A pura piedade atrai perseguição! Isto não é novidade. Mas, perseguição ainda é um tema estranho à uma geração de cristãos que aprendeu a ganhar no grito ou na força de atos afirmativos. Cartazes, assembléias, passeatas, marchas ou qualquer outro gênero de manifestação pública da nossa indignidade, contra esta ou aquela lei, não vai mudar o fato de que o mundo odeia o Espírito e os ideais de Cristo. É óbvio que ninguém dirá isto abertamente, mas a inspiração e motivação que cerca as estruturas culturais e seus respectivos “valores”, são anticristo. Entenda-se por anticristo, a desvinculação das configurações dos comportamentos e das estruturas ético-morais e político-sociais do mundo à nossa volta, ao ensino de Cristo.
Nunca tivemos que dar prova da nossa fé respondendo com o próprio sangue ou liberdade civil. Achamos que tudo isto já ficou bem arrumado nas prateleiras da história, e que a sociedade evoluiu para não cometer as atrocidades vistas nos campos de concentração nazistas, ou nas prisões comunistas de Havana a Pequim com escala em Moscou. Definitivamente, a igreja ocidental não sabe e não consegue aceitar o fato de que a pura piedade cristã gera reações em homens e demônios. Não gostamos da palavra PERSEGUIÇÃO. E quando somos ameaçados com leis que tocam as nossas crenças sobre casamento, educação de filhos ou liberdade de culto, corremos para a porta do congresso com o fim de mobilizar a tal “bancada-religiosa” para protestar contra as infâmias do estado. Esquecemos que o estado é anticristo; que os intrusos neste mundo são os que amam a Verdade; e que estamos aqui não para impedir que a sociedade se torne no que ela própria deseja, mas, para testemunhar com graça que há um reino edificado por Cristo e para o qual Ele chama os homens a entrar pela porta do arrependimento.
Definitivamente, farei isto até morrer. Serei testemunha de Cristo a despeito do que os governos das nações e seus parlamentos ditem ou legislem, sem medo de ser perseguido por acreditar no que as Escrituras revelam. Ninguém me verá nas ruas sacudindo cartazes, mas não por causa do medo de denunciar as hipocrisias de um estado impuro e de uma sociedade irreligiosa; mas, por conta de que a herança apostólica quanto a perseguição, foi a coragem de pregar o Evangelho com autoridade e absoluta unção do Espírito Santo. Assim, enquanto o congresso brasileiro, lidando com suas crises morais e denúncias de corrupção, legisla contra o que eu creio e esbraveja contra o que eu prego, vou seguindo o caminho, fazendo discípulos e não me alarmando quanto a possíveis ameaças.
Acredito que esta geração contaminada pela teologia da prosperidade, que vê Deus como um caixa de banco e não como aquele que denuncia as vias cruéis da economia mundial, terá que fazer uma avaliação da sua teologia o mais rápido possível. Isto se quiser sobreviver num estado de aberta perseguição. Caso contrário, terá que curvar-se aos ídolos que os atuais sátrapas da nova babilônia erguer em sua própria homenagem.
Não tenha medo de ser perseguido em virtude do que você crê. Não tenha medo das ridicularizações por suas posturas éticas e morais. Não tenha medo de leis anticristãs, sejam elas produzidas em qualquer uma das esfera de poder; lembre-se que Nabucodonozor e todos os césares passaram. Procure associar à fé a virtude, à virtude o conhecimento, ao conhecimento o domínio próprio, ao domínio próprio a perseverança, à perseverança a piedade, à piedade a fraternidade, e à fraternidade o amor (II Pedro 1:6, 7). Junte tudo isto ao compromisso e desejo de viver uma vida santa até o dia da plena redenção. Paz!
Não entenda com isto que estou sugerindo que devamos abandonar a idéia de cobeligerância que Francis Schaffer defendia, ou que devamos nos acovardar, amenizando nossas convicções sobre trabalho escravo, violência, injustiça social, aborto e etc… Estou apenas tentando dizer que não estamos preparados para a perseguição e que ela está às portas.
Com amor e carinho,
Pr. Weber
Frei António das Chagas (Portugal 1631-1682)
Soneto
Deus pede hoje estrita conta do meu tempo
E eu vou, do meu tempo, dar-lhe conta.
Mas como dar, sem tempo, tanta conta
Eu que gastei sem conta tanto tempo?Para ter minha conta feita a tempo,
O tempo me foi dado e não fiz conta.
Não quis, tendo tempo, fazer conta.
Hoje quero fazer conta e não há tempo.Oh! Vós, que tendes tempo sem ter conta,
Não gasteis vosso tempo em passatempo.
Cuidai, enquanto é tempo em fazer conta.Pois aqueles que sem conta gastam tempo,
Quando o tempo chegar de prestar conta,
Chorarão, como eu, se não der tempo.