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Ouça!

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“E agora, ó Israel, ouça…” Dt. 4.1

Frequentemente imaginamos que nossa relação com Deus resume-se a pedir coisas e esperar que Ele nos dê o que pedimos. Embora sejamos encorajados a pedir, buscar e até bater (Mt.7. 7), essa atitude deve ser dirigida pelas palavras de Tiago: “quando pedem, não recebem, pois pedem por motivos errados, para gastar em seus prazeres”.

Então é fato: Deus atende nossos pedidos se orarmos segundo sua vontade. Como Pai, Deus se compraz em ensinar e instruir seus filhos por meios diversos. Como nos lembra o dito popular: não dá o peixe, mas ensina a pescar.

É o que vemos no livro de Deuteronômio. Após 38 anos no deserto – até que toda a geração incrédula de Israel perecesse – Deus leva seu povo à região de Moabe, onde o Rio Jordão desagua no Mar Morto. Ali se encontravam Moisés, Josué, Calebe e muitos que não testemunharam pessoalmente o êxodo. Daí a necessidade de uma segunda exposição da lei. Este é, inclusive, o significado da palavra Deuteronômio. O livro é uma coletânea de três discursos de Moisés e possui um caráter constitucional e documental, assemelhando-se aos antigos tratados do mundo de então. Assim, o livro constitui o documento preparado por Moisés como um testemunho a respeito da aliança dada pelo Senhor a Israel.

Há em Deuteronômio um tom pedagógico, de ensino, que pode ser percebido pelo uso frequente de palavras como ouça, lembre-se, obedeçam, ensinem, tomem cuidado, ou variações destas palavras, como não se esqueçam, façam cuidadosamente, ou ainda combinações delas, como ouça e obedeça; tenham o cuidado de não se esquecer.
É com base nestas palavras que vamos entender como Deus ensina seu povo e como este ensino deve ser posto em prática e compartilhado com as próximas gerações.

A primeira instrução é OUÇA! Deus ordena que O ouçamos. Este é o primeiro requisito para que alguém possa aprender algo. O imperativo “ouça” aparece dirigido a Israel em Deuteronômio 5 vezes: 4.1; 5.1; 6.3 e 4; 9.1; 20.3; 30.19. É preciso esclarecer, desde agora, que não se trata apenas de manter o sentido da audição apurado. No Antigo Testamento a palavra שָׁמַע (shamá) é usada tanto como “ouvir” quanto como “obedecer” e obediência”. Esta palavra vem de uma raiz muito primitiva, significando “ouvir”, “escutar”, “obedecer”, e ocorre cerca de 1158 vezes nos livros do AT. Referimo-nos, portanto, à apreensão do que é dito, à compreensão e à ação que resulta dela.

Não é sem razão que o testemunho bíblico aponta para uma relação íntima entre ouvir e obedecer. Se você não obedece é porque talvez nunca tenha ouvido nada!
Mas por que essa ordem é tão importante?

Primeiramente porque estamos diante de um Deus que fala. Não ouvi-lO, portanto, é negá-lO, uma forma sutil de ateísmo prático. Deus criou tudo pela sua palavra e continua sustentando tudo por esta palavra (Hb 1). Os profetas pregaram sobre a urgência de se ouvir a Deus: “‘Assim diz o Senhor’, portanto, ouçam-no!” Este também foi o apelo de Jesus: “Aquele que tem ouvidos, ouça!” E até no último livro da Bíblia, a mensagem é enfatizada: “Aquele que tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas”.

Uma segunda razão para que a ordem de ouvir assuma um lugar de destaque na Bíblia é o fato de que quem não ouve corretamente, não fala corretamente. Se isso é verdade no mundo físico, também é no mundo espiritual. Como podemos falar com Deus e orar segundo sua vontade se não o ouvimos? Ouvir a Deus em Sua Palavra é uma condição essencial para orarmos de acordo com as palavras do Senhor. Esta é a razão pela qual temos o livro de Salmos na Bíblia, para aprendermos a falar com Deus ao ouvi-lO em cada verso destes poemas hebraicos.

Por fim, a ordem de ouvir é vital porque a fé vem por se ouvir a mensagem, e a mensagem é ouvida mediante a palavra de Cristo (Rm. 10.17). Isso é verdade não apenas na conversão, pois “o justo viverá pela fé”. O significado disso é claro: somos chamados a viver com os ouvidos atentos, pois nos conduzimos por fé e não pelo que vemos. A fé é alimentada por ouvir bem a Palavra.

Quais foram as promessas feitas por Deus, se Israel o ouvisse? Os textos de Deuteronômio citados nos mostram que a permanência na terra prometida e a bênção de se desfrutar os benefícios da aliança dependiam, em primeiro lugar, de Israel ouvir a voz de Deus e obedecê-la. Não há quem leia o Pentateuco sem uma ponta de angústia. Os livros anteriores nos mostram que Israel nunca ouviu perfeitamente a seu Deus. Seria diferente agora? Infelizmente, a história mostra que não.

Acho emblemáticas as palavras do salmista no salmo 81.
“Ouça, meu povo, as minhas advertências;
se tão-somente você me escutasse, ó Israel!” (v.8)
“Mas o meu povo não quis ouvir-me;
Israel não quis obedecer-me.” (v.11)
“Se o meu povo apenas me ouvisse,
se Israel seguisse os meus caminhos.” (v.13)
Percebem o tom de lamento nestas palavras? Bastava ouvir e responder com obediência simples e constante. Mas Israel não quis!

No final do Sermão do Monte, nosso Senhor nos conta uma ilustração sobre o que representa o ato de ouvir e obedecer (Mt. 7.24-29). O resumo da lição de Jesus é simples: quem ouve e obedece terá sua vida edificada sobre um firme fundamento! Como é importante relembrar este imperativo da Palavra, em um mundo onde todos querem (e gostam) de falar e opinar, não por amor ao debate e ao aprendizado, mas para vencer determinada discussão, ou impor seu ponto de vista.

Termino com um alerta bíblico para que permaneçamos sensíveis à voz do nosso Pai:
Hoje, se vocês ouvirem a sua voz, não endureçam o coração (Sl.95.7,8)

Que Deus nos dê ouvidos para ouvi-lO!

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