à nós testemunharmos das maravilhas que Jesus têm feito em nossa casa, pois Ele é a nossa Rocha e quer restaurar ainda muitos lares !

    ” Mas, se alguém não tem cuidado dos seus, e principalmente dos da sua família, negou a fé, e é pior do que o infiel.” (I TIMÓTEO 5:8)

    A paz do Senhor Jesus !

  • Bispo perdoe estar fazendo esta pergunta aqui no seu espaço que é para comentário sobre o post, mas não consigo postar esta pergunta no link “pergunte-me qualquer coisa” eu clico no ask e me é pedido para digitar o email. Me ensine como postar as perguntas que serei assídua no seu espaços, pois já tenho várias perguntas que necessitam de respostas.
    A pergunta é a seguinte:
    Os blogueiros calvinistas que conheci na blogosfera são a favor da pena de morte. Gostaria de saber se o Bispo é contra ou a favor. E por que?
    Novamente peço perdão, mas preciso de uma resposta!
    lucyngaraujo@gmail.com

    Em Cristo,

    Lucy

  • Graça e paz bispo Walter!
    Essa postagem me trouxe luz e alento ao coração.
    Deus continue a derramar essa sabedoria sobre a sua vida!
    Em Cristo,
    Fernanda Marreiro
    ICNV CG