1. Será que existe uma única religião verdadeira?
A pergunta acima por si só já soa estranha em nossos dias. Afinal de contas, vivemos no tempo do pluralismo religioso, da tolerância absoluta e do direito inquestionável do indivíduo de definir seu credo, seu culto e sua conduta.
Os tempos em que vivemos, de fato, são muito estranhos. Por mais que a nossa cultura idolatre o direito de escolha e a liberdade religiosa individual, ela não consegue abrir mão da religião. O melhor retrato dessa realidade está na juventude brasileira: enquanto noventa e cinco por cento dos jovens deste país se dizem religiosos e crentes em Deus (colocando-os entre os jovens mais interessados em Deus em todo o mundo), pouco mais de um terço desse grupo compromete-se com o padrão de fé e de vida da sua religião¹. Ou seja, enquanto a curiosidade pelos assuntos de Deus está em alta, o compromisso está em baixa.
Infelizmente, o retrato da Igreja não é muito diferente do retrato do restante da nossa sociedade. Vivemos tempos muito estranhos no Cristianismo evangélico no Brasil. Observamos o esvaziamento da fé cristã do seu conteúdo bíblico, teológico e histórico de forma cada vez mais acelerada. Consequentemente, o testemunho da Igreja em nossa sociedade tem sofrido terrivelmente pela sua incoerência com os padrões morais, éticos e espirituais da Palavra de Deus. A própria fragmentação da Igreja diante dos olhos do mundo tem servido de péssimo testemunho da nossa falta de união em torno da fé e da vida cristã expostas na Palavra de Deus e na história dos nossos antepassados.
A verdade é que ao longo da História a Igreja sempre teve de lutar contra o avanço de falsas doutrinas e falsos mestres que ameaçaram a unidade e a integridade do seu testemunho. Em todas as gerações a Igreja precisou combater com igual empenho a praga do Cristianismo nominal. Porém, parece-nos que em nossos tempos as ondas que vêm abatendo a confissão e a união da Igreja têm se tornado cada vez maiores, mais volumosas e mais castigantes.
Portanto, é chegada a hora de reconsiderarmos os nossos caminhos. Precisamos redescobrir a verdadeira fé e a verdadeira vida cristã – a única religião verdadeira que Deus, o Pai, aceita como pura e imaculada. Um mero resgate das doutrinas bíblicas e históricas não bastará – por mais importante que elas sejam para a confissão, pro culto e pra conduta da Igreja no mundo. Precisamos resgatar o Cristianismo centrado nas Escrituras Sagradas tanto no teor da sua fé como no rumo da sua conduta neste mundo. Em outras palavras, precisamos resgatar o Cristianismo que seja pautado tanto na verdade como na piedade. Qualquer coisa menos que isso nos colocará no mesmo caminho enganoso da religiosidade farta, iludida e descomprometida dos nosso tempos.
Para isto, o apóstolo Tiago nos serve de grande auxílio. Poucos autores do Novo Testamento falaram de maneira tão pastoral e prática como este líder da Igreja primitiva em Jerusalém. Poucos falaram tão abertamente sobre o engano da religiosidade divorciada da submissão às Escrituras Sagradas. E poucos falaram tão apaixonadamente sobre a necessidade de um Cristianismo crente e praticante, ressaltando o casamento indissolúvel entre fé e obras.
Há muito mais que pode e deve ser dito acerca da religião verdadeira e do Cristianismo autêntico do que Tiago nos diz em sua carta. Porém, como ressaltaram tanto Lutero como Calvino, o verdadeiro Cristianismo não pode ser menos do que Tiago nos descreve aqui. Se quisermos saber qual é a única religião que Deus, o Pai, aceita, não podemos nos esquivar das palavras contundentes, confrontadoras e consoladoras deste apóstolo à Igreja que sofre e paga o preço por viver sua fé em Jesus Cristo, Senhor e Salvador.
Para reflexão:
- Como a nossa sociedade reage à afirmação de que só existe uma única religião verdadeira? Por que isso soa tão estranho e ofensivo à nossa cultura?
- Como a falta de união da Igreja evangélica no Brasil – tanto na sua confissão como na sua conduta perante o mundo – tem repercutido em nossa sociedade?
- Qual é a importância das advertências do apóstolo Tiago quanto ao engano da religião divorciada da Palavra de Deus (Tg 1.16-18, 22-27)? Por que a Igreja precisa voltar a ouvir e submeter-se à Palavra de Deus, tanto na sua confissão, como no seu culto e na sua conduta?
- Qual é o perigo de se resgatar o teor da fé cristã sem uma vida condizente com esta fé (veja Tg 1.22-25; 2.14-26)? Por que o resgate do Cristianismo bíblico e verdadeiro contempla as duas coisas: tanto o resgate do padrão da nossa fé como da nossa vida em Cristo?
1. Nelito Fernandes, “Deus é pop”. Revista Época, 15 de junho de 2009, págs. 60-71.