Como tenho falado inúmeras vezes, vivemos tempos difíceis na Igreja. O mundo sempre foi de mal a pior. Sempre houve guerras e rumores de guerras. Sempre vimos o que a Bíblia tão claramente nos afirma: que o mundo jaz no poder do maligno. Esse verbo, “jaz”, é importante de se entender. Ele descreve a prostração de uma pessoa morta. Quem jaz está morto. Ninguém jaz dormindo. Ou seja, o mundo não apenas se confunde no maligno. O mundo não apenas sofre a influência do maligno. O mundo está morto – e sua morte deve-se ao poder do maligno. Isso quer dizer que o que vem do mundo não tem como gerar vida. Só o que vem de Deus gera vida.
Entender isso é fundamental quando falamos sobre algo que está muito em discussão em nossos dias. Esse assunto é “missão”. Responder qual é a missão da Igreja pode parecer algo bastante simples. Mas a verdade é que há muita discussão em torno disso e essa discussão inclui divergências muito grandes.
Mas o que quero tratar hoje é a origem da missão. De onde vem, afinal, a missão cristã? De onde tiramos tal missão? O que nos tira do ponto morto e nos lança na missão? Se conseguirmos responder essas perguntas, certamente teremos uma noção muito mais clara do que seja a nossa missão como cristãos e, coletivamente, como a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Para achar a resposta, proponho que comecemos numa passagem pouco citada quando o assunto “missão” surge entre irmãos: Mateus 11.28-30. Jesus disse: “Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso. Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, pois sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para as suas almas. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve”.
Essa passagem é usada para falar do convite feito ao pecador. É normal que nós não a associemos a missão. Só que ela é absolutamente fundamental para que a missão abraçada seja a que Jesus nos manda cumprir. Veja o que Ele disse: primeiro, estamos cansados e sobrecarregados. Para tratar disso, temos de nos chegar a Jesus. Não podemos achar alívio para as nossas almas se não nos aproximarmos dele. Como fazer isso? Não é, como muitos acham, num exercício místico que procuramos em qualquer lugar. Efésios 1 diz que após a sua ressurreição e ascensão ao Pai, Jesus foi posto sobre todas as coisas e dado à Igreja, que passou a ser o seu corpo. Veja que Ele é o cabeça da Igreja. Isso todos compreendem. O que muitos não compreendem, em nossos tempos, é que Deus Pai o deu à Igreja. Ela, por sua vez, a partir daquele momento se tornou parte dele: literalmente somos a presença dele aqui na terra. Jesus age por meio da sua Igreja.
Há quem diga: “Sim, nós somos a Igreja”. E você está certo, “Nós”. Eu não sou a igreja. Eu faço parte da igreja. Mas a Igreja é composta por muitos. Mesmo sendo muitos, somos um corpo. E, ao nos aproximarmos desse corpo, literalmente nos aproximamos de Cristo.
Então se eu apenas conhecer bem as tradições e as regras da minha igreja local acharei alívio para a minha alma? Não. A Igreja é o instrumento pelo qual Deus se revela, e pelo qual nós nos aproximamos dele. Mas há mais aqui. Temos de nos aproximar e aprender. Não aprender sobre o corpo, mas sobre a cabeça. É Ele quem nos norteia. Literalmente, é a Igreja que aponta para Cristo e leva os seus membros a aprender de Cristo. E assim cumprirá o seu papel.
Há muito o que aprender de Cristo. As Escrituras Sagradas todas apontam para Cristo. Ele é o cumprimento da Lei, segundo Paulo afirma em Romanos 10. Ou seja, Ele é o cumprimento de todas as promessas e de toda a justiça que a Bíblia ensina. Quanto mais aprendermos de Cristo, mas aprenderemos sobre o caminho da salvação e, consequentemente, sobre a nossa missão como membros de um corpo.
Muitos procuram entender missão partindo do problema. Ou seja, o problema acaba definindo a missão. Se vemos fome, achamos que a nossa missão é resolver o problema de fome. Se é injustiça social, então a missão se torna a promoção de justiça. Mas muitos se lançam em missão sem nunca se aproximar de Cristo e sem nunca aprender dele. Acham que a Igreja vive em função da missão.
O que acabam fazendo é lançar pessoas zelosas em missão, sem nunca terem sido discipuladas por Cristo. Vivem muito perto dos problemas, mas não daquele que é o único que pode trazer paz e alívio para as nossas almas. Entra aqui uma dinâmica de idealismo humanista, que acaba sendo confundido com a verdadeira missão cristã.
Temos que ser cheios de Cristo. Temos que conhecer o seu modo de pensar. Temos que ter conhecimento das Escrituras Sagradas e viver mergulhados nelas. Pois se apenas revestirmos as nossas teorias políticas ou sociais de um verniz cristão, estaremos nos enganando a nós mesmos – e errando o alvo.
Muitos zelosamente procuram fazer o bem. Acham que estão zelando pelas próprias coisas que são preciosas para Deus. Mas não são. Caem no que Paulo disse em Romanos 10.2: são zelosos por Deus, mas sem conhecimento. Zelo em si é uma coisa bonita, mas não é suficiente para se nortear. Zelo tem que ser informado. E chego a dizer mais: zelo ter que ser informado e formado pelas Escrituras Sagradas.
Tenhamos o cuidado de não sair batidos em direção de uma missão sem ter conhecimento das Escrituras e uma vida mergulhada num discipulado do Bom Pastor. Precisamos aprender dele, o que não é difícil. Ele mesmo disse que o seu jugo é leve, pois ele é manso de espírito. Não estou falado de um programa puxado e maçante. Estou falando do prazer de sentar aos pés do Mestre e ouvir a sua voz. Saber o que Ele quer. Entender como Ele vê o mundo ao nosso redor. E então, somente então, perguntar: “Senhor, o que queres que eu faça?”.
A resposta começa em Cristo e não nos inúmeros problemas que nos cercam. Que Deus nos dê direção e paciência para não avançar o sinal.
Na paz,
+W