Muitos males nos assolam: há os males que nos rodeiam e os que habitam em nós. Uma das petições ao Senhor que mais me comovem está na oração do Pai Nosso: “…livra-nos do mal”. Com o passar dos anos, tenho sentido a noção cada vez mais aguda e ampla de quanto o mal nos assedia, seja de fora ou de dentro. No lugar secreto dos meus pensamentos, sei que o mal é uma realidade com a qual teremos de lutar sempre, ou até que Cristo volte e nos redima de todo mal. Quando isso acontecer, todo mal será lançado ao fogo eterno e seremos livres, de uma vez por todas. Que dia feliz e glorioso será aquele! Cada vez mais meu coração anseia por isso.
O mal tem uma raiz. Alguns podem imaginar que seja o Diabo. Sim, porque ele é o mal “em pessoa”, dizem. Outros acham que o amor ao dinheiro seja a raiz de todos os males. E como há uma referência bíblica muito clara neste sentido (1 Tm 6.10), não estão longe da verdade. Mas o amor ao dinheiro é um sintoma de outro mal, algo mais antigo do que o próprio dinheiro, um mal que vem de antes do início do início: o orgulho.
Foi o orgulho que fez com que Satanás fosse expulso do Céu e lançado à terra. Foi o desejo de ser mais do que Deus o criou para ser que o fez perder seu lugar. A definição desse pecado é exatamente esta: o desejo de querer ser mais do que somos. Isso é a essência do orgulho.
Paulo foi enfático ao falar aos Romanos sobre esse mal. Ele disse no capítulo 12 de sua epístola:
Portanto, irmãos, rogo-lhes pelas misericórdias de Deus que se ofereçam em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus; este é o culto racional de vocês. Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem- se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. Por isso, pela graça que me foi dada digo a todos vocês: Ninguém tenha de si mesmo um conceito mais elevado do que deve ter; mas, ao contrário, tenha um conceito equilibrado, de acordo com a medida da fé que Deus lhe concedeu.
O apelo de Paulo é bem dramático. O alvo é poder provar a boa vontade de Deus. Mas como? Bem… temos de nos examinar. Temos de entender o que somos. Temos de descer do salto alto. Temos de baixar a crista. Enfim, temos de entender o quão pequenos somos: pecadores salvos pela graça somente. Vasos de barro. Pó.
O orgulho nos afasta de Deus. Tiago escreveu em 4.6b-10: “…Deus se opõe aos orgulhosos, mas concede graça aos humildes. Portanto, submetam-se a Deus. Resistam ao Diabo, e ele fugirá de vocês. Aproximem-se de Deus, e ele se aproximará de vocês! Pecadores, limpem as mãos, e vocês que têm a mente dividia, purifiquem o coração. Entristeçam-se, lamentem-se e chorem. Troquem o riso por lamento e a alegria por tristeza. Humilhem-se diante do Senhor, e ele os exaltará”.
Não se cura um câncer aplicando um band aid no local do tumor. É o tipo de doença que mata e requer medidas drásticas. Quantas vezes nos perguntamos a razão de sentirmos Deus tão longe? Quantas vezes nos perguntamos o motivo de não termos mais a alegria de Deus nos nossos corações? Quantas vezes já nos vimos com raiva de Deus por Ele não responder nossas orações na hora em que achamos que deveria? Quantas vezes acreditamos estar muito bem espiritualmente, sem entender que, no fundo, estamos vazios e soberbos? Será que Deus está resistindo a nós? Sim, porque Ele resiste aos soberbos. Dá graça somente aos humildes.
Ah, meu coração enganoso. Fonte de orgulho sem fim. Preciso botar meu rosto no pó. Preciso tomar uma atitude radical e enérgica. Tenho de voltar ao lugar de oração e não me limitar a apenas fazer uma oração. Tenho de me pôr para orar de fato – “orar em oração” (como diziam os santos pós-reforma). Tenho de, em silêncio, deixar que o Espírito me sonde, quebrante-me, mostre-me o quanto tenho ofendido a Deus. Então, em lágrimas, poderei me arrepender. Sim, porque arrependimento não é uma conversa leve com Deus. É algo que rasga o coração. Assim, preciso orar até que meu coração se rasgue. Só depois terei como resistir ao Diabo. Tendo feito isso, verei as coisas com mais clareza.
Tenho de extirpar este câncer. Tenho de tratar dele hoje, antes que seja tarde. Tenho de me livrar desse mal que assola o meu coração. Tenho de me humilhar diante do Senhor. O resto Ele fará.
Na paz,
+W